Os gasodutos Nord Stream 1 e 2 foram sabotados. As explosões só podem ter sido organizadas por comandos especiais, ligados às forças armadas de um país. Não se sabe ainda qual terá sido esse país. Mas a sabotagem aconteceu na altura em que estava a ser inaugurado o pipeline entre a Noruega e a Polónia, que permitirá aumentar substancialmente as importações de gás norueguês, em alternativa ao russo. Estas coisas não acontecem por acaso. A escolha do momento, das datas, faz parte do impacto que se pretende obter. Como também a escolha do local visado. Os ataques contra esses dois gasodutos ocorreram na mesma zona por onde passa a conduta vinda da Noruega. Dir-se-ia que a mensagem é: vejam bem, temos capacidade operacional para fazer saltar o pipeline.
Os russos dizem que não foram os autores destas sabotagens. Uma análise dos possíveis impactos e mensagens políticas que uma acção destas provoca, ou tem a intenção de provocar, faz-me pensar, no entanto, que a possibilidade russa é a mais forte. É um aviso aos europeus e além disso, mais um factor de perturbação dos mercados do gás, que, entretanto, subiu de preço – 20% mais caro. A arma económica é um dos instrumentos da nova maneira de criar e gerir conflitos.
"No meio de tudo isto, os europeus prolongaram as sanções contra a Rússia até julho de 2021. Estas medidas, que vêm de 2014 e estão relacionadas com as intromissões armadas russas na Ucrânia e a ocupação da Crimeia, têm um campo de aplicação pouco abrangente. Não incluem, por exemplo, a suspensão da construção do gasoduto Nord Stream 2, que ligará a Rússia à Alemanha através do Báltico. Aliás, um outro título da semana foi para anunciar que os trabalhos de instalação do gasoduto haviam recomeçado e entrado mesmo na fase final.
A realidade é que os dirigentes da UE não têm uma visão política clara do que deve ser o relacionamento com a Rússia de Vladimir Putin. Tem havido muito debate sobre a questão, incluindo o desenho de cenários possíveis, mas não há acordo."
Extracto do meu texto de hoje na edição impressa do Diário de Notícias.
Comprar a edição do Diário de Notícias de hoje é gastar 3 euros bem gastos. O jornal está muito bem feito e tem uma série de histórias humanas bem contadas bem como um excelente naipe de opiniões com interesse. A minha coluna de opinião desta semana tenta responder à questão do relacionamento da União Europeia com a Rússia, numa altura em que várias questões – e não apenas o envenenamento de Alexei Navalny – estão em cima da mesa. Faço, igualmente, uma breve referência à China, por comparação com a Rússia.