O acidente que ocorreu na A6, com o carro oficial do ministro, não é assunto arrumado. Tem de ser tratado pelo chefe do governo de modo responsável. Não há nada a esperar do ministro. Mas do seu superior, sim. Não pode ignorar as dimensões humanas e políticas do que aconteceu. A família da vítima precisa de apoio. E do ponto de vista político, a inacção governativa acabará por ter um custo. O primeiro-ministro deve entender isso, imagino. Mas tem de agir, de aparecer.
O mesmo se deve dizer do Presidente da República. Essa personalidade tem apostado imenso na dimensão popular e humanista de sua função. Não pode agora ficar calado, para proteger um ministro que não vale grande coisa. Ou, para poupar um primeiro-ministro que tarda e que encobre os seus fiéis servidores. O PR tem de mostrar que não tem medo de uma situação como esta. E que não anda a disfarçar, para que não haja a confrontação que a muitos parece inevitável.
Estamos numa espécie de pântano político. Este sim, perigoso, capaz de fazer surgir um ou outro monstro político, que saiba aproveitar-se das águas turvas.
A A6, a autoestrada que vai da zona do Montijo em direcção a Évora e à fronteira com Badajoz, tem pouco movimento. Mais ainda, os veículos pesados são raros. Preferem encher a Nacional 4, que segue a autoestrada, para não ter que pagar o elevadíssimo custo da portagem até Caia-Elvas. Assim, alguns motoristas dos carros ligeiros usam e abusam do excesso de velocidade quando circulam pela A6. Quem viaja a 130 km/hora já está fora do limite. Mas é constantemente ultrapassado por veículos a circular acima dos 150 ou mesmo dos 160. Os controlos de velocidade são raros. A GNR concentra-se sobretudo no trânsito que percorre a N4.
Foi nessa autoestrada que o carro do ministro da Administração Interna matou um operário que trabalhava na berma da via. O inquérito de que se fala e que foi prometido deverá elucidar-nos sobre a velocidade a que ia essa viatura oficial. Esse é um dado fundamental. Houve morte de homem, um homicídio involuntário. Há que apurar as causas e as responsabilidades de cada um.
Veremos se a GNR consegue produzir um relatório que se veja.
O Ministro da Administração Interna deveria mostrar um pouco mais de iniciativa. E menos medo político.
Cabe-lhe explicar, de modo claro e sem qualquer timidez política, que a Polícia de Segurança Pública é uma instituição fundamental da ordem democrática portuguesa e que tem investido imenso, nos últimos 30 e mais anos, na formação dos seus oficiais e agentes. Poderá, num caso ou outro, haver deslizes e comportamentos inaceitáveis. Mas, no seu conjunto, é uma instituição que deve ser respeitada. Faz um trabalho comparável ao que de bom se faz na Europa. O seu papel é fundamental para o bom funcionamento da sociedade portuguesa.
E é esse papel que o seu pessoal procura desempenhar dia e noite.
Nada sei sobre incêndios nem sobre proteção civil.
Mas, nas minhas múltiplas andanças, vi umas coisas que têm que ver com os comportamentos expectáveis de certas categorias populacionais. Por isso, penso houve aqui um comportamento colectivo, típico de situações como as que existiram durante o fim-de-semana. Cerca de 700 fogos em zonas de pequena propriedade rural – e mais um número significativo de incêndios na Galiza, num contexto de economia agrária semelhante – levam-me a suspeitar que a maioria destes fogos poderá estar ligada a práticas agrícolas do passado e que ainda perduram.
Alguns dos casos terão mão criminosa, gente que quis acrescentar lume e achas para o espectáculo de um pobre país em chamas. Mas muitos terão que ver com as chuvas que se anunciavam para os dias da semana entrante. Os pequenos agricultores sabiam que vinha aí a muito ansiada água e que seria então a altura de preparar as terras para as culturas outonais. Quantos não terão procedido a queimadas que depois deram em tragédia?
A queimada sempre foi uma técnica agrícola de pobre. Sempre se fez na véspera das chuvas. Será uma tradição inapropriada, sem dúvida. Mas quem somos nós para o dizer a quem procura sobreviver numa economia rural de pobreza?
Neste dia em que um camião foi atacado e levado para parte incerta por cinco homens armados na auto-estrada do Norte – a A1 – a poucos quilómetros do Porto, volto a dizer que a violência contra as pessoas e a propriedade são um problema muito sério, no Portugal de agora. Basta comparar as notícias diárias sobre incidentes graves de insegurança, espalhadas nos mais diversos órgãos de comunicação social, com as publicadas na Bélgica, um país com uma dimensão semelhante à nossa, para se ver que temos um problema bem significativo. E que se tem agravado nos últimos anos.
É, além disso, um problema que os políticos da governação procuram esconder. A narrativa que lhes interessa é a de um país seguro. Uma vez mais o discurso público tem como objectivo escamotear a falta de capacidade política para resolver um problema que afecta muitos, em particular os mais pobres, os mais idosos e as mulheres. E que poderia ser resolvido, se houvesse coragem política, competência e preocupação de verdade com o bem-estar dos cidadãos.
No dia em que a GNR celebra os seus 104 anos de existência, é importante escrever a palavra reconhecimento. Na verdade, essa força de polícia merece uma apreciação positiva e um agradecimento, por parte de todos nós.
Também me parece importante voltar a afirmar que o poder político, à direita e à esquerda, continua sem ter a coragem necessária para pedir à GNR e à PSP que, em conjunto, apresentem uma proposta de reforma da maneira como se deve reorganizar, de modo mais eficaz e coordenado, a manutenção da ordem pública e a segurança dos cidadãos, no país moderno que Portugal pretende ser.
Independentemente das opções políticas e das preferências partidárias, parece-me positivo que uma mulher com reconhecido mérito profissional tenha sido empossada como ministra da Administração Interna.
A experiência mostra que a melhor maneira de fazer avançar a agenda da igualdade entre os homens e as mulheres passa pela nomeação de mulheres competentes para cargos de grande responsabilidade política.
E em questões de igualdade do género temos que reconhecer que ainda há muito por fazer, quer em Portugal quer noutros países europeus. A esse título basta ver a mesma página da Presidência da República que reporta a tomada de posse da nova ministra e percorrer as imagens fotográficas de um grupo de senhores que está a promover um projecto sobre o talento português, sob o nome um pouco estranho de “Transforma Talento Portugal”. Só homens…Que isto do que eles entendem como talento é certamente coisa de homens, na cabeça de quem os nomeou e também nas vistas de quem aceitou fazer parte da coisa…
Os polícias que encontramos nas ruas de Lisboa andam fardados com uma camisa azul, de um escuro desbotado, que nos diz ser de tecido de má qualidade. Ficam com um aspecto de polícia pobre, que é de facto o que são. E para acentuar ainda mais a imagem, uma boa parte, tudo gente muito jovem, passa o tempo de patrulha encostado às paredes da cidade, a falar ao telemóvel. Garbo profissional deve ser um conceito que ficou esquecido nos manuais do passado.
Eu, que tenho todo o respeito pela dedicação dos nossos polícias, fico à espera de mais, que isto da imagem, em matéria de segurança pública, vale muito.
O Palito anda a monte desde 17 de Abril, dia em que matou duas mulheres da sua família e feriu outras duas. A zona em que se esconde é uma zona rural, relativamente montanhosa, no norte do distrito de Viseu.
A GNR mobilizou meios excepcionais, mas não o consegue encontrar. Nem vivo nem morto.
Para além dos custos financeiros elevados da operação, há aqui uma questão de credibilidade que está em jogo. Não deveria ser possível a um homem simples como o Palito, por muito bem que conheça o terreno em se move, conseguir fintar a polícia durante tanto tempo. Hoje em dia, há meios, técnicas e conhecimentos mais do que suficientes para impedir que uma situação destas se arraste.
Não é apenas o prestígio da polícia – incluindo da Polícia Judiciária, que está no terreno com a GNR – que fica afectado. É a autoridade do Estado, a começar por quem é responsável pelo Ministério da Administração Interna.
No país mais eficiente que eu gostava de ter isto seria tratado com outra prioridade e com a celeridade necessária.
Um casal amigo, que mora na zona, dizia-me ontem que a estrada nacional entre a Quinta do Conde e Azeitão mete respeito, a partir das 10:00 horas da noite. Parar nos sinais, por exemplo, faz-se com o coração na boca. Ser seguido de perto por um outro carro é uma ansiedade. Existe medo, na estrada, medo dos assaltos e do carjacking.
Há dois ou três anos atrás não era assim. Agora é. E é tema de conversa, quando as pessoas se encontram. Pena que o ministro da Administração Interna não faça parte dos serões destas pessoas, onde estes medos são partilhados.