O almoço de hoje: uma espécie de paté de peixe, com forma de hambúrguer, passado a correr na frigideira.
O pessoal português que estava comigo à mesa disse que era um puré de matéria indefinida com sabor e cheiro a peixe sem nome. Ainda tentei explicar que talvez se tratasse de uns filetes de um pescado, nome desconhecido, que abunda no fiorde que nos refresca a vista, a dois passos da cantina, mas ninguém se deixou convencer...
Eu comi o meu. Mas eles não conseguiram. Estão mal habituados. Ainda vêm de uma época em que o peixe era fresco, tinha cabeça, rabo e espinhas.
Lembrei-me então de que umas horas antes, um outro colega, habitante da Nova Escócia, no Canadá do bacalhau, me havia dito que na baía à frente da sua casa, há trinta anos, bastava remar um pouco, deitar a rede à água e puxar peixe dos grandes. Hoje, é preciso ir longe. Com sorte, haverá um ou outro bacalhau na rede, com um quarto do tamanho dos de outrora.
Tudo isto me faz pensar que as políticas de pesca têm sido uns verdadeiros desastres, na Europa e noutras partes do mundo.
Hoje foi o dia em que um atum foi vendido na lota de Tóquio por quase 300 mil Euros. O valor faz pensar na complexidade da cadeia comercial, e na logística altamente eficiente e custosa, que existe entre o momento da captura e o consumo de um pequeno pedaço do peixe, num dos restaurantes mais caros da capital japonesa.
Mas o maior problema é que, com preços assim, torna-se impossível proteger eficazmente uma espécie que está fortemente ameaçada.
Numa outra escala de valores, é o que se passa com o sector da pesca na UE. As quotas de pescado são decididas com base em critérios políticos, sem qualquer relação efectiva com a sobrevivência das espécies. Só que muita da nossa pesca é meramente artesanal. Não tem a sofisticação que colocou o dito atum em Tóquio, esta manhã, umas horas apenas depois de ter sido pescado, no outro lado do mundo.
Na Costa Ocidental de África há cada vez menos peixe nas águas a que os pequenos pescadores conseguem chegar.
Nalguns sítios, traineiras vindas da Ásia pescam a escassas centenas das linhas costeiras, ilegalmente, mas sem que haja capacidade e vontade política para o impedir. Conheço casos em que as tripulações dessas traineiras destroem pura e simplesmente as redes dos artesãos locais que encontram no mar, ou os ameaçam com armas de fogo, para que saiam das melhores áreas de pesca.
Noutros, barcos vindos da Europa do Sul deitam âncora a uma certa distância da costa e limitam-se a esperar que os pescadores tradicionais lhes venham vender, em pleno mar, os melhores resultados das suas pescarias. Em trocam, levam algum dinheiro, cigarros e outros bens para contrabandear em terra. Nalguns casos, há comércio de drogas, a coberto da actividade piscatória.
Assiste-se, assim, a uma destruição muito rápida dos recursos e ao aparecimento de outros modos de vida, nem sempre legais