Este blog foi dos primeiros a escrever sobre a catastrófica situação a que sucessivos governos e interesses partidários do chamado “centrão” conduziram a Caixa Geral de Depósitos. Os anos da governação Sócrates foram particularmente desastrosos para a Caixa, que foi emprestando dinheiro a torto e a direito, sem qualquer outro critério que não fosse o da roubalheira e da negligência criminosa. Os de Passos Coelho foram anos de empurrar o problema para a frente, a fingir que este não existia.
Agora o cidadão vai pagar uma vez mais a conta. Trata-se de pôr o banco de pé, dizem. Eu acrescento que se trata acima de tudo de criar as condições para que a interferência política volte a acontecer. Não houve vergonha no passado. Seria ingénuo pensar que a haverá agora e nos próximos anos.
Os partidos querem controlar os bancos para poderem satisfazer as suas clientelas. É o saque organizado sob o lema do banco público.
As 81 – sim, leram bem, 81 – perguntas que o semanário Expresso pretende submeter à consideração de José Sócrates são um absurdo jornalístico. Como se pode compreender que um jornal queira fazer dezenas e dezenas, quase uma centena, de perguntas a um só entrevistado? Irão publicar um livro, com as respostas? Um calhamaço? Na vastidão dessas perguntas há de tudo. Do importante ao trivial, assuntos ligados às acusações misturados com outros que têm apenas que ver com questões processuais. Sem contar que várias perguntas contêm mais do que uma questão e estão formuladas de uma forma enviesada.
A entrevista que o Expresso quer fazer revela que o semanário anda à deriva. Falta-lhe profissionalismo, foco, pertinência. Acima de tudo, bom senso. Mostram também que é um jornal à procura do protagonismo perdido.
Infelizmente, o projecto de entrevista vem apenas confirmar a tendência e apetência para a mediocridade profissional, um mal que invadiu as colunas editoriais e de opinião desse periódico. Veja-se quem escreve regularmente no Expresso, veja-se os nomes que foram recentemente acrescentados à lista dos colunistas habituais e entende-se a falta de qualidade, de direcção, de seriedade e de profundidade.
Com os acontecimentos da última semana, a credibilidade da classe política parece ter descido para níveis que põem em risco o funcionamento dos mecanismos e das instituições democráticas. Uma parte importante dos cidadãos viu nestes acontecimentos a corroboração da máxima populista e demagógica que quer meter todos os políticos no mesmo saco. Ou seja, os casos de polícia a que estamos a assistir vêm confirmar, na visão popular, a ideia de que a política é feita de oportunistas e de gente à procura do seu interesse pessoal. Com isto, é a democracia que sai enfraquecida.
A tarefa mais imediata de quem tem responsabilidades públicas deverá consistir em demonstrar que há gente séria na política – no poder ou com hipóteses de ser poder. Essa tarefa deve ter como complemento o reforço das instituições de controlo do poder político, para que os cidadãos possam acreditar que quem venha a pisar o risco e a abusar da autoridade que lhe foi conferida terá que pagar as favas.
A agenda política dos próximos tempos passa por essas duas avenidas. Como também deve passar pela questão da economia, do desenvolvimento do país.
O resto são distrações.
E quem anda distraído acaba por não chegar a lugar algum.
No dia em que todos falam da detenção do antigo Primeiro-ministro José Sócrates, apenas posso acrescentar que um acontecimento desse tipo é mais uma machadada profunda na credibilidade dos políticos que têm passado pelo poder – seja ele o poder central ou o local – bem como na imagem dos partidos tradicionais. Estamos, em grande medida, a abrir as portas a grandes mudanças no jogo político que tem sido o nosso.
Se você acredita na conversa das principais figuras da política portuguesa, presentes e passadas, o problema não é apenas seu. É de todos nós. A sua burrice junta-se à estupidez de muitos outros.
Em política, não é preciso usar palavrões e expressões boçais para que os outros entendam que se é decidido. É resoluto quem toma as decisões que se impõem, depois de pesados os prós e os contras. É isso que se exige a quem lidera. E que mostre, também, que sabe ser distinto no relacionamento com os outros, aliados e adversários. A elegância dá serenidade à política. E ensina-nos o respeito pelos outros. Que é coisa que muito ausente anda da vida política portuguesa.
Apesar da reunião da Comissão Nacional e do “Documento de Coimbra”, que considero um texto vago nalguns pontos e mediano em muitos outros, ou seja, um documento político sem futuro, a crise no interior do Partido Socialista não ficou resolvida. Os ataques a Seguro vão continuar. O grupo ligado a Sócrates tem como objectivo estratégico, acima de tudo, evitar que Seguro seja o próximo primeiro-ministro. A razão parece ser simples. Não terá muito que ver com as escolhas programáticas que Seguro possa vir a impor. Tem, isso sim, que ver com a escolha das pessoas que farão parte da sua equipa governativa, se chegar ao poder. É que gente do grupo do antigo primeiro-ministro pensa que não será incluída nas escolhas de Seguro. E isto de voltar a ser ministro é uma grande motivação para essa gente. Por que será?
Os notáveis do Partido Socialista, que foram ministros durante a governação de José Sócrates, passaram hoje a um novo patamar de ataque, na tentativa de substituir Seguro, o actual secretário-geral do partido, por um líder mais próximo dos seus interesses. O cavalo de batalha é a antecipação do congresso do partido, que esses antigos ministros gostariam que tivesse lugar tão cedo quanto possível. Por quê tanta pressa? Por acreditarem que o governo actual tem os dias contados e que irá cair num futuro cada vez mais chegado. E por estarem convencidos que Seguro perderia a liderança nesse congresso.
Temos assim, de um lado, um governo fragilizado e do outro, um líder de oposição cuja autoridade e imagem é minada pelos seus. É a política dos cacos partidos.
Os jornais escrevem hoje que o antigo PM de Portugal disse, recentemente, numa sessão pública, em França, que pagar a dívida é "coisa de crianças". Como se trata de uma personalidade que esteve seis anos à frente do governo do nosso país, eu não queria acreditar que tal afirmação tivesse sido proferida. Seria de uma irresponsabilidade sem limites, que só agravaria a posição externa de Portugal, que já não é das melhores.
Procurei na blogosfera que sempre defendeu o antigo PM e não encontrei qualquer referência ao assunto. Procurei declarações do partido que o PM dirigiu durante anos e também não vi qualquer menção de esclarecimento.
Fiquei mais descansado.
Pelo sim, pelo não, fui ver o vídeo sobre o assunto. É um filme de má qualidade. Na penumbra, ao fundo de um anfiteatro, aparece um homem sentado, com uma voz que poderia ser reconhecida, mas quem pode estar seguro, a dizer umas coisas estranhas, incluindo essa sobre as crianças e sobre estudos de teoria económica.
Que pena a qualidade da imagem ser tão ruim. Não dá para entender.
Noite eleitoral, num Portugal em crise. Virou-se uma página, criou-se um novo momento político, mas os tempos serão difíceis. Há que tirar, pelo menos, um lição dos resultados de hoje: sem vontade de diálogo não se resolverá grande coisa. O diálogo não é, todavia, um hábito muito enraizado na cena política portuguesa.