Miserabilismo
Estou a ficar com a impressão que existe gente em Portugal que gostaria de pôr uns avisos um pouco por toda a parte a dizer que "Não é permitido sonhar!"
Espero que seja uma onda passageira ou um mau entendimento meu.
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Estou a ficar com a impressão que existe gente em Portugal que gostaria de pôr uns avisos um pouco por toda a parte a dizer que "Não é permitido sonhar!"
Espero que seja uma onda passageira ou um mau entendimento meu.
Esta semana escrevo na Visão sobre François Hollande, a campanha eleitoral francesa e o desemprego na Europa. Para mim, o desemprego deve ser a preocupação central de todos os líderes políticos. Infelizmente, não é assim. França
No dia em que apareceu o meu texto, voltou a falar-se da Grécia e de um novo resgate, de cerca de 170 mil milhões de euros. A situação grega e as perspectivas para os próximos anos são aterradoras. A Grécia não consegue dar a volta à sua economia, está num processo de pauperização acelerado. Por outro lado, a UE está agora muito pouco disposta a ajudar a Grécia. Chegou-se a um ponto em que se diz, alto e bom som, que a Grécia não tem remédio.
No meio de tudo isto, não podemos deixar de pensar na situação portuguesa. Mais do que nunca, é fundamental investir na diversificação da nossa economia, na expansão dos sectores mais competitivos, criar riqueza e emprego. Aliás, o meu artigo de hoje defende essa mesma tese.
Está disponível no sítio:
http://aeiou.visao.pt/a-europa-a-procura-de-emprego=f645573
Os meus leitores fizeram ontem, como de costume, comentários muito interessantes ao meu blog sobre a situação de agitação que se vive em Moçambique. Queria destacar uma frase, de um leitor que assina como Anónimo, que diz, cito:
"...Que a elite política das terras lusas que escamoteia a opinião de gente avisada da comunidade da segurança e defesa aprenda com esta situação: há descontentamento no ar em Portugal!! Os riscos são sérios!!"
O leitor está a chamar a atenção para duas mensagens importantes, ao fazer a analogia com o que se passa em Moçambique:
- O nosso pessoal da segurança e defesa, a inteligência interna, é da opinião que o mal-estar em Portugal, certamente relacionado com as dificuldades crescentes da vida quotidiana, está a atingir um ponto de ruptura;
- O governo não os está a ouvir, varre essas análises para debaixo do tapete.
Penso que este Anónimo pertence a um serviço de informações. Mesmo que assim não seja, vale a pena ponderar e ter em conta o que nos diz.
Depois do enfraquecimento do governo, tivemos hoje a confirmação do enfraquecimento da Presidência. Sem falar, claro está, na pouca qualidade da maioria dos novos deputados.
À crise económica junta-se agora a crise das instituições da República.
Preocupante.
É tempo de dar a primazia aos interesses do país. Ultrapassando as questões pessoais e os egos ofendidos ou vingadores. Atacando os verdadeiros problemas, da economia, da justiça, da educação, da pobreza e da segurança.
No debate de ontem, entre os dois chefes, nada de novo. Um diálogo de míopes. Os tolos liderados por míopes.
As questões fundamentais do emprego e do crescimento económico, da falta de competitividade da economia portuguesa, da Justiça que não funciona, do endividamento do Estado e das famílias, da insegurança e ordem pública, não mereceram qualquer atenção.
Entretanto, queiram fazer o favor de notar que nos últimos quatro anos, a coligação alemã, que irá a votos no mesmo dia das nossas legislativas, viu a criação de dois milhões de novos empregos.
Afinal, a crise não é igual para todos.
Portugal precisa de levar uma volta de alto a baixo. Está muito mais em crise do que se quer fazer crer. A começar por uma muito séria crise de pobreza e afundamento económico.
Não quero ser pessimista. Mas há que ver as coisas como elas são.
Os dados hoje divulgados mostram um acréscimo de 30% no número de desempregados, em Portugal, nos últimos 12 meses. São valores que fazem pensar. Contrariamente ao que nos querem fazer crer, estamos muito longe do fim da crise. Bem como de termos encontrado uma resposta para a crise.
Temos mais desemprego, mais défice público, mais problemas estruturais.
Não temos nenhum plano de renovação económica que faça sentido. Somos os reis das medidas avulsas.
Dizem-me que os preços dos apartamentos mais pequenos, uma espécie de T1 com 40 metros quadrados, baixaram, em termos médios, de cerca de 25%. Com 750 000 dólares já se pode comprar qualquer coisa em Manhattan, uma sala e um quarto.
Certos jovens, com os dentes afiados e grande agilidade mental, perderam os empregos que tinham nas empresas financeiras que vivem à volta de Wall Street. Estão actualmente numa situação de bancarrota. Compraram, nos dias fáceis, apartamentos que custaram 5 milhões de dólares. Hoje, esses andares valem, quando aparece comprador, o que é raro, metade desse valor. O condomínio custa uma fortuna cada mês, vários milhares de dólares. E não há dinheiro para suportar esse custo. É a derrocada.
Mas, pelo menos, há optimismo, de novo. Muita gente pensa que o pior da crise já passou. Que as políticas de Obama estã a dar resultado. Veja-se os dados do PNB, ontem divulgados.
Encontrar maneira de sobreviver este período, até à recuperação económica, é o drama do quotidiano. Amanhã a vida voltará a correr bem. Mas é preciso lá chegar.
Um drama que não impede os bons restaurantes de continuar cheios. Um jovem de Nova Iorque nunca come em casa. Mesmo se está na bancarrota.
A VISÃO desta semana teve a amabilidade de publicar o meu texto mais cedo. Foi enviado hoje de manhã para sair na Quinta. Saiu hoje mesmo à tarde. Parece que gostaram muito.
Que pensa o leitor?
http://aeiou.visao.pt/pobre-obrigado=f509965
Comentem na própria revista, por favor.
Num período de crise, a questão central é da protecção política e social dos mais vulneráveis. Das pessoas que têm uma base económica frágil. Que conhecem o significado da palavra precariedade, quer por motivo de baixos rendimentos familiares, de desemprego, de idade e género, quer ainda por trabalharem em sectores da economia que estão ameaçados pela crise, pela evolução estrutural do sistema produtivo e pela concorrência internacional.
Convém falar nisso, tantas vezes quanto necessário, porque os políticos têm uma memória curta. Não podemos deixar que se esqueçam das suas responsabilidades.
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