Numa altura em que continua a não haver visibilidade sobre quem será o sucessor de Jean-Claude Juncker, noto que a questão está a abrir um fosso muito grande entre duas nações pilares da União Europeia, a França e a Alemanha. É uma situação inédita e muito séria. A opinião política alemã e certos meios de comunicação social vêem o desacordo como um ataque frontal do Presidente francês contra Angela Merkel e a sua possível herdeira na chefia do partido CDU/CSU, Annegret Kramp-Karrenbauer. Para além, claro de Manfred Weber, o candidato do centro-direita à chefia da Comissão Europeia.
A verdade é que Emmanuel Macron não tem sido prudente na maneira de comentar a candidatura de Manfred Weber. Nem mesmo na observação sardónica que fez sobre o Presidente do Bundesbank, o Banco Central alemão. Macron tem que ser menos arrogante em vários dos comentários que faz. A arrogância dá maus resultados políticos.
Neste caso, abriu uma crise com a Alemanha. Espero que entenda que vai ser necessário um gesto público da sua parte para a ultrapassar. A União Europeia precisa de consensos. Precisa, igualmente, de um Presidente francês que os saiba construir.
A possibilidade de uma eleição directa pelos cidadãos europeus do Presidente da Comissão Europeia é uma ideia que faz medo a muitos chefes de Estado e de governo. Terá, mais tarde ou mais cedo e se o projecto europeu quiser avançar, que ser discutida um dia.
E essa discussão deverá também considerar a fusão dos dois cargos de topo: juntar as funções de Presidente da Comissão às de Presidente do Conselho Europeu. Passaria a haver um só número de telefone, quando o Presidente russo ou americano quissesse telefonar para Bruxelas.
Isso sim, daria um sentimento de maior unidade ao projecto comum. Aumentaria a visibilidade da União, dar-lhe uma cara, uma personalidade. Significaria mais força.
O Presidente da França, ao convocar hoje uma cimeira sobre a crise financeira, e apenas convidar quatro países europeus, deu uma estocada muita profunda na unidade da União Europeia.
Numa altura em que era preciso evitar tentativas de solução unilaterais, país por país, o encontro de Paris começou por excluir a maior parte dos estados da União e acabou sem nenhum acordo significativo entre o pequeno número de presentes.
Já a Irlanda, uns dias antes, havia tomado uma decisão nacional contrária ao espírito que deve presidir 'a construção da Europa. Decidira proteger os bancos irlandeses em oposição aos outros bancos europeus que operam no seu território.
Agora, o homem de Paris deu aquilo que poderá ser uma machadada final na política financeira comum da União. O Presidente da Comissão estava presente. Ficou mais uma vez a saber quem manda na Europa.