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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

República Centro-Africana

O meu texto desta semana na Visão comenta a situação política e humanitária na RCA (República Centro-Africana). Pode ser lido através do seguinte linK:

 

http://tinyurl.com/mlfbo3c

 

Também pode ser lido aqui, numa transcrição do manuscrito:

Andar às aranhas na RCA

Victor Ângelo

 

 

Em 1985, quando fui nomeado pela primeira vez para a República Centro-africana (RCA), andei às aranhas em Maputo, a minha base na altura, à procura de um atlas que me permitisse localizar o país.

 

Dir-se-ia que a comunidade internacional se encontra hoje numa confusão semelhante, perante o desastre político e a violência que estão a destruir a RCA. Trata-se, porém, de uma falta de clareza deliberada. Há, ao nível de quem define a agenda internacional, uma intenção clara de passar ao lado da crise centro-africana. Estamos perante um novo tipo de cinismo nas relações internacionais. Até há pouco, os líderes dos países poderosos começavam a mexer-se quando as imagens das cadeias globais de televisão traziam a desgraça de milhares de pessoas até às salas de jantar dos seus concidadãos. Era o chamado “efeito CNN”. Agora, apesar das cenas de sofrimento e de brutalidade que nos chegam de Bangui graças à BBC, CNN, Al-Jazeera e aos jornais franceses, entrámos num novo patamar de indiferença. Aqueles mesmos líderes deixaram de reagir. O “efeito CNN” perdeu o impacto. O exemplo mais recente foi o dos EUA. A embaixadora norte-americana junto da ONU visitou a RCA em Dezembro. Viu o drama e concluiu que um engajamento militar da ONU teria custos financeiros elevados, numa altura em que já estão em curso várias operações de manutenção de paz. Em vez de recomendar que talvez fosse mais apropriado reduzir os custos das missões de paz na Libéria, na Costa do Marfim e mesmo no Haiti, operações que estão obviamente sobredimensionadas face aos desafios actuais, a embaixadora aconselhou Washington a permanecer afastado da RCA.

A mesma indiferença tem norteado a posição assumida pela UE.

 

Assim, a resposta humanitária tem sido insignificante. De tal maneira que a organização Médecins Sans Frontières se viu obrigada a escrever uma carta aberta, criticando a falta de iniciativa e a timidez das Nações Unidas. Podiam ter igualmente criticado a UE, por motivos similares. Para além da incoerência da accão humanitária, a comunidade internacional não tem querido responder à questão mais imediata do restabelecimento da segurança interna. A França, que sempre manteve uma relação especial com a RCA, tomou a iniciativa de enviar uma força expedicionária de 1600 militares. Esse destacamento revelou-se, desde o início, insuficiente para responder às necessidades de segurança da capital, para já não falar no resto do país, que tem uma área equivalente a sete vezes a superfície de Portugal. O esforço francês deveria ter sido suplementado com uma presença da União Africana de 6000 homens. Por falta de meios, a UA tem apenas 3500 elementos no terreno.

 

Tem-se falado, nos últimos dias, de uma força da UE composta de 300 a 500 soldados. Os ministros europeus dos negócios estrangeiros vão reunir-se a 20 de janeiro para tomar uma decisão sobre o assunto. Mas essa força, se algum dia chegar ao terreno, poderá ter apenas como missão proteger o aeroporto, o que é pouco mais que nada.

 

Quando voltei a ter responsabilidades directas na RCA e na região, o que aconteceu até 2010, o então presidente François Bozizé dizia-me com frequência que não precisava de soldados estrangeiros. Queria, isso sim, que ajudassem o seu país a consolidar as instituições nacionais de segurança. Acrescentava que não é com militares que se mantém a ordem pública, que é neste momento, uma vez mais, o grande problema da RCA. É preciso uma forte componente de polícia e de gendarmaria. As forças vindas de fora só poderiam obter resultados se servissem de apoio de retaguarda às estruturas de segurança interna. Parece-me pertinente relembrar essas palavras nas vésperas da reunião de 20 de janeiro.

Dia de Natal, mas diferente

Os grupos rebeldes, que iniciaram uma ofensiva armada contra o regime do Presidente François Bozizé, na República Centro-africana há umas semanas, continuam a avançar em direcção à capital, Bangui. A sobrevivência do governo está em risco.

 

Nada disto faz parte dos títulos da informação social ao nível internacional. Quem se interessa por uma terra maior do que a França, mas perdida no meio de África, com cerca de 3 milhões de habitantes?  

 

Os quadros mais seniores das Nações Unidas nesse país passaram uma boa parte do dia de Natal, hoje, reunidos, para uma análise da situação e para decidir como proteger o staff e poder, ao mesmo tempo, continuar a missão de paz de que são responsáveis.

 

Foi, para esses homens e mulheres, um Natal diferente daquele a que, por estes lados, estamos habituados. 

Bangui

Telefonaram-me de Bangui, o que deu para recordar os anos que vivi nessa cidade, de 1985 a 1989, bem como as responsabilidades mais recentes, em matérias de segurança e protecção humanitária, que me faziam estar no país uns dias em cada mês, entre 2008 e 2010. Conheço bem a terra e as gentes. 

 

A República Centro-Africana é um dos países "esquecidos" pela opinião pública internacional. A ONU continua,no entanto, a manter uma presença importante e a contribuir para a estabilização política e a democracia. 

 

Ainda existem, por outro lado, algumas famílias portuguesas, o que resta das muitas que haviam nessas paragens. 

Entrevista à Antena 1

 

Gostava de convidar os leitores a ouvir a entrevista que a Antena 1 teve a amabilidade de me fazer. Está disponível em:

 

http://tv1.rtp.pt/antena1/index.php?t=Victor-Angelo.rtp&article=1857&visual=11&tm=16&headline=13

 

Com calma, falámos de política internacional, de interesses estratégicos e da resolução de conflitos.

A igreja grande

 

Copyright V.Ângelo

 

Neste Domingo de Páscoa convido o leitor a visitar a Igreja Matriz de Birao, capital da região de Vakaga, na República Centro-Africana, bem perto da fronteira com o Sudão.

 

Com o tempo, a igreja, que como deve ser, está situada na zona central de Birao, perdeu os fiéis. Hoje é um edifício sem vida, numa terra que é cada vez mais islâmica. O Islão conseguiu penetrar ao nível popular, ganhar raízes locais, sobreviver às crises políticas e aos conflitos armados. A região está, hoje mais do que nunca, virada para o Sudão muçulmano. Bangui, a capital da RCA, fica longe, o cristianismo é uma religião de brancos e de gentes das cidades, um mundo distante, estranho, nestas terras bem estranhas.

 

 

Viagens e receios

 

Sigo de viagem para a Europa esta noite. Uma volta curta, apenas uns dias de ausência, antes de entrar na fase final de consultas sobre o futuro da missão de paz no Chade e na RCA. O Conselho de Segurança definiu, de um modo muito claro, os parâmetros desta nova fase de discussões.

 

Tudo isto abre um novo capítulo nas relações entre o Conselho e os países que beneficiam da presença de uma missão de manutenção da paz. Vão ser escritas teses sobre a matéria. A doutrina neste campo da lei internacional vai certamente ser influenciada pelo que está a acontecer à MINURCAT.

 

Só que, no meu caso, as coisas são bem mais terra-a-terra. Trata-se de tentar chegar a um acordo entre as partes. À partida, parece quase impossível, tal é a distância a percorrer. Neste caso, a distância não é a de uma viagem de avião, mas sim a que separa interesses bem opostos. Como acontece com muitas viagens, há o fascínio do desconhecido, mas também o receio a ele associado.

No centro de África, longe de Portugal

Depois do almoço, voei para Bangui. Para me encontrar com o António Guterres, que está de visita aos campos de refugiados da República Centro-Africana. Falámos da situação política da região, não da política interna deste país, que essa tem muito pouco que se lhe diga. Só querelas entre personalidades e falta de sentido nacional. Passámos em revista as questões humanitárias. Jantámos juntos, dois altos quadros da ONU, ambos portugueses. Tivemos percursos muito diferentes. Mas sendo da mesma geração e idade, e do mesmo nível hierárquico, foi, como sempre, um encontro descontraído. Intelectualmente rico. Curiosamente, nenhum de nós tocou na situação política portuguesa. Foi tudo sobre assuntos internacionais, ou as nossas experiências com governos muito difíceis, por esse mundo fora, sobre as vivências humanas e os contactos com a miséria e a desconfiança e muito pé atrás. Mas, Portugal, nem nos veio à mente.

A derreter

 

55 graus na sala de reuniões, 100 por cento de humidade, um ambiente de Inferno, numa reunião amigável com as ONGs que operam na República Centro-Africana, gente jovem e cheia de boa vontade, tudo no edifício do PNUD, onde trabalhei há 25 anos, os aparelhos de ar acondicionado tão a cair de velhos que alguém disse que devem ser os mesmos que eu instalei nessa mesma sala, quando aí cheguei em 1985, preocupações sobre um processo eleitoral que só é credível para quem queira acreditar nele, uma equipa de desmobilização de combatentes muito profissional mas dirigida por incompetentes, um país de diamantes em que os pigmeus são uma atracção anacrónica, enfim, um dia bem preenchido, de fato e gravata.

 

A voltar ao aeroporto, ao fim do dia, para voar para outras paragens, havia também o voo da TAAG, uma ligação de Luanda, por Brazzaville e que de Bangui vai a Douala, uma outra maneira de sair destas terras isoladas. Ao lado do jacto das Nações Unidas, um bom avião de classe acima da média, havia dois outros jactos privados, muito maiores, mais luxuosos, um francês e outro do Congo, o pequeno Congo, que fariam nesta cidade, nesta Bangui de palhotas e de dancings populares, de gente pobre e de recursos naturais vastos, urânio, entre eles, sem contar o ouro e os diamantes. Estariam os senhores dos jactos numa das palhotas onde se serve vinho de palma? Ou nos salões sossegados do poder, onde se fala do minério do urânio com a delicadeza que a gente fina possui?

 

Passam-se coisas interessantes nestes apeadeiros de fim de linha.

Bangui,vinte e tal anos depois

 

Vivemos em Bangui entre Setembro de 1985 e Setembro de 1989. Depois de quase cinco anos em Maputo, Bangui parecia um paraíso de tranquilidade, mas muito perdido no coração de África. O destino seguinte foi a Gâmbia.

 

Hoje Bangui, onde estou a escrever este texto, está mais bonita. La Coquette, como gosta de ser conhecida. Tem mais ruas, mais alcatrão, mais gente. Até tem dois ou três monumentos. Mas menos actividade económica, menos Europeus. O clube de ténis, que nos anos oitenta era frequentado por muitos sócios, até às 22:00 horas, fecha agora às seis da tarde. O Rock Club, onde as minhas filhas passavam o fim do dia, nas actividades extra-escolares, mesmo junto ao rio Ubangui, em frente do Congo Democrático, está meio parado e a cair de sujo.

 

O aeroporto tem um voo por semana para a Europa. Chega-se aqui às Quintas, cedo, passa-se o dia em reuniões e volta-se a Paris no mesmo avião que nos trouxe, levanta-se voo depois do jantar.

 

As árvores de grande porte estão agora mais velhas. A cidade é conhecida pelas inúmeras árvores de mangas. Na estação das mangas, os jovens andam de um lado para o outro com grandes varas, vários metros, e vão derrubando os frutos mais apetitosos.

 

É um mundo fora do mundo.

 

 

 

 

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