Um debate eleitoral recente, transmitido em directo pela televisão, surpreendeu-me. No final, ainda perante as câmaras, os políticos, líderes dos quatro maiores partidos, trocaram presentes entre si, coisas muito simples, como uma gravata ou flores, e terminaram a discussão num ambiente de camaradagem. Mesmo depois de umas trocas acesas, muito estava em jogo, que votar num deles ou no seu partido significava tirar votos aos outros. Foi na Bélgica, nas vésperas das eleições parlamentares que há pouco tiveram lugar.
Pensei nisso ontem à noite, ao ver a fúria do candidato Manuel. Discursava Alegre num jantar de apoiantes, tudo gente muito bem instalada e com pouco entusiasmo, sem falar da mandatária nacional, que ali estava a fazer figura de corpo presente, ocupadissima com o envio de mensagens por telefone. O discurso saiu mal, pois mais não foi do que uma série de frases de ataque ao actual Presidente da República, só bílis e slogans, nada subtil, parecia ter sido escrito por um miúdo radical, sem propostas nem serenidade.
É evidente que Alegre precisa de mudar de conselheiros de campanha. A continuar assim, faltar-lhe-á a atitude de estado que um candidato com as suas hipóteses deveria cultivar.
A entrevista que dera recentemente à RTP fora bem melhor.
O artigo de Mário Soares, no DN de hoje, vem acrescentar mais confusão. As razões ou motivações ficaram por esclarecer. Mas o impacto, ao fragilizar ainda mais o Secretário-geral do PS, é grande.
Entretanto, o candidato ainda não disse uma palavra de agradecimento pelo apoio, mesmo se pouco entusiástico, que o PS lhe trouxe.
Vivemos num país que parece andar fora-de-jogo. Se assim continuarmos, não iremos longe. Nem no campeonato do mundo nem na resposta à crise.
Um que parece completamente fora das marcas é o Secretário de Estado do Emprego. O homem disse, no dia em que as estatísticas europeias afirmaram que o desemprego em Portugal continuava a aumentar, que os dados do governo mostram uma diminuição do número de desempregados. Sem mais, que dar conteúdo às frases feitas não está nos hábitos.
E a Ministra da Educação não quis ficar para trás. Meteu mesmo a mão à bola, a pedir uma grande penalidade, ao anunciar que uma centenas de escolas irão fechar num futuro breve. Em política, timing é um factor chave. A senhora escolheu o pior timing, a altura errada, ao acrescentar mais esta acha para a fogueira da inquietação nacional. Como se a agitação social precisasse de mais combustível.
Com jogadores assim , mesmo que o árbitro finja que não vê, o público assobia. Forte e feio.
A decisão da Comissão Nacional do Partido Socialista de apoiar a candidatura de Manuel Alegre deu a impressão de ter sido uma mera formalidade. Não houve entusiasmo que se visse. Nem o colorido e o ruído animado que uma ocasião dessas faria esperar. Foi apenas o despachar de um assunto que estava pendente há algum tempo e que precisava de ser evacuado.
O que passa à Esquerda está a suscitar um renascer de interesse pela política. É interessante ver que muitas pessoas de boa vontade precisam de uma nova esperança na área da governação. Uma Esquerda que possa ser alternativa, ou, pelo menos, aliado imprescindível. Mais próxima das pessoas, mais dialogante, mais atenta aos problemas de cada dia que é preciso viver.
Há uma nova dinâmica. Será para durar? Ou é apenas uma convergência de circunstâncias?