Chegar ao grande fim de semana de início de férias anuais para uma grande maioria dos portugueses e andar a discutir o 25 de Abril de 1974 e o papel de Otelo e outros só pode acontecer num país que anda em guerra consigo próprio. Ou então, mostra que a opinião que tem acesso ao espaço público é constituída por gente que deve ser de idade avançada e que já andava nestas coisas na altura, ou despertou para a política então. Uma espécie de "são sempre os mesmos".
Também causa surpresa ver alguns dos mais novos embarcar nas mesmas guerrinhas.
Já é tempo de olhar para a história desses tempos com alguma serenidade. E de pensar sobretudo no futuro. Nessa área, isso sim, há muito para debater.
Deixo aqui a minha homenagem à memória de Otelo Saraiva de Carvalho.
Conheci-o de mais perto em 1975, quando fui membro da primeira Comissão Nacional de Eleições. Muitas das recordações perderam-se com o passar dos anos. Mas sempre ficou bem presente a sua chegada de helicóptero à Gulbenkian, na noite eleitoral da Assembleia Constituinte. Nós, os membros da CNE, tínhamos aí o nosso posto de comando. E Otelo veio ter connosco, para se inteirar sobre a maneira como estava a decorrer o apuramento dos resultados.
Nessa altura, era visto como um herói. A sua visita impressionou-nos.
Depois, com o andar dos anos, outros tempos vieram. E a história saberá contar o percurso que percorreu, os altos e baixos. A história nunca é objectiva. Otelo será contado de diversas maneiras. Mas ninguém poderá negar o papel que desempenhou no 25 de Abril de 1974.