Em matéria de política, a noção de “consenso” parece-me pouco dinâmica. Creio que será sempre melhor falar em acordos, em plataformas negociadas, em compromissos convergentes, em pactos programáticos que sejam o ponto de encontro das maneiras de ver os vários interesses que definem a sociedade portuguesa. Assim, cada um luta pelo que lhe parece mais apropriado, mais próximo das causas que defende, e depois chega-se a um equilíbrio entre duas ou mais partes. Passa-se, então, a um pacote de acções concertadas ou comuns.
Compreendo perfeitamente que o Secretário-geral do Partido Socialista faça, no encerramento do Congresso de hoje, um apelo ao voto e a uma maioria absoluta. Assim deve pensar e agir o líder de um partido com ambições – e possibilidades – de governação. Deve ambicionar e lutar pela obtenção de uma maioria parlamentar que lhe permita exercer o poder com alguma estabilidade.
O que não compreendo são outras coisas.
Uma delas, tendo em conta as medidas impopulares que o governo actual tem estado a seguir, diz respeito aos resultados das sondagens. Quais serão os motivos que explicam os mais ou menos, e apenas 33%, de intenções de voto no PS? Parece pouco, nas circunstâncias em que vivemos. Estamos certamente longe da maioria absoluta.
Outra terá que ver com as alianças “à esquerda” do PS. Vários dirigentes destacados do partido fizeram um apelo nesse sentido. Será que estarão a pensar numa participação dos esgrouviados mentais do Bloco num governo futuro? Ou numa coligação com o PCP? Seria bom que se soubesse antemão.
Também não se compreende os ataques sistemáticos ao Presidente da República, quando o adversário a isolar e a vencer é o governo e os partidos que lhe servem de sustentação. Incluir o PR na lista dos alvos a atacar só serve para dispersar as atenções, dividir os esforços e alienar alguma parte do eleitorado, a que não aceita radicalismos cegos e a política do bota-abaixo sistemático.
E já agora, aquele miúdo que utilizou o verbo “endoidar”, representa quem, dentro do partido? Um futuro partido de governo não se pode deixar “endoidar” por rapazolas. Sobretudo, num 25 de Abril.
Barack Obama não procura yes-men nem yes-women para a sua administração. Só prova que é um líder a sério, sem medo das opiniões diferentes e das personalidades fortes. Compare-se a maneira com escolhe individualidades do mais elevado calibre com os "sim-senhor" que rodeiam os nossos dirigentes.
O PCP, que hoje concluiu o seu XVIII Congresso, responde à crise de agora com a linguagem dos tempos de outrora. E´ uma maneira simples e acessível de explicar a embrulhada actual e de oferecer um porto de refúgio a quem as tempestades da vida não deram muitas oportunidades.
Mas também um beco sem saída.
O respeito histórico que o PCP merece, pelo seu papel na luta contra a ditadura, não invalida que se reconheça o desajustamento actual. Gente boa, certamente, mas fora dos carris do futuro.
O Ministro belga da Defesa declarou ontem no Parlamento em Bruxelas que " os blogues são perigosos. "
Pieter De Crem acrescentou que... "actualmente, toda a gente é livre de publicar o que lhe passa pela cabeça nos blogues, sem que se sinta responsabilizado..."
Ou seja, os blogues fazem cada vez mais medo aos ministros e aos senhores do abuso do poder. E´ a democracia em directo que lhes causa tanto pânico.
No caso deste ministro, o senhor tinha ido a Nova Iorque, a uma pretensa reunião das Nações Unidas, uma justificação que não fazia sentido, pois a reunião havia sido transferida a tempo para Genebra. Mas o senhor queria fazer a viagem, que em Bruxelas não havia nada de excitante para fazer. E assim aconteceu. Só que Pieter passou o serão num conhecido bar belga de Manhattan, bebeu uns copos, cantou umas letras brejeiras e confessou-se mesmo à empregada do bar, dizendo que por ali estava para se distrair um pouco da monotonia da vida política belga.
A jovem empregada, também de nacionalidade belga, contou o episódio no seu blog.
Uns dias depois, e assim se tornou pública esta pequena saga de ministros sem grandes princípios, o bar despediu a jovem. A pedido do gabinete do ministro.
Ou seja, o ministro da guerra ganhou a batalha da mesquinhez, mas agora tem que explicar no seu parlamento a sua estratégia de retiro de uma história de abuso de poder.
O Banco Português de Negócios (BPN) , negócios legalmente obtusos e fechados em gabinetes fora das vistas, forrados com madeiras preciosas, surgiu no seguimento do fim do Cavaquismo, na segunda metade dos anos noventa.
Desde o início que apareceu ligado e próximo de certos quadros dirigentes do PSD. O homem forte do banco, o agora detido Oliveira e Costa, fora um senhor nas finanças do ministério e um homem de confiança do então primeiro dos ministros, Cavaco Silva.
Por detrás do painel da frente, neste banco de aparências e de colarinhos brancos, estaria um cavalheiro público bem mais inteligente, que hoje é, ainda, Conselheiro de Estado do Senhor Presidente.
Talvez tudo isto explique um certo mal-estar que se passeia agora pela Lapa, como fantasmas à volta da Velha Senhora Sem Jeito Para Estas Coisas. Um incómodo. A política é de facto mais fácil quando se suspende a democracia.
E o maroto do Portas, o Paulinho Mal-humorado e de dedo terrivelmente ameaçador, a espreitar a oportunidade, que ele vive dos restos mortais do PSD. Uma verdadeira ave da família muito variada e ilustre dos abutres. Pediu logo um inquérito ao pobre, porque falido, do BPN.
Acabo de ler um testemunho que descreve o percurso, verdadeiro, de uma loucura. Um homem de Belfast traumatizado, quando criança, pelas explosões, a violência entre as comunidades, as tentativas de assassinato contra o seu pai, vai em missão ao Ruanda, depois ao Iraque, e que acaba por se deixar ir abaixo, esfrangalhar-se.
Já numa outra missão, um outro homem, também de Belfast, meteu uns tiros nos camaradas que com ele estavam de guarda, num momento de fractura psicológica. Aconteceu numa das missões de paz das Nações Unidas, no Médio Oriente.
Num ambiente de grande tensão, conhecer cada personalidade, cada percurso, a história de cada um dos intervenientes, é fundamental. Permite antecipar, prever e evitar.
Na política, onde as tensões são o pão quotidiano, passa-se o mesmo. Há muitas loucuras. Temos, por isso, que dar mais atenção às psicologias de cada dirigente. Caso contrário, corremos riscos de grande vulto.
A meio da noite de hoje, Barack Obama devera' aparecer como o vencedor das eleições presidenciais americanas. Os níveis de participação eleitoral ultrapassam, neste momento, as expectativas, o que faz destas eleições uma competição a serrio e lhes da' uma legitimidade fora de par.
A vitória de Obama, a confirmar-se, marcara' um câmbio histórico nos Estados Unidos. Não só traduzira' a nova face da América, em todos os sentidos, incluindo uma América mais diversificada, menos europeia, mas será acima de tudo um reafirmar da dignidade das pessoas, independentemente das suas origens raciais.
Significara' também o renascimento da política de qualidade, serena, tolerante, informada e educada, elegante e intelectualmente estimulante. O conceito de liderança voltara' a ter um significado que sempre deveria ter tido: abrir o caminho, mostrar novas maneiras de encarar a vida em sociedade, saber ousar, saber antever, saber assumir as responsabilidades que a vida política acarreta.
Este dia e' de todos nós, por o ser de todos os santos.
Quem e' mais santo que um português, que tem a paciência de aguentar uma situação económica sem saída, no resvés da pequena economia de sobrevivência, e a bondade de aceitar uma classe dirigente que não consegue perceber que o país esta' a rebentar pelas costuras da pobreza e das dificuldades, a perder pontos a nível internacional?
Viva o nosso dia. Só não e' o dia dos diabos que andam a brincar 'a política em Portugal.
Que tristeza andar-se a discutir se o salário mínimo em 2009 deve ser 450 Euros ou não.
Em política e em economia, uma média de salários mais elevada, dentro do razoável, claro, tem a vantagem de exercer um estímulo sobre a actividade económica. Essa e' a experiência na Suíça, nos países nórdicos e mesmo dos Estados Unidos. Um maior poder de compra , mesmo a um nível tão baixo como o de 15 Euros por dia -- o que se consegue fazer, em termos familiares, com esse montante diário? Apenas fome e milagres, creio... -- faz sempre aumentar o consumo, e atrai uma maior produção de bens e servicos.
A não ser que tudo seja importado...
Assiste-se 'a discussão do Portugal dos mínimos...