"A retórica belicista de Vladimir Putin e dos seus acólitos contra a NATO e a União Europeia tem-se agravado à medida que nos aproximamos da eleição presidencial russa, marcada para 15 a 17 de março."
Assim começa o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
O Chefe de Gabinete do Secretário-geral da NATO disse publicamente que a Ucrânia terá provavelmente de ceder algum território à Rússia para poder ser admitida na NATO. Esta afirmação revela a falta de maturidade política do jovem Chefe. Deveria pedir a demissão, tendo em conta a gravidade das suas palavras. Esta seria também a maneira que Stoltenberg poderia utilizar para salvar a sua reputação, para mostrar que não tem nada a ver com as declarações do seu ajudante principal, que está na posição em que está por ser também ele norueguês. Caso não tome essa medida e deixe passar este erro gravíssimo, eu diria que o Chefe de Gabinete afirmou o que afirmou por ter ouvido essa ideia da boca do seu patrão. Neste caso, seria a posição de Jens Stoltenberg que deveria estar em jogo. E assim, deveria ser convidado a sair.
A evolução dos períodos de guerra teve quatro momentos de viragem radical. A invenção do ferro. A introdução da pólvora. A utilização da energia atómica. E agora, a manipulação da Inteligência Artificial aplicada a todo o tipo de mísseis e outros armamentos. A guerra na Ucrânia tem mostrado a enorme capacidade dos combatentes ucranianos no que respeita à utilização dos robôs e de tudo o que se relaciona com a digitalização das armas e dos instrumentos necessários para garantir a sua legítima defesa. Esta tem sido uma das muitas lições que se tem aprendido graças à engenharia e à capacidade informática das forças armadas da Ucrânia.
Na realidade, temos aprendido mais com os ucranianos do que eles connosco. É verdade que lhes ensinámos a utilizar equipamento que não estava disponível no seu país. Mas foi tudo feito à pressa, porque a nossa capacidade de decidir se sim ou não iríamos disponibilizar esse equipamento é muito lenta. Mas mais importante ainda, nós não estávamos de modo algum preparados para uma guerra como a que os ucranianos têm de enfrentar face aos invasores russos. Nas últimas décadas, os exércitos dos países da NATO aprenderam sobretudo a combater terroristas e insurgentes. Não foram confrontados com exércitos semelhantes ao russo, o que quer dizer que não obtiveram esse tipo de experiência. Os exercícios militares que a NATO tem levado regularmente a cabo não são de modo algum suficientes para ganhar a experiência necessária para enfrentar uma força como a russa. Mais tarde, teremos de pedir aos ucranianos que treinem as forças da NATO.
Assim se intitula o texto que hoje publico no Diário de Notícias.
Cito umas linhas:
"Nesta mesma linha de ideias, uma das conclusões que se deve tirar da cimeira é que a Europa precisa de reequilibrar a Aliança. Os EUA continuam a ser determinantes dentro da NATO. Têm 70% da capacidade militar existente e meios que não estão disponíveis no seio das Forças Armadas europeias. A dependência da Europa em relação aos Estados Unidos, uma dependência com várias facetas, desequilibra a organização."
Uma das conclusões que se deve tirar da cimeira da NATO, que continua amanhã, é que a Europa precisa de reequilibrar a Aliança. É evidente, mesmo sem ser necessário chegar ao termo da cimeira, que a Europa da defesa pesa muito pouco na balança.
Com mais de 70% da capacidade militar existente e com meios que não estão disponíveis no seio das forças armadas europeias em quantidade suficiente, a dependência em relação aos Estados Unidos é enorme. É, na verdade, determinante.
Se no futuro os EUA decidirem retirar-se da NATO, mesmo parcialmente que seja, os europeus ficarão numa situação de grande vulnerabilidade. Por isso, quando se fala da Europa da Defesa não se está a tentar promover uma alternativa à NATO. Estamos, sim, a sublinhar que é fundamental criar um mínimo de condições militares, no interior da Aliança, que permitam continuar a garantir a soberania, a liberdade e os direitos humanos da nossa parte da Europa.
Agora já não é o simples de espírito do Dmitry Medvedev que fala do uso de armas nucleares e da possibilidade de uma III Guerra Mundial. O papel dele, o de abrir essa possibilidade, terminou. Hoje foi o chefe quem falou do assunto. E não estava com um ataque de fantasia ou a tentar meter medo aos medrosos. Falava a sério. O homem que manda no Kremlin receia uma derrota no Leste da Ucrânia. E, por isso, fala da possibilidade de voltar a atacar Kyiv e de usar armas radioactivas, incluindo contra os EUA. O seu estado mental está bastante perturbado. Quando diz o que hoje disse é de se acreditar que estamos à beira de uma situação muito séria. Agora não é já só a Ucrânia que está em perigo. É todo o mundo ocidental. A começar pela Polónia e o Reino Unido, segundo parece. Neste contexto, o mundo ocidental tem de pensar a sério no que devem ser os seus próximos passos. Para começar, deve acreditar que a situação se está a complicar rapidamente.