O Palito anda a monte desde 17 de Abril, dia em que matou duas mulheres da sua família e feriu outras duas. A zona em que se esconde é uma zona rural, relativamente montanhosa, no norte do distrito de Viseu.
A GNR mobilizou meios excepcionais, mas não o consegue encontrar. Nem vivo nem morto.
Para além dos custos financeiros elevados da operação, há aqui uma questão de credibilidade que está em jogo. Não deveria ser possível a um homem simples como o Palito, por muito bem que conheça o terreno em se move, conseguir fintar a polícia durante tanto tempo. Hoje em dia, há meios, técnicas e conhecimentos mais do que suficientes para impedir que uma situação destas se arraste.
Não é apenas o prestígio da polícia – incluindo da Polícia Judiciária, que está no terreno com a GNR – que fica afectado. É a autoridade do Estado, a começar por quem é responsável pelo Ministério da Administração Interna.
No país mais eficiente que eu gostava de ter isto seria tratado com outra prioridade e com a celeridade necessária.
Tenho que voltar à situação agora criada na PSP. Vista donde eu me situo, a coisa parece grave.
O ministro da Administração Interna e acima dele, o primeiro-ministro, dão-me a impressão que não souberam gerir o incidente das escadarias da Assembleia da República com a necessária serenidade e sabedoria. É verdade que o incidente não deveria ter acontecido. Que, por ter ocorrido, exigia uma resposta clara e forte. Um apuramento das circunstâncias e das responsabilidades, acompanhado por um par de declarações públicas, que confirmassem que o mesmo fora um erro táctico ao nível do comando operacional da PSP, teria sido a resposta proporcional e acertada.
O que me parece exagerado foi o forçar a saída do director nacional. Valente Gomes havia demonstrado ser um dirigente equilibrado, o líder que a Polícia precisava numa altura de grande complexidade e de crise social profunda. Ao exigir a saída do director nacional, o ministro esqueceu-se que este havia constituído uma equipa muito coesa e de grande qualidade. Uma equipa que já havia demonstrado que era de facto uma equipa, capaz de funcionar como tal e com coerência. A saída do chefe implicaria a saída dos outros dirigentes.
E foi isso que aconteceu. De repente, a PSP ficou decapitada, em termos de liderança estratégica, de alguns dos seus melhores profissionais. As implicações serão várias. Mas uma delas é certamente um aumento do mal-estar na instituição, sobretudo ao nível dos seus quadros superiores. Ora, sendo a PSP uma força hierarquizada, o que acontece em cima tem certamente repercussões através dos diferentes escalões de comando.
Temos aqui matéria que convirá manter sob observação.
Entretanto, conviria explicar ao ministro e a outros políticos que o que acontece ao nível táctico deve ser responsabilizado a esse nível e ao nível intermédio, o operacional. Passar imediatamente para a responsabilização ao nível do comando-geral estratégico, como se diz, é um erro de palmatória.
Mas quando falta experiência e capacidade para tratar destas coisas políticas, tomam-se as decisões erradas. E por isso se diz, muitas vezes, que quando a borboleta bate as asas os políticos transformam isso num vendaval.
As notícias sobre a crise na Polícia Judiciária, que deixou de ter os recursos financeiros mínimos para poder funcionar como deve, num Estado de direito, são preocupantes. Penso ser importante que se chama a atenção para isso.
É verdade que as finanças públicas estão nas lonas. No entanto, há certas funções que são primordiais. Um governo eficaz é o que sabe decidir onde devem estar as prioridades. E que sabe, igualmente, explicar as razões das escolhas feitas.
É isso que se espera. Reconhecendo que a segurança interna é uma questão fundamental nos tempos violentos que correm.