Não temos experiência de como tratar rupturas tão vastas e perturbadoras como a actual. Por isso é importante dizer, com toda a humildade, que aprendemos à medida que avançamos e ao ver o que outros estão a pôr em marcha.
A situação nacional de cada um pode ser diferente, mas há sempre lições a tirar, com a experiência dos outros. Por isso e por se tratar de uma crise global, a cooperação internacional deve ser uma das chaves de resposta. Quanto maior for a coordenação entre os Estados, melhores serão os resultados. Temos que levantar a voz e pedir que as medidas que cada um vai tomando sejam integradas num conjunto que lhes dê coerência e que lhes sirva de alavanca. Daí a importância das organizações multilaterais e inter-governamentais. Mas atenção, essas organizações precisam de ser ousadas e de propor medidas coerentes. A liderança que possam desempenhar terá que vir da qualidade das propostas que façam. Isso é verdade no que respeita ao sistema da ONU, como também o é quando se pensa na Comissão Europeia ou noutras entidades regionais, como, por exemplo, a União Africana ou a Organização dos Estados Americanos (OAS).
Infelizmente, as organizações internacionais não têm mostrado a iniciativa que delas gente como eu espera. A própria Comissão Europeia tem sido lenta e tímida.
As plataformas sociais, em especial a Twitter, estão cheias de mensagens de ódio contra a Organização Mundial da Saúde (OMS) e também contra Bill Gates. Quem quiser ficar enojado pode fazer um pequeno percurso pela internet. Há lá de tudo sobre estes dois assuntos.
No que respeita à OMS, a “licença para matar” veio do Presidente norte-americano. Donald Trump viu nas hesitações da OMS uma oportunidade para atacar a China, que é um tema que dá dividendos em várias partes do mundo, sobretudo junto dos cidadãos americanos mal informados e ultranacionalistas. Atacar a ONU também possibilita angariar alguns votos, satisfazer as fobias de algumas secções da opinião pública, mas é sobretudo a China que é vista como a rival por excelência dos Estados Unidos. Por outro lado, apontar o dedo na direcção da OMS desvia as atenções, cria uma nuvem que esconde a incompetência e a confusão que têm marcado a maneira de agir de Donald Trump.
Bill Gates é um alvo habitual de críticas por duas razões principais: por ser um bilionário de grande porte e inteligente. A verdade é que se trata de uma pessoa com uma visão muito ampla e com uma faculdade fora de série de antecipação dos problemas futuros. Os curtinhos da cabeça têm dificuldades em aceitar pessoas assim. Através da sua fundação, Gates é hoje um dos principais financiadores filantrópicos na área da pesquisa médica. Está, neste momento, a contribuir financeiramente para que os melhores cérebros científicos possam avançar na investigação de uma vacina contra a covid-19. Fá-lo de modo global, não se limitando aos laboratórios americanos apenas. A sua atitude contrasta com a maneira de agir do Presidente. Está à vontade, fala com serenidade e profundidade, olha para cada questão sob vários ângulos. Tudo isso acaba por sublinhar e pôr em evidência a pequenez de Donald Trump.
O que eu peço aos meus amigos é que não caiam nas armadilhas que por ainda estão montadas, contra a OMS, contra a filantropia e os visionários.
Houve quem achasse que o meu escrito sobre os políticos e os tecnocratas, aqui publicado a 23 de julho, mostrava muito pouco respeito pelos políticos e pelos partidos portugueses. E sugeriram-me que clarificasse a minha posição.
Ora, o meu julgamento é claro e o post revela-o bem. Tenho, na verdade, muito pouca – e nalguns casos, quase nenhuma – admiração pela maneira como se faz política nos partidos da nossa terra. O oportunismo é a palavra que melhor define a situação. E o vazio de ideias, o principal resultado.
Encontrei, na minha vida profissional, em várias organizações internacionais, tecnocratas de grande valor. Um deles, Kofi Annan, por exemplo. Kofi nunca foi eleito para nada, a não ser para Secretário-Geral da ONU, mas não é desse tipo de eleições que estamos aqui a falar, foi toda a vida um funcionário de carreira das Nações Unidas. E vi-o tantas vezes dar cartas e voar bem acima de chefes de Estado e de Governo, que esses sim, haviam recebido um mandato popular e feito carreira nas máquinas dos partidos. Mas no fundo, eram pessoas sem grande capacidade e visão.
Embora Kofi seja o caso mais conhecido, segundo creio, a verdade é que houve e há muitos outros. Ou seja, gente que subiu e ganhou peso e influência nas estruturas internacionais, que lidou ou lida com altos dirigentes políticos e que mostrou e mostra um valor indiscutível. E que acima de tudo, não são “Yesmen”.
Convém acrescentar, no entanto, e antes de terminar, que tenho a democracia em grande apreço. Não a confundo, todavia, com a maneira como os partidos funcionam neste nosso regime.