Falei há pouco com a jornalista Ana Jordão da Antena 1 sobre a situação de conflito no norte da Etiópia, na região de Tigray. Faz agora duas semanas que o governo central entrou em guerra com as autoridades do Tigray e o seu braço armado, a Frente de Libertação do Povo do Tigray. O que está em causa é a autonomia da região. Na verdade, o Tigray foi-se transformando, com o tempo, num quase-estado, em confrontação aberta com o governo nacional. A verdade é que o país está muito fracturado, segundo as etnias que dominam cada uma das 10 regiões. O nacionalismo étnico é o principal desafio político. O que se passa agora no Tigray poderá amanhã acontecer noutras regiões. A Etiópia é um barril de pólvora, com 110 milhões de habitantes, e uma área 12 vezes maior do que a de Portugal.
O primeiro-ministro Abyi Ahmed, que ganhou o prémio Nobel da Paz em 2019, que atenuar as divisões étnicas. Mas, ao escolher a via militar, está a lançar achas para a fogueira.
O Reino Unido sai hoje. Cumpre-se assim o Brexit. E perdemos todos, a União Europeia e o Reino Unido, cada um à sua maneira. Mas a política é assim, as regras democráticas, por muito imperfeitas que possam ser, são para cumprir. E Boris Johnson e os seus ganharam.
Dito isto, acrescento que alguns de nós vemos tudo isto com uma grande preocupação. A vitória de Boris foi a vitória da mentira, do apelo ao nacionalismo primário, do populismo sem-vergonha. Ganhou a insolência, perdeu o bom senso.
Em certa medida, esse tipo de vitória fica-nos como um alerta. Hoje aconteceu no Reino Unido, amanhã poderemos ter um gémeo ou uma irmã de Boris noutros países da Europa. Assim, se há uma grande lição a tirar de tudo isto, do Brexit, de Boris, de Farage, etc, ela é que não se pode dar tréguas aos aldrabões da política.
As primeiras estimativas dos resultados das eleições legislativas espanholas mostram que o país continua fracturado e difícil de governar. As formações de esquerda perderam assentos, embora o Partido Socialista (PSOE) ainda constitua o maior grupo de deputados nas Cortes de Madrid. A direita subiu. Sobretudo, o partido ultra-nacionalista e de extrema-direita VOX. No conjunto, houve quem votasse como sempre o fez, por razões de identificação ideológica, como também houve uma vaga nacionalista, a apostar na direita, sobretudo na mais radical.
Não vai ser fácil construir uma coligação que possa governar. Mas os políticos dos partidos mais institucionais terão que encontrar uma fórmula. Não se pode pensar em novas eleições, como também não é possível ter um governo com uma base política precária, numa altura em que a Espanha atravessa graves problemas políticos internos.
Três semanas de viagem por diferentes partes da China proporcionam um conjunto de lições fascinantes. Uma das mais importantes diz respeito ao futuro da UE.
O desenvolvimento acelerado da China, o potencial do seu comércio externo, a enorme capacidade de investir nas economias de outros países, tudo isso, combinado com os imensos desafios políticos que a China acabará por ocasionar ao nível da cena internacional, mostra que sem unidade e um maior nível de integração económica e política a Europa não conseguirá fazer frente à competição vinda da China. Dito de outro modo, ou optamos por uma visão positiva da UE ou deixaremos os nossos valores e interesses serem postos em causa.
Unidos, podemos tratar da China como um aliado e construir uma parceria equilibrada. Fragmentados, acabaremos esmagados por uma maneira de ver o mundo que não coincide exactamente com a nossa.