Marrocos investe imenso em questões de espionagem, contraespionagem e serviços secretos. Tem agentes infiltrados em vários países e instituições. Bruxelas e as agências europeias são um dos alvos preferidos.
Soube-se agora que os mesmos indivíduos que no Parlamento Europeu trabalhavam clandestinamente a favor de Qatar também o faziam para Marrocos. Um dos objectivos era conseguir que a UE proporcionasse um tratamento favorável aos interesses marroquinos, em várias áreas, da pesca ao comércio, passando pela apreciação positiva da prática dos direitos humanos em Marrocos. E que não reconhecesse qualquer tipo de contacto ou de actividade que tivesse de ver com a Saara Ocidental.
O comportamento político de Alexander Lukashenko em relação à Polónia e ao resto da União Europeia é um acto de grande hostilidade. Na realidade, é uma agressão e uma tentativa descarada de desestabilizar a UE, utilizando a miséria de certos povos como arma de ataque. Tem, igualmente, uma dimensão de desumanidade inqualificável. Milhares de pessoas são atraídas, no Iraque e noutros sítios do Médio Oriente, a sua viagem para Minsk facilitada e depois são encaminhadas para a fronteira com a Polónia, onde as espera o frio, a fome e o desespero.
Este tipo de violência política e humana não pode ser tolerado. É um acto de guerra, casus belli, ao qual se deve responder com todo o arsenal de sanções existente na União Europeia. Sem demoras e visando directamente Lukashenko e os seus.
Marrocos e a Turquia estão a estudar o comportamento que será adoptado pela UE. Estes países têm tido comportamentos semelhantes aos praticados agora pela Bielorrússia, embora com mais moderação no caso de Marrocos. Precisam de receber uma mensagem clara da Europa: actos assim, o empurrar milhares de migrantes para as fronteiras europeias, acarretam respostas de muito peso. São acções praticadas por Estados inimigos.
Ao organizar o movimento de milhares de pessoas, incluindo um grande número de crianças, em direcção a Ceuta, Marrocos cometeu um acto hostil contra Espanha e a União Europeia. Utilizou a miséria para tentar fazer pressão política sobre Madrid.
Convém que fique claro que esse tipo de decisões é inaceitável. E que tem consequências no que respeita ao relacionamento da União Europeia com o governo de Rabat. Nestas coisas é importante mostrar firmeza.
Entretanto, quem sofre são as pessoas, homens, mulheres e crianças, que são assim manipuladas por quem manda em Marrocos.
Os oito imigrantes ilegais que desembarcaram no Algarve, vindos de Marrocos, segundo se diz, devem ser interrogados com muita atenção e perícia. O caso pode ter mais ramificações do que possa parecer. É, de qualquer modo, uma situação que não se pode explicar pela simples travessia do mar. Nas condições em que dizem tê-lo feito, a história não parece credível.
E, em princípio, devem ser deportados sem demoras, a não ser que existam razões legítimas, que justifiquem um outro tipo de tratamento.
Esta é uma frente de intervenção em matéria de segurança interna que exige cuidados especiais.
Na discussão de hoje, ficou bem claro que Marrocos está igualmente a viver um processo de radicalização religiosa. A política e a vida em sociedade estão cada vez mais influenciadas pelas ideias retrógradas de quem interpreta o islão de uma maneira fundamentalista e absurdamente redutora. Para complicar a coisa, o monarca fez recentemente um discurso antiocidental, durante uma visita aos países do Golfo. Para muitos, o discurso não constituiu uma surpresa. Deu seguimento a outras declarações feitas nos últimos tempos. O que surpreendeu foi a clareza do ataque. Mas mesmo isso deve ser visto como a confirmação da viragem em direção aos países mais ricos e mais conservadores do Médio Oriente.
Escrevo na minha coluna de hoje, na Visão, sobre a Primavera Árabe, com um foco muito especial no Norte de África. Escrevo para defender duas ou três teses e combater o pessimismo e a ausência de uma visão estratégica.
Defendo que a prioridade política é, para todos, incluindo no que diz respeito à cooperação da comunidade internacional, consolidar a democracia. Isto passa pelo combate aos extremismos, embora reconheça a identidade cultural específica dos países da região e o peso relativo da religião na vida pública.
Quanto à economia, avanço a ideia que é preciso fomentar a integração económica no Norte de África. Esta será a via mais rápida para o crescimento, o bem-estar e a estabilidade dos países em causa. Defendo o estabelecimento de um mercado comum no Norte de África.
A região vai conhecer altos e baixos. Os desafios são imensos. Mas poderá ultrapassar muitas das dificuldades que existem, se mantiver uma política de respeito pelos direitos humanos e procurar incentivar um crescimento económico equilibrado.
Sei que muitos leitores pensarão que sou demasiado optimista. Talvez não seja bem assim...
Passei uma boa parte do dia a rever a situação no Norte de África.
Uma das conclusões é que Portugal deveria investir mais no seu relacionamento político e económico com Marrocos e a Argélia. Uma boa parte do futuro da região passa por esses dois países e, também, pela cooperação entre eles. Portugal poderia servir como uma plataforma na aproximação entre esses dois estados vizinhos, mas relativamente antagónicos, bem como uma ponte na triangulação dessas economias com o espaço europeu.
Este seria um bom exemplo de uma diplomacia económica mais estratégica.