Este blog é 100% a favor da eutanásia, quando praticada ou assistida por profissionais de saúde. Deve ser uma decisão própria ou da pessoa que tenha a responsabilidade legal de uma pessoa incapacitada de decidir. E deve, entre outras dimensões, ter como ponto de partida uma doença grave, incurável, dolorosa ou atentatória da dignidade do paciente e que lhe afecte de modo irreversível as faculdades cognitivas.
A vida é uma questão moral mas essa moralidade não é suficiente para justificar que se mantenha em vida alguém para quem viver significa sofrer de modo insuportável ou ser incapaz de controlar as funções vitais ou de compreender o que significa estar viva.
Nas últimas duas semanas, dois homens conhecidos aqui nesta pequena parte do Alentejo, suicidaram-se por não poderem enfrentar o sofrimento que, em ambos os casos, o cancro da próstata lhes provocava. Não teria sido preferível recorrer à eutanásia?
O acidente com o veículo do ministro Cabrita continua a ser um caso político. Quem diz que é imoral explorar politicamente o que aconteceu esquece-se de várias coisas: da questão da velocidade, que ainda não está esclarecida; do ministro ser responsável pelo cumprimento da lei sobre o excesso de velocidade, cabendo-lhe a ele dizer ao motorista, se assim fosse o caso, para conduzir dentro dos limites; do comunicado que o ministro emitiu, logo a seguir ao acidente, pondo as culpas na vítima, sem qualquer tipo de consideração pelo inquérito que estava em curso; do facto do ministro não ter apresentado pessoalmente as suas condolências à viúva, refugiando-se por detrás da sua chefe de gabinete; da utilização de um veículo que não é propriedade do Estado para conduzir um membro do governo; e da patente falta de entendimento político que o ministro tem mostrado.
Quem hoje disse que falar destas coisas é imoral tem na realidade pouca autoridade moral, como todos sabem.
Não entendo bem como é possível que um funcionário superior de uma organização intergovernamental, um português, é verdade, possa escrever artigos de opinião sobre questões partidárias que fazem parte da actualidade nacional. Há aqui, na minha maneira de ver, baseada na velha escola ética de antigo quadro da função pública internacional, um pisar do risco que só pode ter de ver com a ambição pessoal e os planos de carreira política desse “comentador”. E os media da nossa terrinha ajudam a pisar o risco, sem fazerem qualquer tipo de observação.
No seu discurso de Ano Novo, o Presidente da República quis combater o pessimismo generalizado, a desmotivação reinante neste momento na sociedade, a maledicência, que se transformou numa espécie de passatempo nacional. Pintou, na verdade, um retrato do país que mostra a existência de uma crise moral aguda e de uma perturbação profunda da vida política, que deixou de ter a credibilidade necessária.
Creio que as palavras do Presidente Hollande podem ser igualmente lidas noutros cantos da Europa, incluindo nas terras da beira-Atlântico.
Dizem-me que gente importante, a trabalhar em sítios onde há efectivamente poder, faz chamadas para os jornais que têm influência, com ameaças e insinuações sobre o que poderá vir a acontecer à carreira de certos jornalistas, se eles teimarem em ser independentes. Essas chamadas servem também para contar mentiras sobre outras personalidades públicas, para lançar veneno e tentar abater adversários.
A democracia representativa está em crise. Os políticos aproveitam-se do poder para estabelecer regras que os favorecem. É altura de pensar a sério nas alternativas.
Veja-se, esta noite, quanto recebe de pensão a presidente da Assembleia da República, em resultado de dez anos que passou no Tribunal Constitucional, para onde fora nomeada não por méritos extraordinários, mas por conhecer as pessoas que contavam, na altura, no seio do seu partido.
O comentário, que o Lírio dos Canaviais fez ao meu blog de ontem, tem muita pertinência. Na realidade, como o comentário o diz com muita graça, nós tendemos a ver apenas os problemas dos outros, sendo cegos em relação aos nossos.
Acontece frequentemente, em política internacional. Estamos, enquanto europeus, sempre prontos a falar nos nossos valores, como se fossemos um exemplo de moralidade política.
Lá dizia quem andou a pregar há 2000 anos, que é mais fácil ver o argueiro no olho do vizinho que o barrote...
Na Visão, publico um texto sobre a BP, o derrame de petróleo no Golfo do México, as repercussões políticas, domésticas e externas, desta crise, partilho uma experiência de trabalho com as grandes multinacionais do petróleo, até falo mesmo de futebol...
Este blog não se mete em questões do foro religioso. Nem mesmo numa Sexta-feira santa, em tempos de Páscoa. A religião é vista como uma decisão pessoal. O que conta é a liberdade religiosa, que inclui o direito e o respeito pelos que não têm fé, e a igualdade das religiões perante a lei. O velho princípio de dar a César o que é de César lembra-nos que é fundamental separar a religião da política. Cada coisa na sua esfera.
É verdade que o Vaticano também funciona como um Estado. E como Estado independente, não deve intervir na política interna dos outros Estados. Mesmo se o Vaticano é representado por um dos melhores serviços diplomáticos que conheço, sempre bem informado e com uma grande capacidade analítica. Durante os meus anos de diplomata, tive a oportunidade de ter um número incalculável de discussões com vários Núncios Apostólicos. Fiquei, aliás, amigo pessoal de um deles, que, como eu, tinha uma grande paixão por barcos e pelo mar, além de ser um excelente velejador e um tenista de competição.
Mas não é essa faceta da Igreja que sobressai, para o comum dos mortais que nós somos. Para cada crente, é a parte religiosa que é valorizada, que toma a primazia.
Sem violar a minha regra, penso que a Igreja Católica está, neste momento, a enfrentar um problema muito sério, à volta das questões da pedofilia. A hierarquia deve debruçar-se sobre o assunto e tomar uma posição inequívoca. É preciso definir uma posição oficial e assumir as responsabilidades. Esta não é uma matéria de fé. É uma questão legal e social da maior importância.
De facto, quem pode compreender a votação em larga escala num candidato a presidente de câmara que foi reconhecido como culpado de actos criminosos e condenado, por um tribunal devidamente constituído, a uma pena maior de sete anos?
Será que uma boa parte da população pensa que os valores e os princípios não têm nada que ver com a vida política?