Neste Dia Internacional da Mulher, uma referência de homenagem a todos os que lutam, homens e mulheres, para combater a violência doméstica e os mais variados tipos de violência praticados contra as mulheres e as raparigas. Também, uma menção especial para o grande desfile pela democracia que as mulheres da Argélia hoje organizaram. E à decisão do governo britânico de dar protecção diplomática a Nazanin Zaghari-Ratcliffe, uma britânica de origem iraniana, que os clérigos que controlam o poder no Irão mantêm em detenção há cerca de três anos, por razões injustificadas e inaceitáveis.
Os adolescentes criativos que mencionei ontem, duas raparigas e um moço, a Elisa Tavares, a Mariana Oliveira e o Mário Ferreira, ganhadores de uma competição europeia, estudam e vivem em Aveiro. A cidade e o distrito têm-se distinguido, nos últimos anos, por um dinamismo acima da média, incluindo nas áreas da multimédia e informática.
Ao escrever isto, lembro-me do caso de Bangalore, no Sul da Índia. Cerca de dois milhões de jovens trabalham em Bangalore na programação e nos serviços informáticos. Tem havido uma transferência de capacidades da Silicon Valley, na Califórnia, para esta cidade da Índia. Centenas de milhares são diplomados do ensino superior, engenheiros de todo o tipo. Outros, a trabalhar nos call centre, falam inglês com o sotaque mais apropriado aos ouvidos dos clientes, por esse mundo fora, a quem prestam informações. O segredo do sucesso é muito simples: um investimento na educação das novas gerações, de modo a prepará-las para um mundo global.
As mulheres e as raparigas, nesta parte do mundo onde me encontro, são vítimas de violências quotidianas. Apesar da legislação o não permitir, os maus tratos, as violações, a negação dos direitos mais elementares, os casamentos em idade precoce, incluindo os que resultam do uso da força e são feitos contra a vontade das raparigas, a poligamia e a miséria, tudo isto acontece por todo o lado, à vista de todos.
Para agravar a situação, a mortalidade durante a gravidez e o parto faz presença na história diária de muitas famílias. Os números são impressionantes.
Hoje lançámos no Chade uma campanha para combater estas duas tragédias. Todos prometeram contribuir para o sucesso da campanha. Mas a cabeça das pessoas é complicada, demora tempo a mudar. Por outro lado, as instituições de saúde pública e os serviços sanitários funcionam mal, sem recursos e com muita fuga de meios para fins ilícitos.
Enquanto estava na cerimónia lembrei-me que em Angola e em S.Tomé, por influência do país grande, os homens do poder e os ricos andam agora à procura das "catorzinhas". Ou seja, de parceiras muito tenras, que o homem do poder é um lobo mau.
Catorze anos!
Quando se pensa que se avança, saem uns asneirentos a fazer das suas. Mas enfim. Vamos acreditar nas duas campanhas que hoje começam a ser levadas à prática.
Num mar de raparigas sudanesas refugiadas em terras vizinhas, e bem fora da alegria do momento, que as alegrias não fazem parte do quotidiano de quem vive no exílio, a menina do meio tem um maneira de ver diferente. Olha para a câmara, segue os passos do estranho visitante, pois convém estar atenta a tudo o que as rodeia.
O mesmo acontece com a criança que aparece por detrás do ombro. Mais jovem, mas igualmente atenta. Com uma feição de quem já viveu muitos medos.
Há que sorrir, é preciso acreditar, mas o caminho da igualdade e da esperança é duro e irregular, como a lombada de um camelo. Os caminhos do deserto estão juncados de cascalho, de pedras soltas que fazem escorregar os animais e torcer os pés dos caminhantes.
As mãos já revelam a dureza dos poucos anos de vida.
O olhar concentrado dos anos que já não são tenros.
Há sempre um irmão mais novo que é preciso carregar às costas.
O sorriso feliz de quem tem ainda cara de criança.
A cantar, na turma, com sorte, que a escola é para poucas raparigas e por tempo limitado, que o casamento precoce retira as futuras mulheres do ensino.
Estas crianças não têm pistolas de plástico e gostariam imenso de poder ir à escola. Com todo o respeito pelos professores. Com vontade de aprender, de ser alguém para além da miséria que as viu nascer.
Mas as escolas são poucas e as raparigas estão em grande desvantagem social. Fazem falta em casa, para ir buscar água, apanhar lenha, ajudar a tratar dos irmãos mais pequenos. E irão casar muito cedo, logo que os pais as possam fazer passar para a responsabilidade de outrem.
Sem educação não há futuro. Sem civismo não há progresso social. Sem respeito, somos apenas uns bichos falantes, uns monstros.