Sou um telespectador acidental, no que respeita aos canais de televisão portugueses. Por várias razões, mas sobretudo pela má qualidade do que se mostra nos nossos ecrãs. Assim, mesmo quando me encontro em Portugal, passo ao lado.
Ontem, num momento de acaso, caí no debate que a RTP 1 chama “Prós e Contras”. Discutia-se Tancos, as Forças Armadas e os diferentes níveis de responsabilidade.
Dos presentes, apenas os dois generais sabiam da poda. O resto era conversa, académica, livresca ou simplesmente fora da substância. Confrangedor. Metiam-se os pés pelas mãos e confundiam-se conceitos básicos. Incluindo, como já vem sendo costume, defesa como se fosse segurança e vice-versa.
Para cúmulo, a moderadora mostrou uma vez mais o pouco jeito que tem para animar discussões que ultrapassem os temas de lana-caprina.
O programa da RTP1 “Prós e Contra” de ontem discutiu a questão dos cortes nas Forças Armadas. Foi uma emissão que me mereceu vários comentários:
A animadora do programa, a jornalista Fátima Campos Ferreira, não tinha estudado o dossier suficientemente, não estava a par dos números que são públicos, pareceu-me, várias vezes, perdida no meio dos generais;
Não houve contraditório, todos tinham a mesma opinião; teria cabido, neste caso, à animadora levantar pontos polémicos, mas não o soube fazer;
O Gen. Loureiro dos Santos, com o seu ar de velho lobo matreiro, tentou dominar o debate e aparecer como a alternativa à política de defesa do governo; dizem que gosta de protagonismo, mas a verdade é que a maneira como fala projecta uma imagem demasiado autoritária e uma certa matreirice que não ajuda a causa;
Nenhum dos oficiais generais presentes no painel conseguiu explicar claramente as missões actuais das FA, transformando o programa numa oportunidade desperdiçada e num mero ataque ao governo e aos políticos em geral;
Também não conseguiram responder aos que pensam que a contestação existe por razões meramente corporativistas, para defender interesses e vantagens numa altura em que outros estão a perder direitos e mesmo a procurar apenas sobreviver;
Porta-vozes de oficiais, sargentos e praças no serviço activo tomaram a palavra no programa, com declarações nitidamente políticas, o que poder ser considerado um acontecimento único, que não acontece nos outros países da NATO;
O antigo ministro da Administração Interna, Rui Pereira, parecia estar no debate com o à vontade de uma mosca a nadar num prato de sopa; não sabia bem o que deveria dizer e por isso foi dizendo umas coisas, poucas e sem peso;
O outro participante civil, não interessa aqui o nome, parecia ter sido convidado para acertar as contas, fazer de contrapeso, permitir chegar a seis; fora isso, disse umas generalidades.