Estamos à beira de ataques cibernéticos em massa contra alvos na Ucrânia e nos estados-membros da União Europeia. Os objectivos são de duas ordens: criar uma complexa paralisia de serviços essenciais; roubar informação sensível.
O ataque contra o Ministério dos Negócios Estrangeiros português terá visado a obtenção de informação sensível. Aparentemente, foi um ataque com sucesso.
Um dos consultores convidados para o exercício que está a decorrer em Stavanger é originário da Somália. Vive em Nairobi. Contou-me hoje que vai, de há ano para cá, com alguma frequência a Mogadíscio. Por razões familiares e também por ter adquirido uma quinta nos arredores da capital. A quinta é um investimento no domínio da pecuária. E uma boa indicação das mudanças que estão a ocorrer na capital da Somália. Pela primeira vez, depois de duas muito longas décadas, há uma luz de esperança no país. É verdade que a comunidade internacional tem dado um grande apoio à estabilização da Somália, incluindo no respeitante ao combate aos terroristas de Al-Shabaab e à pirataria. E é de esperar que continue o apoio. A normalização da situação nesse país terá um impacto de relevo na segurança dos seus cidadãos bem como na região, a começar pelo Quénia. E o Quénia bem precisa de voltar a crescer.
Passei o dia de ontem num dos salões do Palácio das Necessidades. As cadeiras eram absolutamente inconfortáveis, datavam de outra época quando as pessoas ainda eram obrigadas a manter as costas direitas nas sessões públicas, e a temperatura ambiente era incómoda, sobretudo tendo em conta o fato e gravata exigidos pela ocasião. Nas paredes uns monstros atacavam uns anjos e outras personagens que os artistas de há séculos bordaram com muita ternura e beleza, coisas que hoje estão fora de moda, mas ninguém reparou, para além de olhar rápido, que as mensagens vindas dessas peças de arte nos lembravam a dor, as lutas quotidianas e a esperança, um dia, de uma salvação num mundo melhor.
O desconforto, o calor e as mensagens simbólicas constituíam o quadro ideal para discutir a segurança no Golfo da Guiné. Foi uma boa discussão, bem informada. Teve o mérito de chamar a atenção para uma parte do mundo que é próxima dos interesses europeus. Serviu ainda para estreitar as relações com Angola, a Nigéria e o Brasil, bem como confirmar a conjugação dos nossos interesses com os interesses dos Estados Unidos, nessa região de África.
Para mim, foi uma oportunidade para partilhar com os presentes algumas conclusões que tirei dos meus 35 anos de observação da região. E sobretudo de falar na necessidade do diálogo político com os dirigentes africanos que contam no Golfo da Guiné, um diálogo que do lado europeu precisa de ser conduzido a um nível de responsabilidade elevado e que deve ser franco, capaz de chamar as coisas pelos nomes – a corrupção endémica, a má governação, as violações dos direitos humanos, etc – e, ao mesmo tempo, de sublinhar a importância, para ambos os lados, de parcerias que levem a acções comuns.
Na Costa Ocidental de África há cada vez menos peixe nas águas a que os pequenos pescadores conseguem chegar.
Nalguns sítios, traineiras vindas da Ásia pescam a escassas centenas das linhas costeiras, ilegalmente, mas sem que haja capacidade e vontade política para o impedir. Conheço casos em que as tripulações dessas traineiras destroem pura e simplesmente as redes dos artesãos locais que encontram no mar, ou os ameaçam com armas de fogo, para que saiam das melhores áreas de pesca.
Noutros, barcos vindos da Europa do Sul deitam âncora a uma certa distância da costa e limitam-se a esperar que os pescadores tradicionais lhes venham vender, em pleno mar, os melhores resultados das suas pescarias. Em trocam, levam algum dinheiro, cigarros e outros bens para contrabandear em terra. Nalguns casos, há comércio de drogas, a coberto da actividade piscatória.
Assiste-se, assim, a uma destruição muito rápida dos recursos e ao aparecimento de outros modos de vida, nem sempre legais