O meu texto de ontem no Diário de Notícias foi considerado por um dos leitores que muito prezo como denso, a exigir uma segunda leitura mais atenta. Fiquei indeciso, sem saber como interpretar o comentário.
Um outro leitor, que aprecio de igual modo, disse-me que tinha gostado da minha insistência no valor da diplomacia, na importância que deve ser dada à procura de entendimentos com aliados e adversários. Assim deveria ser, nas relações internacionais e na vida quotidiana de cada um de nós. Os interesses divergentes devem ser resolvidos por meio de negociações e acordos. Assim, ganham todos. A confrontação do vai ou racha não é boa política. Tem custos elevadíssimos e acaba, na maioria dos casos, por não dar a resposta que cada uma das partes esperava.
Uma leitora que vive no Rio de Janeiro enviou-me uma mensagem no mesmo sentido. A diplomacia é a única aposta inteligente. A guerra e os conflitos armados e violentos só trazem prejuízos e sofrimento humano. Ela sabe do que fala. Vê diariamente a situação no Brasil entrar numa espiral de radicalismo e confronto. Mais ainda, andou, com o marido, por vários cantos do mundo, de Angola às Filipinas e viu os custos da intolerância.
Aprecio os comentários que me enviam. E mesmo quando não respondo, não deixo de prestar atenção à mensagem que cada um contém.
Na semana passada, tive a honra, pela sexta vez, de liderar os dois últimos dias da formação que o governo suíço dá anualmente aos seus quadros destacados em países onde existe algum tipo de conflito nacional.
Essa formação é feita numa base militar especialmente vocacionada para o apoio a destacamentos suíços no estrangeiro. Os participantes são civis, que se encontram ou se preparam para servir as embaixadas do país em lugares como Kinshasa ou na Birmânia, ou ainda para trabalhar para operações de paz, missões de mediação política ou de capacitação policial. Dura quinze dias, em regime de internamento e dedicação exclusiva. Passa em revista questões de segurança, de política internacional, os mandatos da ONU, NATO, OSCE e outras organizações, procede a exercícios de simulação de resolução de conflitos e de análise política.
Uma das questões mais centrais tem de ver com a liderança. Que significa boa liderança? Que exemplos podem ser estudados? Como ir mais além, na compreensão da questão da liderança, muito para além de um simples enunciado de princípios e atributos genéricos, muitas vezes lidos em livros escritos por que nunca praticou uma qualquer liderança de uma operação complexa?
A Suíça investe neste tipo de matérias e acaba por desempenhar um papel bem superior ao que seria de esperar, tendo em conta a neutralidade e a dimensão do país.
A minha coluna desta semana no Diário de Notícias (edição em papel, mas disponível no site do jornal amanhã ou segunda-feira) trata da situação no Líbano, mas numa perspectiva diferente dos comentários que têm sido publicados. O meu texto parte do princípio que o leitor conhece os factos mais marcantes. E convida a reflectir sobre a resposta internacional. A ideia de base é que a situação política interna é muito complexa e resulta do jogo de várias forças políticas. Em geral, essas forças têm tirado proveito da situação e não querem que ela mude. Ou seja, estamos perante uma crise estrutural, que está para durar. Quando isso acontece, a reacção da comunidade internacional é a de pôr de lado o problema. Sem o solucionar, esperando apenas que as tensões baixem. E que os estragos possam ser controlados.
O diálogo continua a ser, na política e no quotidiano das pessoas, a melhor receita para resolver problemas e criar as condições necessárias para a paz social. Dito isto, reconheço que o busílis da questão é a falta de vontade para dialogar. Essa ausência tem muito que ver com o facto de que o sistema educativo e a prática social não nos prepararam para o debate de ideias, de modo construtivo. A nossa tendência é para que acreditemos mais na força e na intimidação do que nas soluções negociadas. Sendo assim, quem detém o poder deverá sentir que tem a obrigação de promover o diálogo. A verdadeira liderança manifesta-se e afirma-se quando, apesar de ter o controlo da força, consegue estabelecer plataformas de negociação. Liderar, no mundo de agora, significa saber criar mecanismos de consulta, de debate e de consenso.