Paragem e paragens
Por motivos de viagem de longo curso, este blog fica parado até 26 de Maio de 2017
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Por motivos de viagem de longo curso, este blog fica parado até 26 de Maio de 2017
Muito ocupado, nestes últimos dias. E hoje tive que ir a uma reunião no Luxemburgo. O leitor talvez não saiba, mas certas estradas do grão-ducado estão permanentemente engarrafadas. Quaisquer 10 quilómetros podem demorar cerca de 45 minutos a fazer. Assim, fiz 200 quilómetros em duas horas e os 20 marcos que faltavam davam a impressão de nunca mais acabar.
Fiquei a pensar, uma vez mais, que a gestão da circulação nas grandes cidades vai ser um problema muito sério nos próximos muitos anos.
Estive em Addis Abéba nos últimos dias, depois de uma ausência de vários anos.
É sempre com emoção que volto à capital da Etiópia. A razão é simples: foi a primeira cidade de África que conheci. Cheguei a Addis em Julho de 1978 e aí começou o meu percurso africano de três décadas. Foi uma estada curta – uma semana –, num momento muito difícil para o país. O imperador havia sido deposto e assassinado uns tempos antes. Vivia-se uma época de grande repressão e de terror político, que ficou conhecida na história como o “Derg”, uma palavra que significa “comité”. Milhares de civis e militares foram executados às ordens do Derg, chefiado por Mengistu Hailé Mariam, um ditador sangrento que anos mais tarde haveria de ser meu vizinho de bairro em Harare, onde Mugabe o havia aceitado como refugiado político.
A obediência incondicional era então a palavra de ordem. E a miséria definia o modo de vida da população.
Hoje, a Etiópia é um país mais livre. Mas ainda muito controlado pelo poder político. A obediência já não terá o mesmo significado que tinha em 1978. Continua, no entanto, a desempenhar um papel importante no quotidiano das pessoas. Há mais espaço político, embora com fronteiras muito definidas. Pisar o risco é um risco grande.
A viagem hoje foi outra: correr de um lado para o outro da cozinha, a mando da Saskia, que, com dois anos, ri muito e manda mais. Tem muito jeito para misturar alegria com autoridade.
Para quem tem andado a correr de um lado para o outro, foi um dia que permitiu voltar a assentar os pés na terra e recordar o valor das coisas simples.
Cheguei esta manhã às margens do Mekong. O voo Bruxelas- Bangkok estava pelas costuras. O avião, um enorme 777, transportava imensos turistas belgas, que vinham passar uma semana ou pouco mais longe dos céus cinzentos da Bélgica. Impressionante, sobretudo numa altura de crise económica. O taxista que levara para o aeroporto de Bruxelas resumiu bem o clima actual: 12 horas de trabalho diário, nas ruas da capital da Europa, para levar 1600-1700 euros para casa, ao fim do mês. Um valor baixo, numa cidade cara como Bruxelas.
Fiquei novamente com a impressão que vivemos, na Europa, em cada país, em círculos diferentes. Os que estão fora da crise e os que estão dentro.
De Bangkok para Phnom Penh, um avião mais pequeno, um 737, mas tão cheio como o primeiro. Turistas, muitos deles australianos, e outros passageiros, sobretudo comerciantes. O Camboja tornou-se, nos últimos anos, uma atracção turística: uma parte da actividade económica tem que ver com os serviços prestados aos turistas. É, igualmente, um grande mercado para os artigos chineses, coreanos e japoneses.
As primeiras impressões são de que se trata de um país cheio de dinamismo, mas muito ingrato para com os mais fracos. O estado diz claramente que não tem meios e que por isso cada um tem que se desenrascar. Os salários são baixos, mas isso não impede que as ruas estejam cheias de motas de todo o tipo, o meio de transporte por excelência. Os motociclistas aparecem aos magotes. Atravessar a rua é uma aventura.
De viagem para muito longe. A escrita durante os próximos 15 dias vai ser muito irregular. Não creio que haja muita internet nos arrozais.
Copyright V. Ângelo
Saintes-Maries-de-la-Mer, Provença, dia de praia, às 11:00 da manhã.
29 graus em terra e 21 no mar.
Copyright V. Ângelo
Fachada principal da Universidade de Tartu, no sul da Estónia, esta manhã. A grande maioria da população de Tartu tem menos de 35 anos. A cidade faz-se toda a pé, com excepção das faculdades de agricultura e de veterinária, que estão à saída, na estrada que nos leva de regresso a Tallinn.
Muitos parques, vegetação abundante. Numa das ruas mais centrais concentram-se as vendedoras de flores. Mulheres de idade, a contrastar com a juventude que as rodeia, e de origem russa. As flores são lindas e como o resto, estão disponíveis a preços que imbatíveis.
A Academia Militar da Estónia e a Escola de Estado-Maior dos Bálticos, e não só, pois é frequentada por oficiais superiores vindos dos países do Cáucaso, da Alemanha e dos Estados Nórdicos, estão também localizadas em Tartu.
Tudo isto dá à cidade, que tem cerca de 100 000 habitantes, um ar descontraído, jovem, arejado e tolerante. É, além disso, uma terra muito segura. Apesar da cerveja que é consumida ao litro, sobretudo nestes dias de muito calor.
Copyright V. Ângelo
Imagens de Baku. A torre é um dos monumentos mais antigos da humanidade, sendo a parte mais baixa dos Séculos VIII-VII AC.
As duas outras torres, de vidro, perfazem, com uma terceira, que ficou fora desta foto, mas é mesmo ali ao lado, o símbolo de uma cidade que se renova de um modo acelerado.
Qual será a filosofia por detrás das dezenas ou mesmo centenas de novas torres que estão em construção, por toda a parte da cidade?
Em Baku, no fim de um dia cinzento, à beira de um mar ainda mais escuro, numa capital que se renova e acrescenta novos edifícios de grande luxo a uma terra que parece virada para o futuro. É, numa primeira impressão, um paraíso para os arquitectos modernos e para as grandes empresas multinacionais ligadas ao sector da construção.
O centro da cidade é um perigo para quem atravessa a rua. Os carros circulam com alguma velocidade nas avenidas mais largas e as passagens de peões não têm luzes. Dá para que fique paralisado, à beira do passeio, sem coragem para atravessar. Se a minha coragem não crescer, ficarei sem ver o pouco de histórico que há para ver.
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