Números alarmantes
As estatísticas de hoje sobre a incidência da Covid-19 no nosso país deixam-me extremamente preocupado. São valores altíssimos. A epidemia está fora de controlo. E do lado oficial, que mensagem está a ser transmitida à população?
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As estatísticas de hoje sobre a incidência da Covid-19 no nosso país deixam-me extremamente preocupado. São valores altíssimos. A epidemia está fora de controlo. E do lado oficial, que mensagem está a ser transmitida à população?
Actualmente, aqui em Portugal, as estatísticas relativas à pandemia são dramáticas. Revelam um alto nível de incidência e, sobretudo, um número muito elevado de óbitos. Penso que se deve insistir mais nas medidas de prevenção, no comportamento que cada um de nós deve assumir no quotidiano das nossas vidas. Vamos entrar num novo período de restrições. Mas essas limitações servirão de pouco se os comportamentos de risco continuarem. É fundamental apelar ao bom senso de cada um de nós, para o nosso bem, para o bem dos que nos são próximos e também para o bem colectivo.
Não entendo bem como é possível que um funcionário superior de uma organização intergovernamental, um português, é verdade, possa escrever artigos de opinião sobre questões partidárias que fazem parte da actualidade nacional. Há aqui, na minha maneira de ver, baseada na velha escola ética de antigo quadro da função pública internacional, um pisar do risco que só pode ter de ver com a ambição pessoal e os planos de carreira política desse “comentador”. E os media da nossa terrinha ajudam a pisar o risco, sem fazerem qualquer tipo de observação.
Voltando às declarações do embaixador americano, que, na sua entrevista de ontem ao semanário “Expresso”, disse claramente que Portugal terá que escolher entre a aliança política com os Estados Unidos ou o aprofundamento das relações comerciais com a China, gostaria de acrescentar umas notas rápidas. Primeiro, que a reacção do ministro português dos Negócios Estrangeiros foi apropriada e rápida. Nestas coisas, convém ser claro e reagir atempadamente. Segundo, deve ficar entendido que as declarações contêm uma ameaça. Vão na linha do que tem sido a política externa americana nos últimos tempos, que é a de utilizar o controlo que exerce sobre instrumentos financeiros internacionais e a força da sua economia e inovação tecnológica para impor constrangimentos, sanções e penalidades legais a empresas de outros países, incluindo de Estados aliados. Terceiro, a União Europeia mostrou, ainda esta semana, pela boca do seu Presidente, Charles Michel, que está disposta a aceitar as exigências americanas. Alguns dirão que se trata de realismo político, por ter em conta que nunca haverá unidade suficiente entre os membros da União para que possam aprovar medidas alternativas e independentes dos interesses americanos. Acho que é um erro. As ameaças só podem ter uma resposta que é a de lembrar e a reafirmar a lei internacional, as normas que regem as relações entre os Estados e o princípio da cooperação – parceria – em vez da subordinação. Quarto, não será no interesse da paz mundial e da estabilidade internacional tomar posição no conflito entre os Estados Unidos e a China. O nosso papel é o de lembrar a ambos que a força não faz o direito. Os Estados Unidos e a China devem, isso sim, procurar juntos as soluções para os grandes problemas internacionais. Estamos no Século XXI e não em 1939. Quinto, devemos apoiar o Secretário-geral das Nações Unidas quando nos diz que está muito preocupado pela competição crescente e cada vez mais feroz entre as duas grandes potências. Apoiar significa, para começar, fazer eco daquele que ele disse sobre o assunto, na sessão de abertura da Assembleia Geral da ONU.
A Comissão Europeia, ao apresentar hoje uma proposta para uma nova política de imigração e asilo, veio lembrar-nos que este é um dos temas mais delicados para uma boa parte dos Estados-membros. Farei aqui uma análise das propostas, em tempo oportuno. Agora só queria referir que nenhum chefe de governo pode recusar um debate no seu parlamento nacional sobre esta questão, escondendo-se por detrás da desculpa que se trata de uma questão europeia e não meramente nacional. Este é um problema central, para cada um dos países. E é certamente um assunto que não pode ser ignorado em Portugal. Não se trata apenas da nova rota vinda de Marrocos para o Algarve. Há muito mais matéria em causa. Tem que haver uma política clara e uma implementação eficaz dessa política. Tenho a impressão que nada disso existe, que se continua a varrer para debaixo do tapete.
Neste final de agosto, uma sondagem realizada por encomenda do jornal Le Figaro revela que 8 franceses em cada 10 estão preocupados com a situação sanitária que existe no país e a maneira como está a evoluir. O mesmo número de inquiridos vê com inquietação o comportamento da economia, as dificuldades que as empresas têm pela frente e a crescente deterioração do poder de compra. Estas duas apreensões traduzem uma visão realista dos próximos tempos. Existem, igualmente, noutros países da UE. Na verdade, há que estar preocupado e pensar na política de uma forma diferente, uma política que una o maior número de cidadãos no combate às crises.
E em Portugal, que podemos dizer sobre isto?
Disseram-me hoje, durante a minha caminhada habitual, que os carteiristas que operam junto do monumento das Descobertas e da Torre de Belém continuam desacorçoados. Estamos no pino de agosto e não há turistas que se vejam. É verdade que há um pouco mais de movimento, quando comparamos a situação de agora com a de finais de julho. Mas é minúsculo e não dá nem para os trocos.
O Algarve é uma terra de contrastes. Muita gente pobre lado a lado com muita gente rica. Áreas modernas e sofisticadas na vizinhança de ruínas e desleixo. Estrangeiros e naturais da terra, um pouco por toda a parte. Um povoamento e uma ocupação do território que nada tem de sustentável. Um clima e uma paisagem que mereciam um ordenamento completamente diferente. Uma ilusão num país que tem muita falta de realismo e de dirigentes capazes de aproveitar o muito que a natureza nos deu.
Eu não teria visitado o Primeiro-Ministro da Hungria, Viktor Orban. Ele representa aquilo que a União Europeia não pode aceitar no seu seio, os ataques à democracia, à liberdade académica, às organizações de cidadãos, às personalidades com raízes judaicas, aos valores da modernidade e da inclusão. E também não afirmaria, com aquele ar de esperto que só engana os tolos e que é saudado pelos oportunistas da mesma família política, que não há qualquer ligação entre a falta de respeito pelos direitos humanos e o acesso aos fundos europeus.
Orban ataca a Europa quando lhe convém, comete transgressões diárias contra os princípios do Estado de direito, mas quer que a massa continue a correr de Bruxelas para Budapeste, aos milhões e sem condicionalismos. Eu dir-lhe-ia que não. Que, na nossa União, a política e a economia estão entrelaçadas. E dar-lhe-ia um conselho, mas de longe, sem o visitar: a democracia e o respeito pela diversidade devem ser vistos como essenciais, no processo de construção da solidariedade europeia.
O Primeiro-Ministro encontrou-se hoje, em Haia, com o seu homólogo holandês, Mark Rutte. Foi uma boa iniciativa, tendo em conta as divergências que existem entre ambos, no que respeita à aprovação e às modalidades de execução do plano de emergência e de recuperação europeu.
Pelo que sei, a reunião apenas permitiu a cada uma das partes expressar a posição respectiva. Não houve acordo como também me parece que não o haverá, na cimeira que terá lugar em Bruxelas, no final desta semana. A imensidão da crise pôs a nu as fracturas que existem na União Europeia, no que respeita ao modelo de governação e às atitudes perante o modo de funcionamento de certos Estados. Para Mark Rutte e outros, nós funcionamos mal, temos uma administração ineficiente e cara, para o que faz.
Uma posição assim deveria fazer-nos pensar, em vez de se ter uma reacção à flor da pele. Por que será que somos vistos desse modo? Pensar nessa questão ajudar-nos-ia mais do que dar uns pulos de indignação.
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