O Senhor Presidente revelou hoje que está "...preocupado e até um pouco triste com a situação que o país atravessa". A ver como estão as coisas, não será caso para menos, acrescentaria eu.
Afirmou também que e' necessário "...enfrentar a pobreza, derivada do desemprego, do endividamento excessivo e do enfraquecimento familiar". De facto, a pobreza tem muito que ver com a perca de emprego, que se está a acentuar, e com o insustentável endividamento das famílias, que em certa medida está relacionado com a prática generalizada de baixos salários. O "enfraquecimento familiar" , também conhecido por "uma alta taxa de divórcios", e' um fenómeno do mundo ocidental de hoje. Nem mais nem menos português, acontece por toda a parte.
Falta aqui acrescentar que a pobreza em Portugal resulta igualmente das desigualdades sociais, de um Estado que não consegue puxar as pessoas para cima, que não faz funcionar o sistema de educação e de preparação profissional como deve ser. Ora, a educação e' a principal alavanca para tirar os cidadãos, sobretudo os mais jovens, da pobreza.
Penso que se deve evitar uma atitude cínica quando se trata de avaliar a vida política nacional.
O cinismo e' uma maneira de ver que não e' construtiva. Que tende a reduzir tudo e todos 'a mesma bitola, ao eles-são-todos-iguais, ignorando que há, apesar de tudo, gente que esta' pronta a dedicar-se de corpo e alma 'a causa pública, 'a procura do bem comum, 'a construção de um Portugal melhor. Que se preocupa de modo desinteressado e sério com a transformação da nossa sociedade. Uma sociedade que continua a ser subdesenvolvida e injusta, ineficiente e burocratizada.
Poderão não ser muitos. Poderão mesmo não estar em lugares de direcção e de influência. Mas existem, e representam a esperança para que se possa sair das areias movediças e enlameadas em que nos encontramos. Temos que acreditar que e' possível mudar de modo radical a má-sorte que define os dias de agora.
E' verdade que e' fácil cair na tentação do cinismo. Sobretudo quando certos dirigentes políticos actuam e se mostram de uma maneira que a população entende como muito pouco ética. Gente de autoridade que exerce o poder para proveito próprio, num agir meramente oportunista e nada mais. Ou quando os senhores da vida pública pensam que estão acima dos outros, de nós, os simples mortais.
Na política, na vida e no reino dos blogs, o que mais falta faz é a virtude da paciência, as vistas largas, a perspectiva do longo prazo. Há que sair da preocupação do imediato e ver cada questão num horizonte mais amplo.
Fácil de dizer, mas muito difícil de aplicar quando a maioria das pessoas tem apenas o prédio da frente como perspectiva e os políticos estão na coisa pública a prazo limitado, a ver se ganham o seu.