Temos actualmente muitos dos ingredientes que combinados podem levar a crises profundas, quer ao nível nacional quer internacional. Ainda não saímos da pandemia da Covid-19. Os desafios em termos de saúde pública são enormes. Temos a guerra na Ucrânia, devido à agressão russa. Vários países estão a enfrentar uma situação de insegurança alimentar. Outros, vêem os preços dos alimentos e de outros produtos essenciais aumentar desenfreadamente. As cadeias de abastecimento e de circulação dos componentes industriais têm rupturas frequentes. Muitos países, incluindo a quase totalidade dos países desenvolvidos, estão endividados de modo insustentável, o que põe em causa o futuro das próximas gerações. Os preços dos produtos energéticos estão a torná-los inabordáveis para toda uma série de países.
Os Estados Unidos e a China estão numa fase de recuperação económica acelerada. No caso americano, essa recuperação deve-se às quantidades gigantescas de capitais públicos que têm sido postos à disposição dos cidadãos e da economia. Quanto à China, para além da intervenção do estado, a recuperação está ligada ao dinamismo do seu tecido económico, à vastidão do mercado interno, tudo isso num contexto de controlo da pandemia, algo que aconteceu atempadamente.
Em ambos os casos, estamos a assistir a uma procura muito acima do normal de matérias-primas e de meios de transporte, sobretudo de contentores para o transporte marítimo. Tudo isto provoca um aumento dos preços, quer dos bens necessários à produção quer dos transportes. Provoca igualmente uma escassez de certos bens, no que respeita ao acesso por parte de outras economias mais pequenas e menos poderosas.
Estamos, por isso, a assistir a um processo inflacionista que irá continuar em aceleração. Economias como a nossa irão sentir claramente o aumento dos custos de produção e as maiores dificuldades de acesso aos mercados de bens primários.