O recomeço político
O primeiro dia de Setembro soa a fim de férias. Em política, é a altura da rentrée, nesta nossa parte do mundo. É pena que rentrée não seja sinónimo de renovação. É disso que precisamos.
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O primeiro dia de Setembro soa a fim de férias. Em política, é a altura da rentrée, nesta nossa parte do mundo. É pena que rentrée não seja sinónimo de renovação. É disso que precisamos.
Continuo a pensar que o maior problema político que o país enfrenta, neste momento de rentrée política, reside na fraqueza da oposição. Sobretudo da oposição à direita do governo actual. Aquilo a que chamaria a oposição com moderação, peso e medida. A oposição que deveria representar uma parte importante e indiscutível do país que somos.
Sem contrapeso, a política de quem está solidamente no poder perde o sentido de equilíbrio. Com o tempo, fica entregue a um agrupamento de interesses, que, sob uma capa ideológica vagamente definida, se auto-protege e se convence que o país só tem uma visão do futuro, aquela que eles mais ou menos promovem. E, ainda, sem crítica organizada quem manda ganha um sentimento de impunidade que não é bom para a gestão saudável dos recursos públicos. O poder passa a ser uma pirâmide, personaliza-se em torno de um político forte e perde a forma multifacetada que uma sociedade moderna exige.
Nesta realidade, é evidente que o PSD e o CDS/PP estão em crise. Têm lideranças incapazes de responder às necessidade presentes e ao desafio que representa um António Costa hábil e experiente. As intervenções e os cartazes desses dois partidos espelham bem a falta de estratégia, a incapacidade de definir os ângulos de intervenção, a desconexão entre eles e os cidadãos da vida de todos os dias. São dois fantasmas, que parece que existem mas que não são perceptíveis, que o olho comum não consegue enxergar. Como todos os fantasmas, arrastam-se penosamente nos corredores da vida pública, sem ânimo nem expressão definida.
Os outros partidos da mesma área, recém-criados, não têm credibilidade. Também não têm uma marca política que os distinga no nevoeiro que existe à direita do PS. São fantasias pessoais, meras brincadeiras idiotas de quem gostaria de ter protagonismo. Não convencem ninguém, para lá de um grupo de amigos e de outros medíocres da vida.
E assim estamos, nesta rentrée 2019. Falta acrescentar que não cabe neste escrito falar do BE e do PCP. Reconheço, todavia, que vale a pena analisar o fenómeno político que é o BE.
A rentrée inicia-se de uma maneira curiosa. Neste início de Setembro, quem olha para o nosso país, a partir do exterior, vê duas coisas: uma certa serenidade, depois de um Verão que havia começado mal, do ponto de vista da instabilidade política; e um início de recuperação económica, graças à habilidade e criatividade de muitos dos portugueses.
Como recomeço das actividades, não é mau. Mas quando se entra mais a fundo no assunto, os de fora continuam a pensar que a classe política portuguesa é incapaz de – ou seja, não quer – levar a cabo as grandes medidas de reforma estrutural, quer ao nível do Estado quer ainda das grandes empresas do sector público. E pensam também que as tensões políticas continuarão a agravar-se nos próximos 12 meses.
Instados a dar uma opinião sobre a necessidade de um segundo resgate, acham que será necessário mas temem que certos parceiros europeus não aceitem que tal aconteça. Para esses parceiros, o esforço terá de vir de dentro, do lado de Portugal.
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