Este é o link para a minha crónica de hoje, publicada no Diário de Notícias. A não comparência do líder chinês parece mostrar que já entrámos na nova ordem política internacional.
Cito de seguida umas linhas do meu texto:
"Os dirigentes indianos varrem para debaixo do tapete essa ausência. Ao reagir assim e ao sublinhar que o primeiro-ministro chinês Li Qiang estará presente, estão a proceder da maneira que é diplomaticamente apropriada. Mas isso não esconde certas evidências fundamentais. As disputas fronteiriças e a concorrência geoestratégica entre ambos os países. As críticas de Beijing à aproximação cada vez maior entre Nova Delhi e Washington. E o facto de não haver acordo sobre o texto do comunicado final da reunião, no que respeita à agressão injustificada e sem-fim da Rússia contra a Ucrânia. A China não quer entrar nessa discussão, apesar de pretender ser o líder da nova ordem internacional. Ora, liderar é ser capaz de mostrar o caminho do futuro e não cair na prática que tem sido tão habitual na cena internacional, a dos dois pesos e das duas medidas."
Ao olhar para o futuro, a ambição de África é estar inserida num mundo multipolar, com vários países importantes a dar o exemplo e comprometidos num sistema de cooperação que possa resolver os problemas de natureza plurinacional, as grandes questões regionais ou globais. Este é um tema que precisa de ser discutido e clarificado de modo positivo e sem rivalidades que levem a confrontações destruidoras. Deve, além disso, constituir uma oportunidade para reforçar as Nações Unidas, nas suas diferentes e múltiplas facetas.
Agora já não é o simples de espírito do Dmitry Medvedev que fala do uso de armas nucleares e da possibilidade de uma III Guerra Mundial. O papel dele, o de abrir essa possibilidade, terminou. Hoje foi o chefe quem falou do assunto. E não estava com um ataque de fantasia ou a tentar meter medo aos medrosos. Falava a sério. O homem que manda no Kremlin receia uma derrota no Leste da Ucrânia. E, por isso, fala da possibilidade de voltar a atacar Kyiv e de usar armas radioactivas, incluindo contra os EUA. O seu estado mental está bastante perturbado. Quando diz o que hoje disse é de se acreditar que estamos à beira de uma situação muito séria. Agora não é já só a Ucrânia que está em perigo. É todo o mundo ocidental. A começar pela Polónia e o Reino Unido, segundo parece. Neste contexto, o mundo ocidental tem de pensar a sério no que devem ser os seus próximos passos. Para começar, deve acreditar que a situação se está a complicar rapidamente.
Depois do desfile militar em Moscovo de 9 de Maio, e do que ele pareceu revelar, em termos da situação política interna na Rússia e das hesitações e divisões que poderão existir no interior da classe dirigente do país, chegou o momento de agir com muita inteligência, muita firmeza e pouco ruído. As únicas mensagens que devem ser audíveis são as seguintes: é possível negociar uma retirada pacífica e ordenada das forças russas dos territórios que ocuparam na Ucrânia; os mais altos responsáveis pela agressão devem responder pelos seus actos perante um tribunal internacional; a Ucrânia tem direito a reparações de guerra e à ajuda necessária para a reconstrução do que foi destruído, na base de um plano internacional financiado em boa parte pela Rússia mas também por outras contribuições voluntárias; a NATO e a Rússia estão disponíveis para rever as modalidades da sua cooperação e os princípios da nova era de segurança na Europa; se o processo descrito acima não for aceite por Moscovo, a contra-ofensiva ucraniana será levada a cabo, com a ajuda dos seus aliados e com base no princípio da legítima defesa perante uma agressão exterior.
Este é link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. A crónica começa assim:
"Vivemos um período de frenesim diplomático, que foi acelerado pelo conflito que a Rússia abriu contra o Ocidente, ao invadir militarmente a Ucrânia. Há muito que as chancelarias não andavam numa azáfama tão intensa. É o desenho de uma nova relação de forças internacional que está em jogo."
O voto na Assembleia Geral da ONU (143 a favor contra 5, mais 35 abstenções) foi uma profunda derrota política para a Rússia de Vladimir Putin. Essa é a principal utilidade da AG: mostrar ao mundo que determinadas políticas geram uma condenação muito ampla por parte da comunidade das nações. É verdade que não se trata de uma resolução vinculativa. Mas tem muito peso político. E será frequentemente citada, para mostrar que a decisão russa de invadir a Ucrânia viola a lei e o consenso internacionais.
Agosto foi um mês de paragem para mim. Mas tive várias vezes a vontade de comentar porque o mundo não parou para férias e o mês teve uma abundância de acontecimentos marcantes. Ao olhar de modo rápido para as semanas que passaram, vejo que a agressão contra a Ucrânia e todas as consequências daí resultantes, as questões do clima – secas, fogos e inundações – e da instabilidade política, incluindo no país de Donald Trump, continuaram a preencher as páginas principais das notícias. E a anunciar uma rentrée e um final de ano bem complicados. Com consequências directas no poder de compra e na vida das famílias.
O regresso deste blog coincide com a divulgação do relatório do Alto-Comissariado para os Direitos Humanos, um organismo da ONU, sobre as violações sistemáticas do direito à vida, à liberdade e à sua cultura das populações uigures da província chinesa de Xinjiang. O documento documenta uma política e uma prática repetidas de crimes do Estado chinês que podem ser considerados como crimes contra a ordem internacional, por serem crimes contra a humanidade, de discriminação étnica e de punição colectiva de pessoas por razões culturais, religiosas e raciais.
Para além de tudo o mais, o relatório deve fazer-nos pensar numa questão que é cada vez mais premente: como devem as democracias relacionar-se com as ditaduras e os regimes que abusam da força para espezinhar os direitos mais fundamentais dos seus próprios cidadãos? Esta é uma questão que não pode continuar a ser varrida para debaixo do tapete.
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Agora, interrompo a escrita até Setembro.
Cito de seguida umas linhas do texto.
"Não é apenas o autocrático Viktor Orbán que alega que as sanções têm um efeito boomerang e que acabam por prejudicar mais as economias da UE que a russa. Temos por aí gente boa que também vê a coisa assim. E alguns até se julgam mais espertos que os dirigentes europeus, que, entretanto, já aprovaram sete rondas de sanções contra o regime de Vladimir Putin."
Hoje, vi-me forçado a lembrar ao meu amigo D. que estamos em 2022. Já não vivemos em 1991 ou 1998, e ainda menos nas décadas anteriores. Agora, as pessoas e as suas opiniões contam como não contavam nesses tempos. Se os ucranianos não querem ser russificados, ou aderir à Rússia de Vladimir Putin, não há nenhuma teoria geopolítica que justifique o uso da força. Esse uso é pura e simplesmente ilegítimo.
E já agora, o mesmo se pode dizer sobre Taiwan, o Tigray, a Palestina e outros territórios.
Não creio que os meus textos mostrem que ando confuso. Digo isto por ver vários dos meus amigos baralhados perante os acontecimentos correntes. São pessoas bem-intencionadas, que procuram informar-se. Não compreendo como acabam por ficar com as ideias aos ziguezagues. Por exemplo, neste dia em que a Rússia cometeu mais um crime de guerra, ao atacar e destruir um centro comercial na cidade ucraniana de Kremenchuk – um alvo inteiramente civil – um amigo mandou-me uma mensagem e telefonou-me para mostrar a sua preocupação com a crescente militarização dos Estados Unidos e a influência que isso está a exercer nas escolhas europeias em matéria de defesa. A mensagem foi fácil de tratar: existe uma tecla “delete”. A chamada telefónica foi mais complicada. Tenho um grande respeito por esse amigo e não queria tornar a coisa num assunto pessoal. Tentei focar a discussão na questão e não na pessoa. Não foi fácil. Muitos intelectuais não conseguem fazer a diferença entre destruir um argumento e a ofensa pessoal. Mas tentei e continuarei a tentar.