Nas duas entrevistas que realizei hoje com dois canais televisivos insisti, acima de tudo, na necessidade de se acabar com a ilegalidade que é a agressão da Rússia contra a Ucrânia e iniciar um processo que leve à paz. Sei que isso é extremamente difícil de conseguir. Mas a continuação da guerra é ainda mais perigosa. Aprofundará a destruição da Ucrânia e poderá levar a um conflito mais amplo, de consequências imprevisíveis.
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias. Cito, de seguida, um parágrafo do meu texto.
" Terceiro, lembrando continuamente os Protocolos de Genebra sobre os limites da guerra. A grande preocupação é a defesa das populações civis. Os ataques indiscriminados são proibidos; os atos de violência militar para criar terror são um crime de guerra; as infraestruturas indispensáveis à sobrevivência das comunidades devem ser poupadas; certos tipos de munições são absolutamente interditos, incluindo as bombas de fragmentação, as armas químicas e biológicas. É igualmente altura de sublinhar as regras sobre o tratamento dos prisioneiros de guerra, agora que os defensores do último reduto em Mariupol se renderam às tropas russas. Essa rendição é um acontecimento altamente político e simbólico, que pede uma referência especial, em defesa dos direitos desses prisioneiros. E de todos os outros, claro."
Sergey Lavrov, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, é um ser execrável. Reconheço que tem muita experiência e habilidade. Mas coloca tudo isso ao serviço do seu patrão, transformando-se assim num lacaio de luxo. Mostra ser capaz de dizer as maiores barbaridades, como se estivesse a falar da pureza da água mineral acabada de sair da fonte. Com gente assim, é impossível ter um mínimo de confiança, a confiança que é necessária para um processo de paz. Antes pelo contrário. Lavrov lembra-nos que a actual direcção russa não merece qualquer tipo de confiança.
Continuo a repetir que só há uma solução para a crise criada pela Rússia: parar imediatamente a agressão contra a Ucrânia e pagar reparações de guerra. Parece-vos impossível? Difícil, admito que o será. Impossível, não. Sobretudo porque a alternativa poderá ser um alargamento do conflito, com todos os custos e consequências que tal opção possa acarretar.
Ninguém quer uma confrontação armada com a Rússia. As medidas económicas e financeiras mais as sanções políticas devem ser suficientes, se bem administradas e suficientemente estratégicas. Hoje, não se fala de guerra. Essa é uma palavra que não deve ser pronunciada. Mas toma-se todo o tipo de medidas não-bélicas que levem o adversário a perceber que as suas acções são um erro, um crime, e que devem cessar.
Esta tarde, numa conversa em directo com a Antena 1, sobre as conversações entre as delegações da Ucrânia e da Rússia, disse que se deve ser optimista mas com muita prudência. Já havia dito o mesmo ontem à noite, na SIC Notícias, depois de ter recebido indicações de que poderia haver algum progresso em Istambul.
O que parece possível, como acordo, tem muitas condições subjacentes. O cessar-fogo, que deve ser a primeira etapa de um verdadeiro processo negocial, ainda está longe de acontecer. E as palavras têm significados diferentes, quando ouvidas em Moscovo ou em Kyiv.
Também referi que a Rússia está sob pressão para que avance para um compromisso. São cinco os factores que contribuem para essa pressão: as operações no terreno; as sanções; a opinião pública internacional; a Assembleia geral da ONU; e a China.
Esta questão pode ser um tema de um texto mais longo, para publicação ou debate na comunicação social.
A agressão russa contra o povo da Ucrânia atingiu hoje um nível ainda mais horrendo. Estamos agora na fase dos crimes de guerra em série e da destruição em massa de bairros urbanos. Mariupol ficará na história como a Guernica da era contemporânea. E a destruição urbana será vista como uma repetição dos crimes praticados pelos russos na Síria e na Chechénia.
Esta nova fase exige medidas drásticas, do ponto de vista económico e financeiro, contra a Rússia. Pede igualmente que se insista junto dos grandes países do mundo para que condenem os crimes que estão a ser praticados na Ucrânia.
É possível que medidas económicas e financeiras não sejam suficientes. A exigência absoluta já não é apenas fazer parar a guerra. Os actos praticados pelo regime de Vladimir Putin mostram que é preciso acabar com esse regime, que representa um perigo excepcional, por causa do armamento nuclear, para a paz e a segurança da Europa e de outras nações, bem para além do espaço europeu.
Cada dia traz uma nova complexidade e um novo tipo de ameaças, no que respeita à guerra de agressão contra a Ucrânia e o seu povo. Hoje, a novidade prende-se com a radicalização da China, que parece estar cada vez mais próxima da posição russa. Existe agora a possibilidade de um apoio militar – indefinido, para já – à Rússia. E aqui há duas surpresas e uma preocupação. A primeira surpresa resulta do pedido de assistência feito pela Rússia. Não se estava à espera disso. Essa démarche mostra que a Rússia tem algumas dificuldades em sustentar uma campanha tão vasta como a da Ucrânia. E tão difícil de fazer avançar, devido à resistência ucraniana. A segunda surpresa é ver a China aberta à possibilidade de se comprometer ao lado da Rússia numa operação que os chineses sabem que viola a lei internacional. A habitual prudência chinesa parece ter sido esquecida. A preocupação tem de ver com a possibilidade de alastramento do conflito. Se a China aparecer claramente ao lado da Rússia, em termos militares, a guerra ganha uma outra dimensão. Se isso acontecer, os EUA e os europeus irão certamente aprovar um pacote de medidas punitivas contra a China. E esta responderá. Abrir-se-á, assim, uma espiral muito perigosa para a paz internacional.
A invasão militar ordenada por Vladimir Putin contra Ucrânia levanta toda uma série de questões. Mas acima de tudo, é preciso afirmar de maneira clara que uma decisão desse tipo viola a lei Internacional, é criminosa e inaceitável. A única resposta irrefutável da comunidade internacional é da condenação de um acto de guerra desse tipo e a exigência da retirada imediata das forças invasoras. É óbvio que Putin não o fará. O seu objectivo consiste em transformar o país num estado vassalo do Kremlin. Não creio que pretenda integrar a Ucrânia na Rússia. Mas quer certamente colocar à frente do país um grupo dirigente que aceite uma subordinação total
Do lado da União Europeia, uma resposta complementar consiste no agravamento e na expansão das sanções económicas e financeiras, bem como contra personalidades do regime. Essas medidas devem punir os principais responsáveis políticos e aqueles que estão ligados às indústrias estatais de maior importância, nomeadamente as relacionadas com o desenvolvimento das forças armadas. Devem igualmente ter um impacto directo nas dimensões financeiras e tecnológicas da economia russa.
Nesta fase, Putin não aparece incluído na lista das personalidades sancionadas. Esta é uma questão que deve ser ponderada e muito provavelmente revista se a ofensiva continuar. A opinião pública europeia precisa de acreditar nas sanções. A inclusão de Putin dará muito mais credibilidade à decisão de sancionar