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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Macron está a jogar mal

Emmanuel Macron anda há dias a tentar falar ao telefone com Vladimir Putin. Sem êxito. Entretanto, Olaf Scholz discutiu durante mais de uma hora com Putin, há dois ou três dias. Macron não deve ter ficado contente. Mas insiste em tentar falar com o patrão do Kremlin. Por isso, ontem, numa entrevista rádio, defendeu posições muito próximas das repetidamente expressas por Putin. Penso que estava a tentar chegar ao Kremlin com falinhas doces. Mas não o deve conseguir, Putin sabe que Macron não tem o apoio dos países do Leste e da Ucrânia e que essas posições nunca serão aceites por esses países, nem mesmo pelos EUA. Por isso, não vale a pena pegar no telefone e responder à chamada proveniente de Paris.

A teoria e a realidade

Um editorial do diário Le Monde apelava, no início da semana, para que a União Europeia se mostrasse “solidária, firme, realista e humanitária”. O tema do editorial tinha que ver com a situação que existe na fronteira terrestre entre a Grécia e a Turquia.

As palavras escritas soavam bem. Todavia, em termos reais, eram vagas e contraditórias. Como tantas vezes acontece, foram produzidas para esconder as imensas contradições que existem ao nível da realidade no terreno e, ao mesmo tempo, para dar a impressão que os valores da moral e do humanismo não estão postos de parte.

No fundo, é mera conversa de intelectuais, que nada acrescenta à solução do problema concreto. É frequente ver-se muita parra e pouca uva. Esse era apenas um exemplo mais.  

Entretanto, quem tem que tomar decisões e fazê-las aplicar decidiu mobilizar meios adicionais de polícia e de controlo fronteiriço para a zona em causa. A isso, juntar-se-á uma deslocação a Ancara do Presidente Macron e da Chanceler Merkel na próxima semana. Perante isso, fica a pergunta de essa iniciativa de ambos está ou não a ser coordenada com os dirigentes das instituições europeias.

 

Sobre o Irão

O Irão: que estratégia?

Victor Ângelo

 

 

Os ataques recentes, com drones e mísseis, contra as instalações petrolíferas sauditas continuam a ser uma das grandes preocupações internacionais. Sobretudo agora, quando os líderes da maioria dos países membros da ONU convergem para Nova Iorque, para participar na abertura da Assembleia Geral deste ano. A gravidade do que aconteceu e o impacto que esses actos de guerra possam ter, no despoletar das tensões à volta do Irão e da região, não podem ser ignorados.

Para além de muitas outras, nomeadamente sobre a eficácia dos sistemas de defesa da Arábia Saudita – um país que, em 2018, gastou 70 mil milhões de dólares americanos na compra de novos armamentos – há uma grande questão, que tem ocupado os mais diversos analistas. Trata-se de tentar perceber o que está por detrás desses actos, ou seja, qual é a jogada estratégica que o Irão está a seguir. Esta pergunta assenta no pressuposto, como é óbvio, que os dirigentes iranianos estarão na origem do que aconteceu. É uma hipótese plausível, se se tiver em conta o nível de complexidade técnica que os ataques exigiram e se se proceder a uma reflexão sobre os países e actores político-militares que, na região, podem dispor desse tipo de sofisticação.

A verdade é que o Irão e os rebeldes Houthis, no Iémen, estão em sintonia e coordenam as suas intervenções, incluindo as iniciativas diplomáticas. Por isso, de imediato, após os ataques, o porta-voz dos Houthis veio à praça pública para os reivindicar. A pressa poderá ter várias justificações, mas uma delas será certamente a de introduzir confusão no debate sobre a autoria do que acabara de acontecer. Essa é uma velha receita, muito usada pelo Irão e por outros, no Médio Oriente.

Agora, neste início de semana, quer o Irão quer a liderança rebelde no Iémen falam da possibilidade de um arrefecimento das hostilidades com a Arábia Saudita e, mesmo, de propostas de alguma forma de conversações. Ao mesmo tempo, Teerão organiza paradas militares e demonstrações públicas de força armada, tudo acompanhado por uma retórica ultra-patrótica e guerreira. A mão direita oferece diplomacia e a esquerda cerra o punho.

Os dirigentes iranianos pensam que estão numa posição de força. Os ataques contra as instalações sauditas vieram reforçar essa convicção, ou seja, que o Irão pode danificar infra-estruturas vitais num país fortemente armado. Mais ainda, que consegue atacar um país que é um aliado íntimo e protegido pelos Estados Unidos. Os clérigos que mandam em Teerão querem assim mostrar uma capacidade militar de ponta. E que, por isso, é melhor negociar com eles do que pensar em retaliações militares, que levariam à guerra e provocariam caos e miséria em toda a região e teriam efeitos profundos sobre a estabilidade da economia internacional. É essa a mensagem que pensam ter enviado aos vizinhos e sobretudo a Washington.

Essa lógica tem um ponto fraco, que é o relativo isolamento do país na cena internacional. O Irão tem poucos amigos. Os Europeus, a começar pelo Presidente Emmanuel Macron, nada conseguem fazer. Estão reféns da política definida em Washington. Outros países, preferem manter-se afastados do conflito, pois não querem abrir novas frentes de desacordo com os Estados Unidos. De qualquer modo, se tivessem que escolher entre Riade e Teerão, apostariam de preferência no primeiro. E, para completar as dificuldades internacionais do Irão, existem agora as sanções americanas, que são extremamente restritivas, quer do ponto de vista comercial quer financeiro – o país está sem acesso ao sistema bancário internacional, não pode pagar nem receber. As sanções acabarão por arruinar a economia do Irão, criar imensas dificuldades ao quotidiano dos cidadãos e expandir o clima de oposição ao poder dos aiatolas.

Na minha opinião, a única escolha possível é a do diálogo construtivo. Há que fazer renascer a esperança que surgira durante a reunião do G7 em Biarritz. Ataques e demonstrações de força, venham donde vierem, são e continuarão a ser um erro que pode ter consequências catastróficas. Nessa linha, vejo o ataque contra as instalações sauditas como um erro de cálculo muito grave. Pode ser uma vitória táctica mas, em termos de estratégia, abre a porta ao desastre.

(Texto que publiquei no Diário de Notícias on line)

 

A nova ordem política europeia

Temos estado a assistir, em vários países da União Europeia, a uma fragmentação da cena partidária. Os eleitores dividem o seu apoio por toda uma série de facções políticas. Por exemplo, na Holanda o maior partido tem 14% dos votos. Em Espanha, o partido mais votado nas últimas eleições gerais, o PSOE, ficou-se nos 28,7%. Em França, o movimento que apoia Emmanuel Macron faz frente a uma série de pequenos partidos, à excepção da formação de Marine Le Pen, que consegue cerca de 22% dos votos. Na Alemanha, as sondagens mostram um reequilíbrio político, com os votos a serem distribuídos por várias famílias políticas. Idem, na Dinamarca e noutras terras da UE.

A fragmentação também chegou ao Parlamento Europeu.

De um modo geral, a fragmentação faz-se à custa dos partidos tradicionais, do centro-direita, de inspiração democrata-cristã, ou, então, da social-democracia e do socialismo moderado.

O corolário da fragmentação é a coligação. Vários governos assentam hoje em coligações de partidos, algumas delas bem complexas, como é o caso belga. Sem coligação não haveria um governo viável. E as coligações nem sempre unem movimentos políticos próximos, da mesma área ideológica. Exigem, em alguns casos, uma ginástica política inabitual.

Aqui surge uma outra dimensão da vida política europeia de agora, a indefinição ideológica. A análise das ideologias dos partidos está a complicar-se. O velho esquema esquerda-direita já não funciona com a simplicidade de outrora. Certos partidos têm, ao mesmo tempo, propostas de direita e de esquerda, numa amálgama que mistura populismo com nacionalismo, reivindicações progressistas com conservadorismo, liberalismo com o reforço do Estado social, ambiente com radicalismos.

Precisamos de novos prismas de análise. Também, de compreender que a política de hoje já pouco ou nada tem que ver com a que se praticava nos anos oitenta ou noventa do século passado. Estamos num cenário muito diferente, com outros enredos.

 

 

Macron precisa de aliados

Cerca de 55% dos franceses considera que a mensagem do Presidente Emmanuel Macron sobre o futuro da União Europeia se justifica e importa. Este apoio é significativo, sobretudo na fase actual em que se encontra a França, quando a fragmentação e a hostilidade são os principais traços da paisagem política.

Uma das razões por detrás deste nível de aprovação assenta na visão idealista do papel da França na Europa. Muitos, nacionalistas e não só, querem que a França seja o motor do projecto europeu, o país que deve puxar a UE para a frente. A iniciativa do Presidente alimenta esse tipo de ambição. Uma ambição que outros apelidariam de ilusão, também é verdade.

De qualquer modo, vontade, capacidade, empenho ou quimera, o problema é o de encontrar aliados noutras nações europeias. Esse é o grande desafio que o plano de Emmanuel Macron tem pela frente. É uma dificuldade de monta. Sem a resolver – e eu não vejo, neste momento, saída para essa questão –, as ideias europeias de Macron não terão um impacto verdadeiramente transformador. Poderão mesmo ficar num canto da história dos próximos anos.

Em política, nada se faz sozinho. E, no caso da construção europeia, isso é ainda mais verdade.   

 

 

A mensagem de Emmanuel Macron

A mensagem – sim, penso que mensagem é a palavra que melhor descreve aquilo que outros chamaram de tribuna ou declaração – que o Presidente Emmanuel Macron agora enviou aos europeus é para ler com atenção. O que escreveu, desta vez lê-se bem, vai directo ao assunto e apresenta propostas concretas.

Porém, não gosto do título. Renascença? Parece-me um pouco exagerado. A União Europeia não está moribunda, não tem estado parada. Poderá justificar-se falar de um novo empenho, de um plano para a nova década, de uma união que se consolida. Mas, não me parece ser necessário renascer. Nem das cinzas, nem do pessimismo.

Há, isso sim, que ser claro quanto aos desafios que estão à nossa frente, mostrar as cartas e propor as respostas, falar da cidadania europeia. Tudo pela positiva.

Sublinhar o pessimismo, dar crédito aos derrotistas, dramatizar, falar de crise quando há ideias e projectos, são maneiras erradas de encarar o futuro. Não aconselho.

 

A França e a Alemanha em Aix-la-Chapelle

Emmanuel Macron e Angela Merkel assinaram hoje um novo tratado de cooperação entre os seus dois países. A cerimónia teve lugar em Aix-la-Chapelle, na Alemanha, muito perto da fronteira com a Bélgica. Trata-se de uma cidade que significa imenso, na história das relações franco-alemãs. Uma cidade simbólica, que serve de última morada ao Imperador Carlos Magno (742-814), um líder que, no seu tempo, tinha uma visão unificadora da Europa.

Sugiro que se faça uma leitura positiva do que agora foi assinado. Ambos os dirigentes querem que os seus países contribuam mais efectivamente para a construção europeia, nas áreas da política, da economia e em matérias de defesa. Estão preocupados com os ataques contra a União Europeia que vários governantes e sectores populistas têm desencadeado. E que planeiam aprofundar, tendo em vista as eleições europeias de Maio de 2019.

Mas o acordo não se limita ao curto prazo. Nem se limita aos interesses da França e da Alemanha. Os outros países da UE também ganham se houver um maior entendimento entre dois dos grandes Estados da União. Que estão, aliás, no centro da geografia e da política comum. E são as duas maiores economias do espaço europeu.

É esse impacto mais geral que deve ser sublinhado.

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