Estudar uma filosofia política de desenvolvimento
Passei uma boa parte do dia em Lovaina.
A cidade, situada a cerca de 30 quilómetros a Leste de Bruxelas, tem crescido muito na última década, em termos populacionais. Lovaina é hoje, para além da universidade e dos centros de investigação que a ela estão ligados, uma aglomeração com uma economia diversificada. Tem, por exemplo, uma das melhores redes de pesquisa biomédica. É, igualmente, uma atracção turística importante, que tem sabido explorar o património cultural e fazer das actividades ligadas à cultura uma fonte de emprego e de rendimentos. Por outro lado, uma percentagem significativa dos seus habitantes trabalha em Bruxelas ou nos arredores da capital. Não é apenas uma questão de proximidade. Lovaina tem sabido apostar na promoção do bilinguismo – flamengo e francês –, o que é um trunfo vital para se conseguir alguns dos melhores empregos na região. Sem contar, claro, com a fluência de muitos em inglês e de vários em alemão.
Lovaina tem também uma das mais densas redes de radares de controlo de velocidade e de passagem por sinais vermelhos. A disciplina cívica é, aliás, uma das marcas da cidade. É uma aposta política.
Olhar para Portugal a partir de uma cidade com sucesso é inspirador. Lembra-nos o que faz – e como se faz – a riqueza de uma população: através do investimento nas indústrias do conhecimento, na investigação científica ligada às indústrias de ponta, nos serviços de qualidade, no turismo que sabe valorizar o passado e criar manifestações culturais viradas para os gostos do presente, nas línguas estrangeiras e numa cidadania responsável.
O fulano que diz que a solução dos nossos problemas se resume “a deixar de escavar o buraco em que nos encontramos” ganharia em passar uns dias em Lovaina, como estudioso de política. Entenderia, então, uma filosofia política do desenvolvimento que dá frutos. Haverá outras, claro. Mas esta já nos ajuda a pensar em muitas coisas que nos poderiam dar jeito.