As informações parecem revelar que os senhores armados se preparam para uma ofensiva diferente. Não aqui. Do outro lado da linha de fronteira, na região mais a Norte do Darfur, em aliança com as tropas de Khartoum. Contra os homens do Justice and Equality Movement (JEM).
Lutar pelo controlo das areias. É uma maneira de marcar pontos, tendo em vista as negociações de paz que decorrem em Doha. De um lado, o governo do Sudão. Do outro, o JEM.
É normal lançar ofensivas guerreiras quando se está a negociar a paz. Faz aumentar a parada. Um período de maior perigo é exactamente quando a paz começa a ser possível. Às armas, cidadãos!
Assim se faz diplomacia. Embora me pareça triste morrer quando se está à beira de acordo de paz.
Certos intelectuais dos nossos continuam a atacar o neoliberalismo, como o mal de todos os pecados. Para eles, neoliberalismo é sinónimo de capitalismo desencabrestado.
A pergunta é então: Onde está a resposta? No neosocialismo? Outra pergunta: Que significa neosocialismo? Obamismo à europeia, a ver o entusiasmo que agora impera?
Ou talvez uma outra pergunta seja apenas: palavras, palavras, e frases bombásticas, meus senhores, mas que alternativa de sistema apresentam?
A produção de ideias em Portugal vem da tradição bombista dos anarco-sindicalistas. Lançam-se umas pastilhas para o ar e espera-se pelo estrondo. Depois, confunde-se barulho com inteligência.
A Cimeira do G20 correu bem. As medidas adoptadas fazem sentido e revelam uma preocupação de entendimento e um sentimento de partilha das responsabilidades. Os países em desenvolvimento não foram esquecidos.
Agora, é uma questão de coerência na execução do que ficou decidido.
Por outro lado, as principais praças financeiras conheceram um dia positivo, com aumentos da ordem dos 4% nos índices de valores.
Duas boas noticias num dia de Sol mas relativamente frio.
Nos campos de refugiados do Darfur também há preocupações de beleza. As mulheres não deixam de ser belas, mesmo em situações de grande precariedade. É bom manter um certo optimismo.
No seguimento do meu brevíssimo texto de ontem, breve mas que reflecte e sintetiza um processo de análise da presente vida pública portuguesa, Jorge S. pergunta-me o que entendo por "espaço político". E qual seria a diferença.
Na situação actual, à direita do partido do governo, não há energia, nem projecto, nem ideias novas, nem capacidade de mobilização. Numa altura em que muitos cidadãos se sentem em oposição ao governo, os partidos à direita não oferecem alternativa. O que deixa muitos eleitores dessa área de opinião sem ponto de referência, a flutuar, mas prontos a sair do voto que tradicionalmente davam ao CDS/PP ou ao PSD. São pessoas que estarão, assim o creio, dispostos a votar ao centro e pela mudança.
Á esquerda do PS, existe um partido, que embora inspirado por análises do passado, envelhecido, tem um papel sociológico importante e indispensável para o funcionamento da democracia. Mas é um papel limitado, na sua capacidade de mobilizar apoiantes fora das suas bases tradicionais. Continua a atrair uma camada social de condições modestas e precárias, que vive nas grandes periferias, gente boa mas com todas as limitações que a falta de qualificação profissional e o desaparecimento das indústrias tradicionais acarretam. Atrai também um número significativo de reformados, nas zonas onde se conseguiu implantar. Por muito que seja o descontentamento e o sentido de precariedade, não conseguirá chamar a si franjas significativas dos desiludidos. Que continuarão disponíveis para outras mobilizações.
Existe um outro partido que os eleitores identificam com a crítica azeda ao poder, mas sem o imaginar como substituo do governo. Não é um partido de governação, é uma força mediática de contestação, que diz umas verdades, se compromete com causas interessantes, sai uma frases bombásticas, fala duro, mas, no imaginário político popular, comporta-se como um partido do contra. E nada mais. Ou seja, muitos dos descontentes só se sentirão atraídos por esse movimento se não existir uma alternativa credível de oposição e que projecte um sentido de governação.
É aqui que se encontra o espaço para uma nova força política. Que responda aos anseios do centro e da esquerda, com um projecto de futuro para Portugal. A diferença estaria nas ideias e nas pessoas. Novas ideias e novas pessoas, que existem em Portugal e que seria necessário organizar. Se me disser que a organização é o grande problema, estarei de acordo. Mas não é um obstáculo intransponível.
Dirigentes poíticos, que não compreendem o que é ter um sentido de Estado, fazem política aos gritos, ou com extrema violência verbal, como se a força do argumento viesse da brutalidade com que se dizem as palavras.
Ainda este fim-de-semana, senhores que deveriam ter tino e decoro, até pelas posições que ocupam, passaram o tempo em ataques verbais, contra as pessoas, não contra as ideias nem os programas. Que miséria.
Esta maneira de estar na vida pública tem que mudar. O país precisa de gente reflectida e tolerante.