A gravíssima crise internacional nas áreas da saúde pública e da economia teve hoje uma expansão significativa, acompanhada pela introdução de novos factores negativos e de grande impacto. De entre eles, sublinho as perdas vastíssimas nas áreas financeiras, com um impacto enorme nos fundos de pensões e na capitalização das empresas, a concorrência para o abismo no que respeita aos produtores de petróleo e o agravamento da situação político-militar no Afeganistão. Sublinharia igualmente as tensões entre a Turquia e os seus vizinhos, incluindo os vizinhos europeus.
Estamos agora numa situação de grande complexidade. As variáveis são muitas e o nível de incerteza é bastante alto. Isso explica o pânico que existe em certos círculos. E exige muita clareza e uma grande dose de serenidade por parte de quem tem o poder. É um desafio de liderança, a todos os níveis, como não há memória nos últimos setenta e cinco anos.
O vírus Covid-19 voltou a ocupar todas as primeiras páginas, nos mais diversos cantos do mundo. É a globalização da ameaça. O recordar que estas e muitas outras coisas não têm fronteiras, no mundo de agora. Mas não é apenas a questão de saúde pública que está em foco. Uma boa parte das atenções esteve centrada nos efeitos económicos da epidemia. São muito significativos, têm uma grande amplitude, acarretam prejuízos de enorme envergadura. Todavia, ainda não são devastadores. Mas esse risco existe. O que se espera é que não se materialize. Neste momento, ninguém sabe se isso acontecerá ou não. A verdade, para já, é que a epidemia tem custos económicos muito superiores ao impacto em termos de saúde pública. E por detrás dos custos económicos existem pessoas, empregos, encargos financeiros, vidas.
"Visto com os nossos olhos europeus, 2015 termina mal. Até as bolsas têm andado às aranhas. Tivemos a crise grega, que dominou uma boa parte do ano e que agora nos parece algo de muito longínquo, mas que na verdade ainda está por resolver. Assistimos à expansão dos ultranacionalismos e dos extremismos, de forças retrógradas que remam contra a maré do progresso. Complicou-se o relacionamento com David Cameron, que nos trouxe novas ameaças à continuação da UE. E encontramo-nos sem uma solução comum para dois grandes desafios: a imigração massiva, por motivos de refúgio ou económicos, e o terrorismo. Continuamos, aliás, a apostar em receitas estritamente nacionais, para problemas que terão um impacto sobre o futuro de todos os europeus."
(Paragráfo extraído do meu texto de hoje na Visão on line com o título de " Um ano à toa" )
A Grécia vai a eleições gerais dentro de umas semanas, porque o parlamento não conseguiu eleger o novo presidente da República.
O centro da Europa e os mercados receberam a notícia com serenidade, talvez mesmo com uma certa dose de indiferença. A Grécia é hoje vista como um caso nas margens da política europeia, sem peso político nem económico. O risco de um impasse governativo é tido, por isso, como uma questão grega e não como um problema europeu.
A possível vitória de Syriza, a coligação de extrema-esquerda que se apresenta aos eleitores como sendo contra a austeridade, deixou de fazer medo. Por várias razões. Primeiro, porque Syriza não deverá ter o número de votos suficientes para constituir governo. Segundo, porque permitiria mostrar que o núcleo duro da UE não faz concessões a partidos que saiam fora do quadro institucional estabelecido. Ou seja, Syriza seria utilizada para mandar uma mensagem forte a outros, como o movimento Podemos em Espanha. Terceiro, porque seria uma oportunidade para clarificar as relações com a Grécia e o lugar desse país no quadro europeu.
A posição que prevalece é clara: aos gregos o que é dos gregos. Se querem ir a eleições, pois bem, que o façam. Se pretendem criar uma situação de ingovernabilidade, que assim seja. Se desejam suspender o programa com a tróica, que mais se pode fazer senão aceitar?
Este é o espírito que prevalece actualmente nos círculos de poder na Europa. Parece-me importante tê-lo em conta.
Esta foi uma segunda-feira a meio vapor. As instituições europeias estão em serviço mínimo, os deputados regressaram aos seus países de origem, assim como todos os que à sua volta trabalham, os agentes dos lobbies – pelo menos 15 000 aqui em Bruxelas – arrumaram os cartões de crédito que servem para pagar os chamados “almoços de trabalho”, enfim, até a guerra parece ter fechado, numas tréguas natalícias que ninguém declarou. Do lado dos mercados, as transacções ficaram-se pela casa dos 45% do que é habitual, num dia que não seja perto do Natal.
O México emitiu esta semana dívida pública a 100 anos. Sim, com um prazo de 100 anos. Ou seja, pediu emprestados mil milhões de libras e durante uma eternidade só terá que pagar a taxa de juro, que neste caso foi fixada em 5,75%. Já havia feito o mesmo com obrigações de Estado em dólares americanos. Com um sucesso idêntico.
Aqui está uma maneira hábil de financiar o Estado, com base nos mercados internacionais, sem onerar em demasiado as finanças públicas. É uma espécie de “reestruturação” da dívida, mas que não precisa de dizer o seu nome.