A RTP entrevistou Sergey Lavrov, a velha raposa russa.
Esperava-se uma hora de propaganda e falsidades. Não houve deceção, foi mesmo assim.
Comparativamente, é melhor ter uma hora de mentiras à la Lavrov, uma vez na vida, que sessões diárias de propaganda russa, como um certo canal televisivo faz, só para ganhar audiências.
Falou dos “Nazis”, da “derrota estratégica da Rússia”, procurada pelo Ocidente, e dos EUA como os inspiradores e promotores da guerra.
A Ucrânia faz o que o Ocidente lhe manda fazer, diz a raposa.
Disse que é o Ocidente que ameaça com ataques nucleares; deve ser pela voz de Dmitri Medvedev, o atrasado mental ao serviço de Putin.
Vê russofobia onde ela não existe.
Mas não vê os crimes de guerra praticados pelas tropas do seu país.
Acredita nos BRICS, como vassalo que é da China.
E muito mais, tudo na linha da continuação da agressão contra a Ucrânia.
As redes sociais contêm vários comentários sobre as entrevistas televisivas dos candidatos presidenciais. Devo confessar que ainda não tive a oportunidade – esta é uma maneira diplomática de pôr a coisa – de ver nenhuma dessas entrevistas. Mas pelos comentários que vou vendo parece que os entrevistadores não têm estado à altura. A ser verdade, é uma pena. Uma campanha presidencial deveria ser o momento para levantar algumas das grandes questões sobre o futuro do país. E para perceber se os candidatos têm uma visão nacional. Perder tempo em questões da hora e navegar na espuma do tempo que passa não será a melhor maneira de tratar os candidatos. Mostra falta de inteligência, de respeito pelos candidatos e pelos eleitores.
A verdade é que temos jornalistas muito bons. Mas não são esses que têm acesso aos ecrãs. Quem manda nas televisões parece pensar que os jornalistas mais intempestivos, mais primários, mais arrogantes são os que atraem audiências. Isso significa que os patrões das televisões vêem os portugueses como uma série de brutos que apenas querem circo político e violência verbal.
Tem-se falado muito de televisão, nos últimos dias. É um debate sem fim porque a programação televisiva é antes de tudo um negócio. Existe uma competição feroz entre os diferentes canais generalistas, que depois se traduz em vendas de anúncios. O preço da publicidade depende do número de telespectadores, das chamadas audiências. Cada canal está constantemente à procura do que possa ser popular e diferente do que a porta ao lado apresenta. A diversão pura e simples, fácil de entender e com a participação – passiva ou activa – do público alvo, parece ser a via mais segura para captar telespectadores. Nestas coisas, os únicos limites, as linhas vermelhas que não deverão ser ultrapassadas, são as que se referem à promoção da criminalidade, da ilegalidade e das ideias intolerantes, atentatórias da dignidade das pessoas.
Este não é um fenómeno tipicamente português. Assim acontece noutros países da UE.
O que é muito nosso, e muito mau, é a qualidade dos telejornais. Sobretudo, os da hora do jantar. Aí, estamos de longe na categoria do péssimo. Uma hora, ou mais, de banalidades, é inaceitável. Qualquer crítica dos canais generalistas portugueses deveria começar por uma análise demolidora do lixo que define os telejornais de maior audiência. São uma vergonha que precisa de ser constantemente denunciada.
Sou um telespectador acidental, no que respeita aos canais de televisão portugueses. Por várias razões, mas sobretudo pela má qualidade do que se mostra nos nossos ecrãs. Assim, mesmo quando me encontro em Portugal, passo ao lado.
Ontem, num momento de acaso, caí no debate que a RTP 1 chama “Prós e Contras”. Discutia-se Tancos, as Forças Armadas e os diferentes níveis de responsabilidade.
Dos presentes, apenas os dois generais sabiam da poda. O resto era conversa, académica, livresca ou simplesmente fora da substância. Confrangedor. Metiam-se os pés pelas mãos e confundiam-se conceitos básicos. Incluindo, como já vem sendo costume, defesa como se fosse segurança e vice-versa.
Para cúmulo, a moderadora mostrou uma vez mais o pouco jeito que tem para animar discussões que ultrapassem os temas de lana-caprina.
O programa da RTP1 “Prós e Contra” de ontem discutiu a questão dos cortes nas Forças Armadas. Foi uma emissão que me mereceu vários comentários:
A animadora do programa, a jornalista Fátima Campos Ferreira, não tinha estudado o dossier suficientemente, não estava a par dos números que são públicos, pareceu-me, várias vezes, perdida no meio dos generais;
Não houve contraditório, todos tinham a mesma opinião; teria cabido, neste caso, à animadora levantar pontos polémicos, mas não o soube fazer;
O Gen. Loureiro dos Santos, com o seu ar de velho lobo matreiro, tentou dominar o debate e aparecer como a alternativa à política de defesa do governo; dizem que gosta de protagonismo, mas a verdade é que a maneira como fala projecta uma imagem demasiado autoritária e uma certa matreirice que não ajuda a causa;
Nenhum dos oficiais generais presentes no painel conseguiu explicar claramente as missões actuais das FA, transformando o programa numa oportunidade desperdiçada e num mero ataque ao governo e aos políticos em geral;
Também não conseguiram responder aos que pensam que a contestação existe por razões meramente corporativistas, para defender interesses e vantagens numa altura em que outros estão a perder direitos e mesmo a procurar apenas sobreviver;
Porta-vozes de oficiais, sargentos e praças no serviço activo tomaram a palavra no programa, com declarações nitidamente políticas, o que poder ser considerado um acontecimento único, que não acontece nos outros países da NATO;
O antigo ministro da Administração Interna, Rui Pereira, parecia estar no debate com o à vontade de uma mosca a nadar num prato de sopa; não sabia bem o que deveria dizer e por isso foi dizendo umas coisas, poucas e sem peso;
O outro participante civil, não interessa aqui o nome, parecia ter sido convidado para acertar as contas, fazer de contrapeso, permitir chegar a seis; fora isso, disse umas generalidades.
Dizem-me que, num país em crise profunda, os deputados se entretiveram a votar uma recomendação sobre a grelha de programas da TV pública. Parece que aconselharam o governo a incluir no canal televisivo oficial uma série semanal sobre batatas e cebolas, couves-galegas e animais de capoeira, e por aí fora, tudo numa perspectiva indefinida e abstracta de uma TV Rural.
A razão deve ser, imagina-se, porque muitos dos habitantes desse país distante estão a voltar a viver ao nível de uma economia de subsistência. Sem contar, claro, que este tipo de resoluções mantém os deputados entretidos, sem que ninguém se lembre de os mandar às favas.
A sorte da RTP é há dias o assunto dominante na comunicação social. O tema deixa-me preocupado. É que não consigo ver, nem de perto nem de longe, a razão da importância dada a este assunto. Fico a duvidar da minha capacidade de entendimento do nosso país.
Se se desse a mesma relevância ao futuro da agricultura em Portugal, da economia do mar, da economia tout court, do emprego, entenderia melhor os meus queridos compatriotas.
A RTP1 abriu o noticiário nobre das 20:00 com uma reportagem sobre um discurso que um exaltado, com ares de maníaco-depressivo, proferiu algures no Algarve. O excitado profissional disse umas coisas sobre o serviço público de televisão. Deve ter sido por isso que teve honras de primeira página na televisão que todos pagamos. Foi uma raiva imoderada que meteu dó.
Confesso que ao ouvir, uma vez mais, os maus humores lunáticos e raivosos desse senhor, achei bem que o mesmo tenha decidido retirar-se da liderança do Bloco. É uma questão de consideração pela inteligência dos sete ou oito por cento dos portugueses que votam pelo Bloco de Esquerda.
Quanto à RTP, acho que está, de verdade, a precisar de pensar no seu futuro.
Vi hoje o vídeo do último "Prós e Contras", que esta semana debateu a austeridade e a Europa. Mesmo sem concordar com muito do que aí se diz, creio que vale a pena ver este vídeo, que está disponível no sítio da RTP.
Um aparte, no entanto: enquanto via a gravação, pensei como é possível que a televisão oficial de Portugal transmita estes programas a horas tão tardias? Começar um programa de uma hora e meia às onze da noite é dar mais um argumento a quem diz que os portugueses dormem tarde e a más horas, e que isso se reflecte na produtividade do trabalho, no dia seguinte.