Aumentar o número de observadores civis internacionais na central de Zaporijia
Apelo entregue hoje a António Guterres.
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Apelo entregue hoje a António Guterres.
Amanhã, 3 de julho, um grupo de antigos funcionários seniores da ONU, vai lançar um apelo ao Secretário-Geral António Guterres, para que conjuntamente com Rafael Grossi, o Director-Geral da Agência Internacional da Energia Atómica (IAEA), se dirijam urgentemente ao Conselho de Segurança, sobre o complexo nuclear de Zaporijia.
A intenção é a de propor um acréscimo significativo do número de inspectores/observadores internacionais, a quem deverá ser dado acesso absoluto a todas as partes da central, de modo a garantir que esta não sirva nem possa ser utilizada para objectivos militares e a sua gestão seja mantida num quadro inteiramente civil, segundo as regras de gestão de uma infraestrutura de energia atómica. Essa missão alargada deveria ter o apoio e a cobertura política do Conselho de Segurança. Teria igualmente a possibilidade de verificar que não acontecerão operações militares num raio de vários quilómetros. A sua composição deveria ser fundamentalmente constituída por técnicos de países exteriores ao contexto da guerra em curso.
Este apelo tem como ponto de partida os perigos que existem ou que podem ser criados a partir da central. Tem igualmente em linha de conta a decisão russa de fazer evacuar todo o pessoal civil e militar da central, a partir de 5 de julho.
As autoridades de Kyiv e de Moscovo foram informadas do conteúdo do apelo que será enviado ao SG/ONU.
Agora já não é o simples de espírito do Dmitry Medvedev que fala do uso de armas nucleares e da possibilidade de uma III Guerra Mundial. O papel dele, o de abrir essa possibilidade, terminou. Hoje foi o chefe quem falou do assunto. E não estava com um ataque de fantasia ou a tentar meter medo aos medrosos. Falava a sério. O homem que manda no Kremlin receia uma derrota no Leste da Ucrânia. E, por isso, fala da possibilidade de voltar a atacar Kyiv e de usar armas radioactivas, incluindo contra os EUA. O seu estado mental está bastante perturbado. Quando diz o que hoje disse é de se acreditar que estamos à beira de uma situação muito séria. Agora não é já só a Ucrânia que está em perigo. É todo o mundo ocidental. A começar pela Polónia e o Reino Unido, segundo parece. Neste contexto, o mundo ocidental tem de pensar a sério no que devem ser os seus próximos passos. Para começar, deve acreditar que a situação se está a complicar rapidamente.
Rafael Grossi, o director executivo da Agência Internacional de Energia Atómica, a autoridade máxima da constelação das Nações Unidas em matéria nuclear, reuniu-se hoje, uma vez mais, com o Conselho de Segurança da ONU. Disse estar profundamente preocupado com a situação em que se encontra a central nuclear ucraniana de Zaporijia, que está ilegalmente ocupada pelos militares russos desde março de 2022. Na realidade, a sua mensagem era extremamente preocupante, porque a central e os seus arredores continuam a registar actividades militares que põem em perigo a sua integridade e funcionamento. Os russos têm usado a central para guardar equipamento de guerra e verificam-se bombardeamentos frequentes à volta da mesma. Há mesmo quem pense que poderão provocar uma fuga radioactiva para obrigar à declaração de uma emergência, que levaria a um congelamento das actividades militares e impediria a execução da contraofensiva ucraniana. Estabeleceriam assim um “cessar-fogo” que lhes permitiria consolidar a sua presença nos territórios que ilegalmente ocuparam e, ao mesmo tempo, refazer a cadeia logística e a produção industrial de material bélico.
Grossi enumerou cinco princípios que deveriam ser respeitados pelas partes. Esses princípios são bastante claros e deveriam merecer de imediato o apoio do Conselho de Segurança. Trata-se, em resumo, de garantir que não haverá nenhuma operação militar que vise a central ou que tenha a central como ponto de partida, bem como a total desmilitarização dessa infraestrutura. Infelizmente, não creio que esse apoio seja obtido. Ou seja, continuaremos a ter em Zaporijia uma situação de alto risco.
https://www.dn.pt/opiniao/olhar-para-2023-de-modo-diferente-15605739.html
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Insisto em dois pontos, quando olho para 2023: pensar numa nova maneira de fazer a gestão da paz e obrigar a Rússia a assumir as suas responsabilidades; lembrar que temos de trabalhar diplomaticamente com a China, com muita habilidade e tendo bem presente os interesses de cada parte.
Cito umas frases do texto de hoje:
"Mais, o prolongamento da campanha russa traz consigo o risco, acidental ou deliberado, de pegar fogo à Europa Ocidental e mais além. Razão muito forte pela qual este tem de ser o ano de uma iniciativa de paz, liderada pelos europeus e em colaboração com os EUA e a China, entre outros.
Sim, com a China, mas não com os BRICS, que são uma estrutura cheia de problemas internos -- Brasil, África do Sul -- e de rivalidades entre a Índia e a China. E o relacionamento com a China não prejudica necessariamente a aliança entre os europeus e os norte-americanos, nem contradiz o apoio que temos o dever de continuar a fornecer à Ucrânia. A complexidade do conflito exige uma maneira criativa de intervir na sua solução."
Esta semana, Vladimir Putin pareceu mostrar alguma confusão estratégica. Um dia disse uma coisa, no seguinte afirmou o contrário. Tudo à volta do uso de armas nucleares e de alta tecnologia. Parece confusão, mas não é. É um jogo para desnortear o inimigo.
Ele está a trazer o tema para cima da mesa, com a clara intenção de fazer uso desse tipo de armamento, se se achar ameaçado. Uma utilização preventiva, acabou por dizê-lo. Mas a noção de agir antes dos outros, por parecer que há uma ameaça que está prestes a ser concretizada, é altamente perigosa. Por isso continuo a dizer que estamos agora num momento particularmente arriscado do conflito.
A leitura que faço das suas palavras e das imagens públicas que vão aparecendo, retratando-o aqui e acolá, confiante e bem-disposto, fazem-me temer que Putin esteja convencido que chegou o momento de alargar o conflito. E que tenha feito a avaliação que poderá sair desta confrontação vitorioso. Ora, um conflito desse tipo, com armas nucleares e ultra-sónicas, não acaba com vitórias. Acaba, isso sim, com um grau impensável de destruição.
Num debate em que participei hoje, surgiu, repetidamente, a preocupação nuclear. Um dos principais intervenientes queria ouvir opiniões sobre a possibilidade de um conflito nuclear entre o lado russo e o nosso. Lembrei-me, então, que nos primeiros dias deste ano os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança haviam assinado uma declaração conjunta para reconhecer que uma guerra nuclear não teria vencedores, acrescentando então que as armas desse tipo tinham apenas um efeito dissuasivo. Na altura, a 7 de Janeiro, escrevi uma coluna no Diário de Notícias sobre essa questão.
Hoje, passados quase três meses sobre a aprovação da declaração, o mundo tem uma configuração diferente. O que era válido na altura agora parece levantar muitas preocupações. E, de facto, a realidade de hoje é preocupante. Estamos numa situação de confronto aberto entre os dois lados. Um confronto que ainda não é bélico, à maneira tradicional. Mas que anda muito próximo da linha vermelha.
O assassinato do cérebro da energia nuclear iraniana foi executado de um modo profissional. Li várias descrições do que poderá ter acontecido porque existem diferentes versões da maneira como a emboscada foi executada. E de quantos veículos, motas e agentes estariam envolvidos. Mas não tenho dúvidas que foi uma operação de forças especiais. Exigiu meios, informações e executantes bastante sofisticados e perfeitamente treinados. Daqui é fácil de concluir que o assassinato foi planeado, organizado e levado a cabo por um Estado hostil ao Irão.
O principal motivo poderá ser distinto daquele que é mais óbvio, o de desferir um golpe importante que atrase o avanço do programa nuclear iraniano. Esse programa está numa fase que já não depende apenas de um cientista-chefe. O Irão tem várias equipas especializadas em matéria nuclear, incluindo no domínio da transformação do nuclear para fins bélicos. O verdadeiro motivo será outro. O estado promotor deste acto sabe o que pretende. O assassinato foi uma aposta muito grande, feita na esperança de atingir o objectivo principal.
A edição de 2019 da Conferência de Munique sobre a Segurança começou hoje e decorre até domingo. Este encontro é um dos momentos altos do calendário anual das grandes conferências internacionais.
Assistimos, nesta década, a uma proliferação de conferências de todo o tipo e sobre os mais variados temas, nas diversas regiões do globo. A maioria dessas iniciativas passa despercebida e não tem qualquer tipo de impacto na tomada de decisões estratégicas ou no diálogo internacional. Tal não é o caso de Munique. Munique tornou-se no Davos das questões de segurança, conflito e paz. Pesa e conta.
Este ano, como já é hábito, terão lugar uma série de encontros bilaterais entre os Estados Unidos, a Rússia e a China, bem como outros.
A situação na Síria, no Sahel, a questão do armamento nuclear e as dimensões de segurança que possam resultar das alterações climáticas estão na agenda. Como continua na agenda a crise na Ucrânia. Fora da agenda, como sempre, estará o conflito israelo-palestiniano. É de demasiado melindroso, para uns, insolúvel, na opinião de outros. Acho bem.
Ontem o mundo teve oportunidade de ouvir duas declarações preocupantes.
Por um lado, tivemos Vladimir Putin a discursar sobre os novos tipos de armamentos que a Rússia diz ter desenvolvido. Falou, nomeadamente, de mísseis nucleares. E mostrou-se muito beligerante, sempre a pôr o acento na força militar, como meio de ganhar espaço geopolítico e credibilidade na cena internacional. A conversa não era bluff. É para levar a sério.
Do outro lado do mundo, mas tão perto dos nossos interesses como Putin, falou Donald Trump. Também ele usou um tom conflituoso, ofensivo e provocador. Abriu as portas a um outro tipo de crise, à espiral das disputas comerciais. Num mundo que está hoje mais globalizado que nunca, um discurso desse tipo é muito perigoso. Para todos, incluindo para os concidadãos de Trump.
O mês de março começou assim com muita violência. Marcadamente, pela negativa. Quem analisa as relações internacionais não pode deixar de sublinhar que este tipo de declarações não têm nada de positivo nem de encorajante. Antes pelo contrário. E lembram-nos que é a jogar com o fogo que muitos incêndios começam.
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