Não me cabe fazer comentários sobre a política interna de Espanha, no dia seguinte a um acto eleitoral especialmente importante para o povo espanhol. Digo isto sobretudo por duas razões: o país tem um contexto político muito complexo, que tem as suas raízes na cultura nacional, nas décadas de franquismo e na existência de profundos sentimentos nacionalistas; por respeito para com o povo de Espanha, a começar pelo pai do meu neto e o meu neto, que são sevilhanos de gema e patriotas como é frequente no país aqui ao lado.
Mas quero, apesar de tudo, fazer três observações genéricas: primeiro, terá de haver um governo de coligação, que consiga reunir a maioria nas Cortes que será necessária para funcionar; segundo, acho um erro qualquer coligação que englobe a extrema-direita ou partidos que são contra a unidade nacional; terceiro, o povo espanhol quer um governo ao centro, capaz de representar quem votou pelo centro-direita e pelo centro-esquerda.
Na realidade, a política na União Europeia precisa de ultrapassar os velhos conceitos do século passado e criar uma governação menos antagónica e mais equilibrada.
Essa é a leitura que cada vez mais me parece evidente. E que é difícil de aplicar por duas razões: os políticos continuam a pensar segundo esquemas mentais passados; os partidos estão mais interessados nos seus próprios interesses, no oportunismo dos seus dirigentes, que no futuro das suas populações.
Não me parece razoável comparar a situação política espanhola que resultou das eleições de domingo com a portuguesa. Estamos perante duas realidades nacionais distintas. A espanhola é muito mais complexa, em virtude das autonomias e dos movimentos independentistas, sobretudo o catalão, mas também o basco. Há que saber manter vários tipos de equilíbrios políticos. Na verdade, a Espanha tem um xadrez político muito frágil. Ou, dito de outra maneira, é uma castelo de cartas.
Por tudo isso, compreendo a posição muito cautelosa de Pedro Sánchez e dos dirigentes do seu partido socialista.
Neste momento, penso ser fundamental que Sánchez não feche as pontes possíveis, quer à esquerda quer ao centro. Deverá, ainda, procurar conseguir uma vitória razoável, no final do mês, aquando das eleições europeias, autonómicas e municipais, que terão lugar em simultâneo.
Gastei a tarde toda a planificar a minha próxima viagem de carro de Bruxelas a Lisboa. Queria passar pela Normandia e ficar um fim de tarde e uma noite em São Sebastião, no País Basco. Para além do trabalho que tive, que não foi pouco, apercebi-me que os principais hotéis em França e no Norte de Espanha, nos últimos dias deste mês, já estão esgotados. Mesmo os mais caros, como o famoso Maria Cristina, em São Sebastião, que pede por uma noite, nesta estação que ainda não é a mais cara, quase 800 euros.
Nunca tinha encontrado tantas dificuldades de marcação. Fiquei, por isso, a matutar se ainda haverá crise, por esses cantos da Europa.