2024: Acabar com a agressão russa
Ano Novo: Fazer sair a Rússia da Ucrânia sem mais demoras (dn.pt)
A minha crónica de hoje, 12 de Jan. 2024, no Diário de Notícias
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Ano Novo: Fazer sair a Rússia da Ucrânia sem mais demoras (dn.pt)
A minha crónica de hoje, 12 de Jan. 2024, no Diário de Notícias
A ninha conversa de domingo na CNN P.
A decisão do Chanceler Olaf Scholz sobre os tanques Leopard 2 merece ser reconhecida, apesar da ter demorado algum tempo antes de ter sido tomada. E o facto de fornecer carros de uma geração mais moderna, a A6, tem também muito mérito.
Esta decisão vai libertar muitas outras dádivas que estavam na forja, a começar pela que virá da Polónia. Veremos, agora, qual será o número total de tanques que chegarão à Ucrânia. Esse é um dado importante.
O Kremlin irá reagir, mas penso que será sobretudo uma reação verbal. As forças armadas russas têm muitos problemas por resolver. E estão em disputa com os mercenários da Wagner. Estes, segundo certas fontes de informação, estão com dificuldades logísticas e com problemas humanos, pois perderam uma grande quantidade de combatentes nas últimas semanas, nas campanhas de Soledar e de Bakhmut. Mas, sobretudo, perderam influência junto de Vladimir Putin.
Emmanuel Macron anda há dias a tentar falar ao telefone com Vladimir Putin. Sem êxito. Entretanto, Olaf Scholz discutiu durante mais de uma hora com Putin, há dois ou três dias. Macron não deve ter ficado contente. Mas insiste em tentar falar com o patrão do Kremlin. Por isso, ontem, numa entrevista rádio, defendeu posições muito próximas das repetidamente expressas por Putin. Penso que estava a tentar chegar ao Kremlin com falinhas doces. Mas não o deve conseguir, Putin sabe que Macron não tem o apoio dos países do Leste e da Ucrânia e que essas posições nunca serão aceites por esses países, nem mesmo pelos EUA. Por isso, não vale a pena pegar no telefone e responder à chamada proveniente de Paris.
Olaf Scholz é um político pouco habitual. Não tem manhas, não grita, não insulta os oponentes, não despreza os jornalistas, não mostra arrogância. Muito o contrário do que temos aqui por casa. Mas é o chanceler da Alemanha, desde o final do ano passado, e por isso, tem peso e deve ser ouvido.
No início da semana, proferiu um longo discurso na velha e prestigiosa Universidade Charles de Praga. Falou da sua visão da Europa.
Foi um discurso positivo, que defendeu a reforma das instituições e dos tratados, o papel geopolítico da União Europeia, o distanciamento em relação à Rússia, mas também uma maior autonomia no que respeita ao relacionamento com os Estados Unidos, o alargamento aos Balcãs e a Leste, e mais. Também reconheceu a tragédia que a Alemanha criou na Europa de há oitenta anos e o facto de isso continuar a pesar na consciência colectiva alemã.
Com a crise criada pela Rússia, o centro de gravidade política da Europa está a mover-se para Leste. Os polacos, os bálticos, os nórdicos, e outros, estão a tornar-se cada vez mais determinantes na definição da agenda europeia. A Alemanha considera que pode fazer a ponte entre esse grupo e o lado ocidental da UE. O discurso de Scholz pode ser visto a partir desse prisma.
A visita conjunta dos dirigentes da Alemanha, França, Itália e Roménia a Kyiv foi bastante positiva, quer do ponto de vista do apoio político quer material. A reunião do Grupo de Contacto, realizada ontem na sede da NATO, também deve ser vista como positiva. Essa reunião destinava-se a coordenar a ajuda material à Ucrânia. Essa ajuda tem de chegar ao país sem demoras.
Entretanto, Moscovo começou a cortar o fornecimento de gás à Europa. Prevejo que ainda corte mais, muito em breve.
Um texto como o que ontem publiquei no Diário de Notícias é escrito com todo o cuidado, palavra a palavra. Depois, o que demorou horas até chegar à versão publicável é lido a correr por muitos dos leitores. Por isso, recebo comentários, mesmo os mais favoráveis, que mostram que a leitura foi feita de modo apressado. Tiram conclusões que não estão no texto ou que não decorrem do que foi escrito.
Ontem por exemplo, as mensagens principais eram claras: é preciso alargar as sanções a todas as áreas estratégicas que tenham que ver com o financiamento do aparelho militar russo e do cerne do regime; Vladimir Putin não pode fazer parte de uma Europa pacífica e cooperante; cabe à população russa democratizar o seu sistema político; a ajuda militar à Ucrânia é legítima e muito urgente; trata-se de criar as condições para que a sua legítima defesa seja efectiva; a unidade das posições europeias é uma questão fundamental; o risco de uma confrontação armada entre a Rússia e a nossa parte da Europa é elevado.
Não se trata de defender posições belicistas. Também não é uma questão de pessimismo. É, isso sim, realismo e defesa dos valores essenciais em matéria de relações entre os Estados.
https://www.dn.pt/opiniao/por-onde-anda-a-pretensa-lideranca-chinesa-14668270.html
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Transcrevo, de seguida, a minha crónica.
Por onde anda a pretensa liderança chinesa?
Victor Ângelo
Foi preciso deixar correr 12 dias de agressão contra a Ucrânia, para Xi Jinping descer à terra e discutir a sua leitura da crise com Emmanuel Macron e Olaf Scholz. Na véspera, o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, havia organizado uma longa conferência de imprensa, focada no mesmo assunto.
Ao analisar estas duas intervenções, fica-me a impressão que Beijing pretende, em simultâneo, agradar a gregos e troianos, ou seja, aos europeus da UE e ao regime de Vladimir Putin, e, por outro lado, agravar a retórica contra os EUA. Xi procurou encorajar o diálogo entre os europeus e o Kremlin, bem como criar uma linha de fratura entre a posição europeia e a americana. Assim se pode resumir a iniciativa chinesa.
Acima de tudo, o objetivo de Xi é o de projetar uma imagem de compostura e serenidade, na defesa do sistema multilateral e da paz. Quer aparecer como o grande apologista dos princípios internacionais, enquanto os americanos deveriam ser vistos como os instigadores de conflitos, incluindo o que agora se sofre na Ucrânia. A China estaria sobretudo preocupada com a promoção da cooperação Internacional – a palavra cooperação foi mencionada no discurso de Wang mais de 80 vezes –, o desenvolvimento e a prevenção de crises humanitárias em larga escala.
Tudo isto é um exercício de estilo nos domínios da propaganda e da ambiguidade. A China precisa manter uma relação muito estreita com a Rússia. São dois grandes vizinhos, com várias complementaridades, para além da imensa continuidade geográfica. Beijing importa matérias-primas extraídas na Rússia – sobretudo petróleo, cerca de 60% do total das importações vindas da Rússia – e oferece uma válvula de escape à economia do vizinho. Mais importante de tudo, vê nos EUA um inimigo comum. A geografia aproxima os dois países e a geopolítica une-os. Trata-se, porém, de uma união frágil: baseia-se fundamentalmente nas vontades de Xi e Putin. Não tem expressão popular sólida, pois cada povo possui um quadro cultural muito próprio, sem raízes nem referências partilhadas.
E a China também sabe fazer contas: num ano, as trocas comerciais com a UE ultrapassam os 800 mil milhões de dólares, enquanto com a Rússia andam bem mais abaixo, na casa dos 105 mil milhões. Este valor é mais ou menos igual ao do comércio anual entre a China e os Países Baixos. Política e economicamente, Xi Jinping depende de um mercado europeu aberto e amistoso. Para o dirigente chinês, o comércio internacional é essencial para manter o ritmo de crescimento do nível de vida dos seus cidadãos. Isso tem de ver com a sua continuidade no poder. É o argumento fundamental para justificar a sua legitimidade e autoridade absoluta.
O facto é que a liderança chinesa não apoia o assalto militar que Putin ordenou contra a Ucrânia. Pelo que acima escrevo, e por três outras razões. Primeiro, porque desrespeita dois dos princípios fundamentais da política externa chinesa, o da inviolabilidade das fronteiras nacionais e o da não-ingerência nos assuntos internos de outros Estados. Segundo, porque desestabiliza e põe em risco de crise profunda as economias europeias. Terceiro, porque reforça o papel dos EUA na NATO e a sua influência na Europa.
Contudo, Xi Jinping não acha prudente criticar, nem mesmo falar agora com Putin. Prefere passar por Macron e Scholz e aconselhá-los a um diálogo com o Kremlin, fingindo que não vê que essa via está, neste momento, bloqueada. Putin não ouve os europeus.
Perante a resistência ucraniana contra os invasores, Putin está decidido a repetir o que outros ditadores fizeram ao longo da história: expandir o uso da força armada, incluindo o bombardeamento de civis – um crime de guerra –, e o cerco das cidades, ao velho estilo medieval. Xi Jinping sabe quais são os custos desse tipo de loucura criminosa. Foi o que o levou a contactar os líderes europeus. Deveria, isso sim, mostrar que as suas palavras sobre o valor do multilateralismo e das negociações diplomáticas fazem sentido e mexer-se com clareza no Conselho de Segurança das Nações Unidas e junto do seu parceiro Putin. Só assim poderá ser levado a sério.
Quatro pontos sobre a invasão e a agressão à Ucrânia, neste fim de dia, que é o Dia Internacional da Mulher:
Cada dia traz-nos uma agenda bem carregada.
O discurso que o Chanceler alemão, Olaf Scholz, pronunciou ontem no Bundestag, o Parlamento federal, foi memorável. Constituiu uma viragem histórica, no que respeita a política externa da Alemanha. Se os analistas não estivessem inteiramente focados na crise ucraniana, estariam agora a comentar o que Scholz disse. E também sublinhariam que o líder da oposição, da CDU de Angela Merkel, apoiou sem reservas o que o Chanceler social-democrata anunciou. Ou seja, a quase totalidade dos representantes políticos ao nível federal aprovou as novas orientações em matéria de política externa.
Um dos aspectos mais relevantes é promessa de, a partir de agora, investir na modernização e na eficácia das forças armadas do país. É a famosa questão dos 2% do PIB serem gastos na área da defesa. Um outro aspecto refere-se a investimentos no domínio da energia, de modo pôr um ponto final à dependência em relação à Rússia. Lamentavelmente, no entanto, a nova política energética assenta na expansão da importação de gás liquefeito – para isso serão construídos dois novos portos especialmente apetrechados – e na revisão das decisões que levaram ao fecho das centrais nucleares.
Muito do que disse teve como pano de fundo a ameaça que Vladimir Putin representa. Muito especialmente, a agressão contra a Ucrânia.
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