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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Em memória de Ingrid A.

Ontem teria sido o aniversário da minha amiga Ingrid A. Há muito que não tinha notícias dela. Procurei entrar em contacto com ela, aproveitando a ocasião do aniversário. E tive um grande choque. Ingrid e o marido faleceram num acidente de barco, num dos fiordes do centro da Noruega, no verão de 2019. Chocaram contra os rochedos e morreram no local.

Eu havia atribuído o interregno nos nossos contactos à pandemia, às mudanças da vida e ao facto de Ingrid estar muito ocupada como presidente de uma das câmaras municipais de uma zona costeira do centro da Noruega. Tinha sido eleita aos 28 anos, estava em 2019 a preparar a sua reeleição, aos 33 anos de idade. Era uma das jovens mais brilhantes do Partido Trabalhista da Noruega, colaboradora directa de Jens Stoltenberg, quando este fora primeiro-ministro da Noruega, e também do actual primeiro-ministro, Jonas Gahr Store. Era, igualmente, uma das jovens mais bonitas da sua geração.

Depois de saber isso, já não escrevi mais nada, ontem à noite.

Sabotagens no momento certo

Os gasodutos Nord Stream 1 e 2 foram sabotados. As explosões só podem ter sido organizadas por comandos especiais, ligados às forças armadas de um país. Não se sabe ainda qual terá sido esse país. Mas a sabotagem aconteceu na altura em que estava a ser inaugurado o pipeline entre a Noruega e a Polónia, que permitirá aumentar substancialmente as importações de gás norueguês, em alternativa ao russo. Estas coisas não acontecem por acaso. A escolha do momento, das datas, faz parte do impacto que se pretende obter. Como também a escolha do local visado. Os ataques contra esses dois gasodutos ocorreram na mesma zona por onde passa a conduta vinda da Noruega. Dir-se-ia que a mensagem é: vejam bem, temos capacidade operacional para fazer saltar o pipeline.

Os russos dizem que não foram os autores destas sabotagens. Uma análise dos possíveis impactos e mensagens políticas que uma acção destas provoca, ou tem a intenção de provocar, faz-me pensar, no entanto, que a possibilidade russa é a mais forte. É um aviso aos europeus e além disso, mais um factor de perturbação dos mercados do gás, que, entretanto, subiu de preço – 20% mais caro. A arma económica é um dos instrumentos da nova maneira de criar e gerir conflitos.

 

Os nosso amigos da Dinamarca

Ficou-se agora a saber que os serviços secretos de inteligência das forças armadas dinamarquesas ajudaram os americanos, até 2014, a ter acesso e a espiar todo o tipo de comunicações de Angela Merkel e de outros dirigentes alemães, franceses, noruegueses e suecos. Ou seja, um país da União Europeia conspirou contra outros Estados-membros, incluindo os vizinhos nórdicos e os dois países mais poderosos da UE.

Dirão que se trata de factos já antigos, que agora é tudo limpo. Acredito que o governo dinamarquês tenha posto um termo a isto. Mas fico com dúvidas sobre o que os serviços americanos andam a fazer em relação aos dirigentes europeus.

Isto mostra, mais ainda, que quem controla os cabos e os sistemas de comunicação consegue saber tudo sobre os alvos que tenha escolhido. Assim, a discussão sobre a segurança cibernética e, em particular, sobre quem vai fornecer os sistemas 5G, é mais necessária do que nunca.

Muitas das informações recolhidas nunca são devidamente ou mesmo, minimamente, exploradas. Mas as relacionadas com gente chave são passadas a pente fino.  

Entretanto lembrei-me dos meus tempos na Tanzânia, quando andava a tratar da falsificação dos resultados das eleições presidenciais em Zanzibar. Um dos meus interlocutores quase diários era o Vice-Presidente da República. Quando me reunia com ele, o VP fazia sempre questão de responder a questões que eu havia discutido, “confidencialmente”, com os embaixadores ocidentais. O VP estava a par de tudo, embora nada tivesse transpirado. O sistema de escutas e de espionagem funcionava bem. Depois da resposta que me dava, eu pegava na matéria e argumentava com ele, como se o assunto tivesse sido posto em cima da mesa durante o nosso encontro. Nunca lhe perguntei como sabia de conversas em que não havia participado. Mas fui tirando proveito da espionagem, para lhe dar a conhecer o que preocupava os principais parceiros da Tanzânia. Assim, não precisava de o confrontar directamente com factos muito sérios. Ele é que os punha em cima da mesa.

Um Portugal mais interveniente

Não se trata de saber qual é o armamento de que se dispõe. Também não tem que ver com um noção convencional da diplomacia, a que procura agradar a gregos e a troianos e não fazer qualquer tipo de ondas. “Soft power” significa que o país tem capacidade para influenciar os outros, sem qualquer tipo de recurso à força ou à ameaça do seu uso. Tem muito que ver com a imagem exterior que o país projecta, com o seu prestígio internacional, e com o seu apetite para desempenhar um papel activo na procura de soluções para as grandes questões que afectam a paz e a segurança aqui e acolá, ou numa qualquer região do globo.

É verdade que temos estado a assistir ao regresso da política da força. A força num sentido amplo, abrangente, com várias facetas, não apenas a militar. Mesmo assim, as soluções baseadas nos valores da paz, do respeito entre as nações, da conjugação de interesses, continuam a merecer um lugar de destaque na diplomacia internacional. E a serem reconhecidas como a via para respostas duráveis a crises profundas.

A Noruega tem sido um excelente exemplo da utilização inteligente do “soft power”. Pesa muito mais na cena mundial do que o seu tamanho e isolamento geográfico deixariam pensar. É um actor credível e ousado, na resolução de conflitos e na procura de respostas às grandes questões dos nossos tempos.

Nós também o poderíamos ser. Precisaríamos de ultrapassar o paroquialismo que nos fecha na nossa aldeia mental, cultivar a imagem exterior de Portugal e ousar. Teríamos muito a ganhar com uma aposta desse género.

 

Apoiar os artistas da terra

Passo estes dias, até sexta-feira, no ventre de uma montanha, na costa oeste da Noruega. As salas de reunião e os gabinetes de trabalho foram construídas recentemente. Os corredores que nos levam aos diversos compartimentos do “ventre” têm decorações pintadas nas paredes, obras dos artistas da região. Como se trata de uma construção recente, a regra, nesta terra, é que 2% do valor total da obra sejam destinados ao enriquecimento artístico do edifício. À compra de expressões artísticas locais. Boa ideia. Apoia a criação e humaniza o cimento, sobretudo este, muito especial e bem dentro de uma montanha que, vista de fora, é simplesmente como muitas outras.

O petróleo do Mar do Norte está a ficar sem gás

O voo desta manhã de Londres Heathrow para Stavanger, a capital do petróleo na Noruega, tinha dezassete passageiros, num avião grande e novo em folha. Já o voo similar, em janeiro, estava meio cheio, numa linha que sempre foi muito procurada. Será que isto tem alguma coisa que ver com a quebra do preço do petróleo? Será que as companhias de exploração petrolífera estão numa fase de contenção de gastos?

Fiquei sem resposta.

A Noruega é um actor activo na cena internacional

Cheguei ao fim da tarde a Oslo, para participar na reunião anual do programa norueguês de apoio às operações de paz da ONU. Estou aqui enquanto membro do Conselho Consultivo Internacional do programa patrocinado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros da Noruega. O Conselho tem seis membros, quatro dos quais são Africanos e um é Indiano. Sou o único europeu no grupo. A administração do programa é feita pelos noruegueses, representados ao nível político pelo Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. É um programa que tem 15 anos de existência e que mostra bem o interesse que Oslo dá às questões da manutenção da paz, da segurança internacional e da resolução de conflitos em África. Revela igualmente um posicionamento muito activo do país em relação ao trabalho da ONU.

A minha ambição, nesta área, passa por tentar conseguir uma maior participação europeia nas questões de manutenção da paz.

Ricos, com chuva e monotonia

Amanhã viajo de novo para Stavanger, na Costa Ocidental da Noruega. Stavanger é um perfeito exemplo de uma cidade rica num canto perdido do fim do mundo. Vive-se bem e em segurança nessa terra. Mas a vida, sobretudo nesta altura do ano, é um aborrecimento. Não há nada para fazer, não há animação, é apenas trabalho e casa, casa e trabalho. Com chuva e vento, como será o caso nos próximos tempos.

Verão com nuvens

O meu texto de hoje na Visão é uma digressão de Verão, escrita na costa ocidental da Noruega, em Stavanger.

 

Passo a citar o que publico na Visão:

 

Reflexões norueguesas

Victor Ângelo

 

Escrevo esta crónica de Verão junto à janela. Lá fora, a paisagem abre-se e fica dominada pelo fiorde de Stavanger, o mar e a cadeia de montanhas que define o horizonte. Olhando bem, tranquilidade, vastidão e curiosidade, no sentido de querer ir mais além e descobrir o que está para lá dos recortes das baías e das serras, são os pensamentos que me ocorrem. Ou seja, viajar, mas não nos gigantescos navios cruzeiros, conto três esta manhã no meio da cidade, que o centro de Stavanger foi construído nas margens da ponta do fiorde. Os navios são uma feira ruidosa, um novo tipo de turismo de massas a fingir que é luxo.

 

Situada na costa oeste do país, capital do petróleo norueguês, Stavanger é uma urbe em crescimento acelerado. Mantém, no entanto, a característica que melhor define as cidades da Noruega: vida sem sobressaltos e próxima da natureza. Mostra, igualmente, que é possível conciliar a riqueza do petróleo com a construção de um futuro harmonioso, viver-se uma vida confortável mas sem exibicionismos de novo-rico. A disciplina individual e coletiva é o segredo da coisa. Disciplina na vida cívica, na política, em casa, na maneira como se constrói o futuro. Aqui, aprende-se que a disciplina social é um fator essencial para a prosperidade de um povo.   

 

Stavanger é também um exemplo de diversidade étnica. Nos anos setenta foi o porto de abrigo para muitos refugiados vietnamitas, acolhidos que foram por estas terras. Estão integrados. A jovem militar que se ocupou do meu acesso seguro a meios informáticos, quando aqui cheguei há uns dias em missão, tinha um nome meio norueguês meio vitenamita. A sua fisionomia não enganava ninguém: representava bem a beleza do extremo-oriente.  A Noruega sempre foi um país generoso em termos de asilo político. Agora há gentes de diversas nacionalidades: refugiados vindos do Iraque, do Afeganistão, Curdos da Turquia, famílias da Somália e muitas mais. Quando se vai à polícia local tratar da documentação, o primeiro passo consiste em selecionar a língua, das várias disponíveis, em que se quer ser atendido. Na frente económica, encontramos imigrantes de várias partes da Europa. Desde a vizinha Suécia – trabalhar na Noruega é uma alternativa mais vantajosa – até à Polónia. A comunidade polaca é das mais numerosas. Também há portugueses, como não podia deixar de ser. Por coincidência, atrás de mim, no avião vindo de Frankfurt, sentava-se um casal do Porto, imigrantes na Noruega desde há alguns anos.  

 

O sítio onde trabalho é guardado por jovens militares a cumprir os seis meses de serviço obrigatório. Este é um dos poucos países europeus que conservou essa prática. Tem dinheiro para o fazer. O modelo não é, por isso, exportável. Mas, enquanto me perco a contemplar a paisagem, reconheço que a Europa precisa de refletir a sério sobre o seu sistema coletivo de defesa. Os desafios existem, como podemos ver do lado da Ucrânia e da Rússia, nas águas e nas margens Sul e Oriental do Mediterrâneo, na frequência crescente dos ataques cibernéticos. Reconheço, porém, que a defesa da Europa é hoje um conceito complexo, que vai muito para além da resposta militar. Passa por repensar a aliança com os EUA, que têm, de longe, o melhor sistema de defesa do mundo. Passa, igualmente, por uma redefinição do papel das forças armadas e do seu relacionamento com as polícias, os serviços de informações, os diplomatas e a opinião pública. O fiorde lembra-nos que estas coisas são bem mais vastas do que parecem. Mesmo na pausa do Verão, que este ano tem estado agitado.

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