Os partidos políticos que andam pelas ruas do poder são, tantas vezes, uma perdição. Quem por aí passeia anda à procura de benefício próprio, em muitos dos casos. E são esses que acabam por tecer teias entre eles e conquistar os lugares onde existe alguma autoridade, que é então utilizada para proveito próprio. A gente séria e preocupada com o fazer bem, com a resolução dos problemas que impedem o desenvolvimento do país e que arrastam muitas para a pobreza, essa gente séria acaba por não chegar a parte alguma. São excluídos, deixados nas margens, e acabam por deixar a política. O grande desafio é dar a volta a esta situação, denunciar os oportunistas e fazer chegar ao poder quem está na verdade interessado nas causas mais nobres.
Foi agora detido o presidente da Câmara Municipal de Espinho e outros com ele relacionados. Falta tratar do caso do presidente anterior, que está agora no Parlamento pelo PSD e, por isso, tem imunidade, que precisa de ser levantada. Estes são mais uns exemplos da vasta corrupção que existe nos meios políticos, nomeadamente à volta do mau funcionamento das autarquias. O poder local é uma via rápida para a corrupção. Beneficia dos fundos europeus, do mau funcionamento do Ministério da Administração Interna, das redes partidárias municipais e distritais, e assim sucessivamente. Muitos dos negócios são à volta dos terrenos e da mudança da sua classificação e de obras inúteis.
Não tenhamos dúvidas: há muita corrupção no seio dos que andam na política.
O trabalho da Polícia Judiciária é de louvar. Mas muitos destes casos morrem depois nos corredores dos tribunais. E assim, o crime compensa.
O Ministério da Defesa é apenas um dos vários que funcionam mal. E é igualmente um dos que tem uma quantidade impressionante de funcionários na sede do ministério, quando na realidade eles são necessários noutros sítios.
Um partido político a sério deveria fazer uma avaliação dos principais ministérios e propor as reformas que julgasse mais importantes. Essa seria uma prova da competência e do patriotismo desse partido. Mas não vejo qual deles está em condições de conduzir um exercício desse género. O que por aí existe como partido é muito fraquinho e pouco mais do que uma rede de interesses.
Numa sociedade que vive à volta da televisão, quem aparece no ecrã personifica o partido. Para o bem e para o mal. Os cidadãos telespectadores julgam o partido a partir da imagem e da narrativa que é transmitida pelos programas televisivos. Não há que ter ilusões sobre isso. Daí que a responsabilidade do líder seja imensa.
Por outro lado, o líder tem um poder de decisão enorme dentro do seu partido. Por exemplo, a palavra final sobre as listas de candidatos cabe ao chefe máximo.
Por tudo isto, a sua responsabilidade, em caso de derrota, é enorme. Como também o é, em caso de vitória.
É prática habitual, nas democracias, que um líder partidário peça a demissão, após uma derrota pesada numa eleição. Uma derrota a sério descredibiliza politicamente quem esteve à frente da campanha. Tentar justificar o fracasso com a maneira como os adversários conduziram a sua estratégia é uma desculpa de mau pagador.
Trata-se de assumir a responsabilidade, que é isso que se espera de um dirigente democrático. Não é algo que deva ser pedido de fora, do exterior do partido. Mas também não deveria ser necessário chegar-se a uma situação em que a queda é imposta a partir de dentro. Deveria, isso sim, ser uma decisão imediata e livre do líder. Assim se percebe quem tem estofo de líder, quem compreende o que significa ser responsável e ter espírito democrático.
O bom do dia anterior às eleições é não haver propaganda. É uma espécie de dia de repouso e ainda bem. De reflexão não será. Num acto eleitoral como o presente, poucos serão os eleitores que ainda precisam de reflectir. A decisão está tomada há bastante tempo. As campanhas pouca influência têm sobre essa decisão. A única decisão que resta, para alguns, é sobre a participação na votação ou a abstenção. À vista dos números das infecções, e dos confinamentos, é provável que a abstenção prejudique sobretudo os partidos moderados. Veremos.
A imagem que fica, depois de tantos dias de campanha, incluindo a pré-campanha, é de que os políticos que por aí aparecem não têm o nível necessário para dirigir um país como o nosso, que precisa de levar uma grande volta. É a campanha dos medíocres que irão fazer mais do mesmo. Votar torna-se, assim, um mero descargo de consciência e não um acto de escolha. Vota-se, qualquer seja a escolha, ao nível dos grandes, em mais do mesmo.
A directora do Jornal de Notícias (JN) escreve hoje sobre “a boçalidade no espaço público”. Vale a pena ler esse texto. Deixo o link no final deste post.
Inês Cardoso baseia a sua escrita no que aconteceu em Beja com a líder do PAN, que foi insultada por um grupo de primários ligados à tauromaquia, bem como na expressão “nazizinho”. Esta última foi utilizada num pequeno encontro, aberto à comunicação social, de personalidades públicas com o líder do Partido Socialista, sem que este tivesse reagido, de imediato, para dizer que insultos desse tipo não são aceitáveis na luta política em Portugal, muito especialmente quando o visado é o dirigente do segundo maior partido.
Uma reacção clara e imediata de António Costa teria contribuído bastante para tornar a política portuguesa menos boçal. Serviria igualmente para enviar um recado a personalidades públicas que não vale tudo em política, nem mesmo durante as campanhas eleitorais. O combate à radicalização da palavra tem de começar pelos dirigentes políticos, sobretudo por aqueles que são mais ouvidos e mais representativos da sociedade portuguesa.
Hoje voltei a sublinhar que um país como o nosso, relativamente pobre e ricamente burocrático, precisa de uma governação estável e suficientemente representativa da maioria dos portugueses.
A solução mais adequada para a reforma e a modernização que são precisas deveria passar por um entendimento político entre o PS e PSD. Juntos representam à volta de 70% do eleitorado. O problema é que não se vê como conseguir tal entendimento. Isso não significaria necessariamente que deveriam governar em coligação. Mas significaria que deveriam estar de acordo no que respeita às grandes questões respeitantes à reforma do Estado, ao funcionamento da justiça, à desburocratização, à repartição das competências entre o poder central e o local, à facilitação das actividades económicas, à fiscalidade, bem como nas áreas sociais determinantes para a saúde e o bem-estar dos cidadãos.
É verdade que a Constituição exige apenas uma maioria parlamentar, metade mais um. Mas isso não é suficiente, face às medidas estruturais que são necessárias e que o nosso subdesenvolvimento relativo exige.
O problema é simples: os líderes políticos não querem ouvir falar de um acordo de regime. Um acordo baseado em equilíbrios e em medidas concretas, um pouco como o que foi negociado recentemente na Alemanha. Ou nos Países-Baixos. Falta-nos quem tenha a coragem política que uma tal proposição exigiria. Também carecemos de pragmatismo. A ideologia, tantas vezes oca, prima, num país que precisa de medidas concretas para avançar. É mais fácil dizer-se que se é da esquerda ou da direita do que pôr em cima da mesa propostas concretas e procurar, em seguida, construir as plataformas de acção necessárias.
Temos, assim, acima de luta, um problema de liderança. Não há quem tenha a coragem de sair da armadilha ideológica. Os dirigentes dos partidos, nos debates, falam de esquerda e de direita como se essas caracterizações vagas fossem a solução para os nossos problemas. São, na realidade, meras bandeiras que, desfraldadas, escondem a pobreza intelectual dos políticos que temos.
Os chamados debates políticos não debatem nada. Cada um faz a sua propaganda e procura lançar umas farpas à pessoa que está sentada à sua frente. Também há pouco esclarecimento. Na verdade, para a maioria dos intervenientes é um mau exercício de caça ao voto, feito sem estratégia nem respeito pela inteligência dos eleitores. Sem ter em conta os potenciais movimentos do eleitorado, as flutuações, que numa situação de crise como a actual, são de esperar. Falta a profundidade, a imagem de seriedade e a atitude de abertura em relação aos outros, que a política deve ser feita de alianças e de consensos alargados.