Depois do desfile militar em Moscovo de 9 de Maio, e do que ele pareceu revelar, em termos da situação política interna na Rússia e das hesitações e divisões que poderão existir no interior da classe dirigente do país, chegou o momento de agir com muita inteligência, muita firmeza e pouco ruído. As únicas mensagens que devem ser audíveis são as seguintes: é possível negociar uma retirada pacífica e ordenada das forças russas dos territórios que ocuparam na Ucrânia; os mais altos responsáveis pela agressão devem responder pelos seus actos perante um tribunal internacional; a Ucrânia tem direito a reparações de guerra e à ajuda necessária para a reconstrução do que foi destruído, na base de um plano internacional financiado em boa parte pela Rússia mas também por outras contribuições voluntárias; a NATO e a Rússia estão disponíveis para rever as modalidades da sua cooperação e os princípios da nova era de segurança na Europa; se o processo descrito acima não for aceite por Moscovo, a contra-ofensiva ucraniana será levada a cabo, com a ajuda dos seus aliados e com base no princípio da legítima defesa perante uma agressão exterior.
O desfile militar que hoje teve lugar em Moscovo permite várias conclusões sobre o estado do país e a sua política actual. É um manancial de informação para os analistas políticos e de segurança. Em resumo, mostra que existe uma crise maior do que aquela que se pensava existir.
Esta tarde, numa conversa em directo com a Antena 1, sobre as conversações entre as delegações da Ucrânia e da Rússia, disse que se deve ser optimista mas com muita prudência. Já havia dito o mesmo ontem à noite, na SIC Notícias, depois de ter recebido indicações de que poderia haver algum progresso em Istambul.
O que parece possível, como acordo, tem muitas condições subjacentes. O cessar-fogo, que deve ser a primeira etapa de um verdadeiro processo negocial, ainda está longe de acontecer. E as palavras têm significados diferentes, quando ouvidas em Moscovo ou em Kyiv.
Também referi que a Rússia está sob pressão para que avance para um compromisso. São cinco os factores que contribuem para essa pressão: as operações no terreno; as sanções; a opinião pública internacional; a Assembleia geral da ONU; e a China.
Esta questão pode ser um tema de um texto mais longo, para publicação ou debate na comunicação social.