O meu texto sobre o Sahel levou alguns leitores a consultar a internet, para perceberem melhor que região é essa. Fico contente por ter despertado essa curiosidade. Mas queria acrescentar algo sobre as populações do Sahel. São, em geral, gentes com um grande sentido de dignidade e uma enorme capacidade para sobreviver em condições bastante adversas. Viver em zonas áridas, no limite do grande deserto do Saará não é fácil. Mas as pessoas desenvolveram, ao longo de muitos séculos, estratégias de sobrevivência. Vivem com imensas dificuldades, mas vivem. Não podem, no entanto, sobreviver se os líderes políticos e militares forem corruptos e se a violência dos bandos armados não for controlada. Essa era uma das mensagens do meu texto.
Uma outra mensagem é para lembrar que temos de ter um conhecimento maior do mundo que está ao pé da nossa porta. Não podemos concentrar a nossa atenção apenas no que se passa na nossa paróquia. Temos interesses que vão muito além desse território limitado que é o que os nossos olhos vêem todos os dias. Outros europeus agem assim. Nós não podemos ficar para trás.
Patético. Esse é o adjectivo que me vem à mente, ao ver os nomes dos políticos que deverão encabeçar as listas ao Parlamento Europeu dos dois partidos do centro – o PS e o PSD. Ainda pensei em ridículo, como palavra-resumo. Ou, em medíocre. Mas, patético traduz melhor a minha apreciação. E a minha preocupação, não escondo, pois é grande o desassossego que me inquieta.
Cada uma dessas personalidades é uma escolha lamentável. Pior ainda, numa altura em que a União Europeia se defronta com desafios existenciais, quer na frente interna quer nas suas relações estratégicas com três dos seus grandes vizinhos – os Estados Unidos, a Rússia e o Norte de África/Sahel –, para mencionar apenas o que me parece particularmente importante, na área das relações exteriores. E também num momento em que Portugal precisaria de reflectir sobre os seu papel no futuro de uma UE mais forte e mais coesa.
Não há defesa comum sem que se defina primeiro uma política e uma estratégia que sejam subscritas por todos os Estados interessados. É por aí que se deve começar. Chega-se a um acordo quanto às ameaças externas, definem-se os objectivos políticos que devem ser alcançados e desenha-se o plano estratégico que deverá definir o quadro operacional que permita atingir os desígnios políticos. Depois, cabe a cada um dos Estados membros decidir como se deve reorganizar de modo a inserir-se no todo.
Falar apenas de orçamentos, de missões conjuntas ao nível do terreno ou de coordenação nas compras de equipamento soa bem, não é mau mas não leva a um esforço comum de defesa.
Uns breves comentários, no fim de um dia muito agitado.
Portugal, que tem uma economia pobre, não precisa de radicalismos anticapitalistas e de infantilismos doutrinários. Necessita, isso sim, de serenidade política que atraia investimentos e dê confiança a quem pode criar economia e emprego.
O primeiro-ministro não pode dar a impressão que não controla as suas hostes, sobretudo os mais exaltados dos extremistas e outros “jovens turcos” que andam aos pulos para serem vistos pela pacóvia que controla os meios de comunicação social.
Veja-se se a lista dos chefes de Estado que o Presidente tem a intenção de encontrar em Nova Iorque, nas margens da Assembleia-Geral da ONU e prometa-se, de seguida, uma velinha à Virgem de Fátima.
Entretanto o Wall Street Journal publicou um artigo de opinião contra António Guterres. Diz que o nosso compatriota não soube gerir o ACNUR, invocando para isso uma investigação interna da ONU, recente, que de facto existe, mas que não incrimina Guterres. Enfim, um artigo de lixo num jornal influente.
Interrogo-me muitas vezes sobre o futuro da cooperação para o desenvolvimento. Sobretudo quando vejo a atitude dos políticos, em Bruxelas e nas capitais europeias, que parecem agora convencidos que a ajuda ao desenvolvimento é uma matéria menos importante. Uma rúbrica orçamental que pode ser podada sem grandes custos eleitorais. E que as relações exteriores devem estar mais focadas no comércio, no sector privado, nos interesses económicos.
Ora, tudo é uma questão de equilíbrio. Pôr o acento na diplomacia económica esquecendo a política e a solidariedade entre os povos é uma ideia simplista, que desconhece as relações profundas que existem entre as duas vertentes das relações exteriores. A imagem externa, a intervenção diplomática a favor das grandes causas mundiais, a ajuda humanitária e para o desenvolvimento, o empenho em missões de paz, a política de alianças, tudo isto conta e acaba por influenciar o posicionamento económico internacional do país.
O Primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, é um dos poucos dirigentes que entende esta rede complexa que deve definir o relacionamento externo de um país. Embora conservador e muito dado a cortes orçamentais em vários sectores, Cameron tem aumentado as verbas para a cooperação. Hoje, o Reino Unido é um dos raros países que dedica 0,7% do seu PIB à cooperação. Ou seja, que cumpre o critério aprovado no quadro da OCDE.
Não será por acaso. Vale a pena pensar que se os Britânicos o fazem é porque há um retorno político e económico numa boa política de cooperação.
As reacções em Portugal às palavras do Presidente de Angola, que declarou não ser apropriado, de momento, prosseguir o projecto de uma parceria estratégica entre o seu país e o nosso, parecem-me desmedidas. José Eduardo dos Santos tentou fazer pressão sobre Portugal, de modo aberto e em público. A esse tipo de actuações responde-se, em diplomacia, com uma ou duas frases simples, apenas para reafirmar a importância que Portugal dá a um relacionamento excepcional com Angola. E para acrescentar que a cimeira prevista para Fevereiro de 2014 é tida, em Lisboa, como uma prioridade de primeiro grau das nossas relações exteriores.