Marrocos investe imenso em questões de espionagem, contraespionagem e serviços secretos. Tem agentes infiltrados em vários países e instituições. Bruxelas e as agências europeias são um dos alvos preferidos.
Soube-se agora que os mesmos indivíduos que no Parlamento Europeu trabalhavam clandestinamente a favor de Qatar também o faziam para Marrocos. Um dos objectivos era conseguir que a UE proporcionasse um tratamento favorável aos interesses marroquinos, em várias áreas, da pesca ao comércio, passando pela apreciação positiva da prática dos direitos humanos em Marrocos. E que não reconhecesse qualquer tipo de contacto ou de actividade que tivesse de ver com a Saara Ocidental.
O Parlamento Europeu declarou hoje, por uma larga maioria, que a Rússia é um Estado promotor de acções terroristas. As razões que levaram a uma decisão desse tipo são mais que evidentes. Basta pensar nos bombardeamentos diários contra instalações civis. E no terror que a guerra e a ocupação têm provocado.
Nestas circunstâncias é fundamental, um dia, trazer perante um tribunal especial Vladimir Putin. Ele é o criminoso-chefe. Não podemos pensar num fim da guerra sem o julgamento desse indivíduo.
A Europa Ocidental é, para além da Ucrânia, uma das vítimas desse terrorismo de Estado. Os cidadãos europeus que defendem Putin devem ser considerados colaboracionistas e traidores. Também deveriam ser julgados, caso a crise se agravasse seriamente.
Deixo acima o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
Cito apenas o seguinte: "A intervenção de von der Leyen foi mais política e concreta, como seria de esperar. Deve ser considerada, no geral, como positiva. Seria um erro, neste momento de múltiplos desafios existenciais, procurar minar a autoridade da CE e, em particular, da sua presidente."
Amanhã, a Presidente da Comissão Europeia irá discursar no Parlamento Europeu sobre o estado da União. Vou seguir com atenção o seu discurso. Mas diria, desde já, que o estado da União deve ser visto pela positiva. Os desafios têm sido imensos este ano, na sequência da instabilidade criada, primeiro, pela pandemia do coronavírus e depois, pela agressão russa e tudo o que essa política criminosa tem provocado como problemas e desafios para os diferentes países europeus, para além da destruição imposta à Ucrânia. No geral, os países da UE têm sabido responder de modo coerente. E os cidadãos têm mostrado um bom nível de solidariedade, apesar dos custos que isso implica. As altas taxas de inflação são o indicador mais visível desses custos. Mas têm sido aceites com alguma paciência. É verdade que o grande teste vai começar agora, quando chegar o período outonal. Esse deve ser um dos grandes temas do discurso de von der Leyen.
Este é o link para o meu post de hoje. O texto começa assim:
"A semana europeia recebeu duas grandes mensagens. Uma, a partir de Estrasburgo, é um apelo ao reforço da União Europeia. No essencial, é uma visão construtiva, apesar das dificuldades e dos desvios que estão a ocorrer nalguns estados-membros. A outra, proveniente de Moscovo, procura projetar força, na conceção clássica de poder militar. Esta última é uma mensagem perturbadora, de alguém que vê o futuro pelo prisma da confrontação. Não tem em conta as aspirações dos cidadãos, que querem paz e uma maior proximidade com o resto da Europa. E também não compreende que a cooperação e a interdependência entre blocos constituem as bases do progresso económico e social mútuo."
Que palavras associar ao discurso de Ursula von der Leyen sobre o “Estado da União Europeia”?
Serenidade. Voltar a acreditar no projecto europeu. Generosidade no apoio aos países mais pobres em vacinas contra a COVID-19. Ambição. Frustração. Firmeza em matéria de respeito pelo Estado de direito. Clareza quando à importância da liberdade dos media. Indefinição no que respeita à defesa europeia. Competição com a China. Alinhamento com os americanos no que respeita ao Indo-Pacífico, mas sem que se perceba o que isso significa. Migrações, um problema sem resposta comum. Política digital.
Hoje, dia da Europa, foi oficialmente aberta a consulta aos cidadãos da UE sobre o nosso futuro comum, enquanto europeus. Chamam-lhe Conferência sobre o Futuro da Europa. O seu lançamento teve lugar em Estrasburgo, que é a sede oficial do Parlamento Europeu.
A consulta deverá estar completada dentro de um ano, ou seja, na altura em que a França terá a responsabilidade da presidência da UE. Essa será igualmente a fase final da eleição presidencial francesa. Não vai ser fácil aos líderes franceses estarem, em simultâneo, focados nos resultados da conferência e numa campanha presidencial que se prevê muito desestabilizadora. A conferência acabará por receber menos atenção por parte de Paris do que deveria, pois o que contará acima de tudo é a questão eleitoral e quem será o próximo presidente da França.
Os movimentos de cidadania deverão prestar uma atenção especial a este exercício. O processo deve ir para além dos políticos profissionais, dos oportunismos e protagonismos. Tem de adoptar um cunho cidadão para poder criar raízes junto dos europeus e corresponder às preocupações das pessoas no quadro do horizonte temporal desta década.
Mas estarão os movimentos de cidadania suficientemente mobilizados para uma reflexão deste tipo? Ou ficaremos, como tem sido habitual, a discutir entre os iniciados, as elites que na realidade pouco ou nada têm que ver com o cidadão comum?
A responsabilidade de fazer desta conferência um sucesso tem de ser devidamente assumida por quem esteja próximo dos cidadãos e das preocupações quotidianas. Cada um, por pouca influência que possa ter, deve tentar contribuir para o debate comum.
A minha coluna de ontem no Diário de Notícias tinha como destinatários todos aqueles que na União Europeia querem desligar ajuda financeira da prática de um estado de Direito. As principais críticas que fiz diziam respeito aos dirigentes da Polónia, da Hungria e da Eslovénia. Mas nas entrelinhas ia mais longe. O primeiro-ministro português tem sido ambíguo nesta matéria. Quando se trata do consumo interno, não hesita em afirmar que orçamentos e valores democráticos devem ir a par e passo. Nas reuniões em Bruxelas, é muito menos taxativo. Dá mesmo a impressão, às vezes, que está mais próximo da posição defendida por Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, do que daqueles que vêem o futuro da Europa como uma comunidade de valores.
O meu texto tinha isso em linha de conta.
E hoje o jornal Público revela que assim parece ser. Num trabalho intitulado “Portugal criticou no Conselho o mecanismo de defesa do Estado de direito” fica a imagem de um governo com duas caras. No segredo das cimeiras, põe-se ao lado dos polacos, húngaros e companhia.Na praça pública, declara que é a favor da posição da Comissão Europeia, que não quer ver os fundos desligados da boa prática democrática.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de pensamento foi hoje atribuído pelo Parlamento Europeu à oposição bielorrussa. Apoio a decisão. A população bielorrussa tem sido de uma coragem e de um civismo exemplar na sua campanha contra o ditador Alexander Lukashenko.
E agora uma nota lateral sobre o assunto: a imprensa portuguesa de referência deixou passar o assunto esta tarde, nas suas páginas digitais. Apenas o Expresso e, em menor medida, o Público deram alguma atenção à atribuição do prémio.
O Estado da União Europeia, ou seja, o discurso que Ursula von der Leyen proferiu ontem no Parlamento Europeu é longo, mas vale a pena ler. A Presidente da Comissão Europeia fez uma análise positiva e progressista das várias questões que afectam a União Europeia e apresentou um programa de trabalho que deverá contribuir para o aprofundamento da agenda comum. As referências à economia digital e tecnológica, ao pacto verde, à soberania industrial da Europa, à cooperação em matéria de saúde pública, aos rendimentos mínimos, ao futuro dos Balcãs como parte do espaço europeu, à imigração, etc, bem como as observações sobre a Rússia, a China e os Estados Unidos são no essencial correctas. O problema estará na sua implementação. Primeiro, vários destes temas têm estado em cima da mesa há muito tempo, sem que haja acordo. Segundo, apesar da clara referência que faz aos valores europeus, a verdade é que estes valores não são entendidos da mesma maneira pelos diversos líderes europeus. Entre outros, Viktor Orbán poderá explicar-nos as razões de tais diferenças. Terceiro, ainda não saímos da crise provocada pela pandemia. O discurso deveria reconhecer esse facto e sugerir algumas medidas que tratassem da urgência que temos em frente de nós. Deveria, pelo menos, apelar a uma maior coordenação entre os Estados membros, para que se evitasse o que tem acontecido até agora, em que cada um decide à sua maneira, sem consultar o resto dos membros nem mesmo os vizinhos do lado. Quarto, Von der Leyen não menciona os perigos que existem no que respeita à continuação do projecto europeu. Ora, esses perigos são hoje mais reais do que nunca. Precisam que se fale deles com realismo. Creio que está aí o ponto mais fraco da sua intervenção. Não reconhecer que existem linhas de fractura muito fortes é um erro grave.