Hoje andei fora do mundo. Mas mesmo assim, tive tempo para uma breve digressão pela situação na Alemanha. As notícias são boas. Nada que ver com aquilo que nos rodeia, por aqui. Existe trabalho, há encomendas, as pessoas não param nem desanimam e a economia continua a funcionar a um bom ritmo. Até a classe política parece empenhada em coisas sérias.
Pensei que Portugal também poderia ser assim. Como o digo de vez em quando, é tudo uma questão de liderança, de trabalho e de respeito pelos outros.
De repente, as pressões políticas limpam os céus da União Europeia e os voos recomeçam. Mas há uma outra nuvem que continua a pairar sobre a Europa: a da confusão dos líderes, uma mancha escura que é composta por várias substâncias tóxicas, incluindo o medo de acarretar com as responsabilidades, a preferência pelas situações de facilidade, a falta de visão, as hesitações, o não te rales.
Dito de outro modo, parece que não há piloto no cockpit europeu. É tudo ao sabor das erupções, das pressões e dos ventos fortes.
Entre as muitas coisas que não entendo, uma delas é a urgência de uma revisão constitucional em Portugal. Que razão leva certos dirigentes a dizer que é preciso rever a Constituição nos próximos meses?
Fico com a impressão que, mais uma vez, numa altura de crise nacional profunda, se confunde as prioridades, se procura distrair a opinião pública com matérias menos prementes, quando a economia, a sociedade, a pobreza, o futuro do nosso país como Estado membro da UE deveriam ser os temas dos grandes debates nacionais.
A confusão à volta dos desafios que são cruciais, ou é deliberada e mal intencionada, ou, então, mostra que quem anda a fazer política tem as prioridades desencontradas com o país real.
Na política eleitoralista, o que conta são os efeitos de curto prazo. Mesmo quando o pano de fundo é muito pouco claro. Interessa que o imediato tenha cores claras e vivas. Quanto ao resto, depois se verá.
É o que está a acontecer com os dados do PIB, nalguns países europeus, incluindo em Portugal. Neste período de vésperas de eleições, na Alemanha, em Portugal, de referendo na Irlanda, é fundamental que o PIB, no último trimestre, tenha crescido umas décimas.
Permita dar palmadas no peito. É a satisfação de quem está no poder, e por lá se quer manter.
Só que estas décimas poderão custar muito caro. Estão a ser obtidas à custa de intervenções massivas do Estado na economia. Sem um mínimo de atenção ao endividamento público, sem que se faça um esforço de reestruturar a economia. A reestruturação seria a solução de longo prazo, durável e criadora de uma nova dinâmica económica.
Mas quem quer ouvir falar do longo prazo, quando as eleições são já em Setembro?