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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Sobre o Burkina Faso

Ao longo da minha vida profissional, tive muitos colegas provenientes, nacionais, do Burkina Faso. Eram, em geral, gente de muito nível intelectual, a maioria de cultura cristã, mas muitos de formação islâmica. Não havia discriminação entre eles, o que reflectia a dimensão multicultural e tolerante do povo burquinabê.

O assassinato do Presidente Thomas Sankara, um pan-africanista muito respeitado, em Outubro de 1987, dividiu a população e iniciou um período de mão-de-ferro, dirigido pelo ajudante directo de Sankara e instigador da sua morte, Blaise Compaoré. Conheci pessoalmente Compaoré, que esteve à frente do Burkina Faso entre 1987 e 2014. Era um militar de poucas palavras, mas duro e ambicioso.

Também conheci Ousséni Compaoré, que era o comandante-geral da Gendarmerie e um fiel de Sankara. Teve de fugir quando o outro Compaoré organizou o golpe de Estado de 1987. Foi, então, recrutado pelas Nações Unidas, para trabalhar no Alto Comissariado para os Refugiados. Mais tarde, durante dois anos, exerceu as funções de Chefe de Estado-Maior do meu gabinete no Chade e na RCA. Recentemente, antes dos golpes actuais, foi ministro da Segurança Interna.

Também trabalhei com muitos outros, incluindo o principal líder da oposição, Zéphirin Diabré.

Todos ignoraram certas dinâmicas da sociedade burquinabê. A grande massa de jovens que vivem na capital e noutros centro urbanos e que não conseguem encontrar um modo de vida estável, digno e razoável. O impacto da desertificação sobre os conflitos entre grupos comunitários nas zonas rurais, áridas e incapazes de sustentar as populações agrícolas e pastorícias. O enfraquecimento contínuo e acelerado dos serviços públicos fora dos grandes centros urbanos, incluindo os serviços de segurança e de educação. A radicalização dos marginalizados, que passaram a ver no islamismo militante uma justificação moral para uma vida de banditismo.

E assim sucessivamente, num país sem recursos naturais, mas com uma população empreendedora.

Ou seja, o Burkina Faso é um caso de estudo, que pode ajudar a compreender o que se passa no Sahel.

E este ano já vai no segundo golpe militar. O primeiro foi ao nível dos tenentes-coronéis. Agora, foram os capitães. Entretanto, a segurança interna é cada vez mais incerta. Pelo menos 40% do território nacional é absolutamente inseguro.

 

 

 

 

 

 

 

 

Gstaad e o Sahel

A tempestade de poeira, que ontem e hoje se fez sentir na Península Ibérica, também chegou aos Alpes suíços. Gstaad, uma das cidades mais ricas e exclusivas da Suíça, também recebeu a poeira vinda do Saara. E os seus habitantes, quase todos gente que vive noutros pontos do país, mas que tem uma residência secundária na cidade ou nos arredores, lembraram-se, por uns escassos momentos, que há gente no Sahel que sofre esse tipo de tempo várias vezes ao longo do ano.

Aos meus amigos do Burkina Faso

Agora, foi no Burkina Faso. O golpe de Estado foi anunciado ao fim da tarde, depois de um fim de semana confuso. O país segue assim o exemplo de outros na região: o Mali, a Guiné-Conakry e no Chade, embora neste último caso a tomada do poder pelos militares tenha sido executada de modo mais discreto. O resultado é, no entanto, o mesmo.

As forças armadas dos países do Sahel têm sofrido enormes baixas, por causa da expansão do terrorismo na região. Têm revelado não estar preparadas, apesar dos programas de treino que a UE tem em curso, para combater o jihadismo. Queixam-se dos políticos dos seus países. Mas uma parte do problema reside no interior dessas forças armadas: há demasiada corrupção, a qual desvia meios que deveriam ser utilizados para os combates e que enriquecem alguns dos oficiais superiores. Os militares que estão na linha da frente nem sempre têm os meios necessários para enfrentar eficazmente os terroristas.

Também não têm a preparação adequada para a luta contra o terrorismo. Falta-lhes treino na área da ligação com as populações civis, não dispõem de serviços de informações (inteligência) eficazes, tratam mal os povos nómadas que se dedicam à pastorícia, e assim sucessivamente.

O Burkina Faso é um país muito pobre, situado numa zona árida, onde a sobrevivência diária é constantemente contrariada pela natureza e pela insegurança. Mas tem um conjunto de quadros de alto valor e uma população que sempre tem mostrado uma grande tolerância. É verdadeiramente penoso ver o país em desagregação, cada vez mais inseguro, e mais pobre.   

Um dia completo

O Presidente turco mandou bombardear um campo de refugiados curdos localizado bem no interior do Iraque. Estes curdos fugiram de perseguições na Turquia, tendo encontrado protecção no país vizinho, com o apoio de várias agências humanitárias e da ONU. Ao ordenar o ataque de hoje, Erdogan violou aspectos importantes da lei internacional e cometeu vários crimes, incluindo o crime gravíssimo de matar e ferir refugiados instalados num campo reconhecido pela comunidade internacional. A NATO não pode ter um membro assim.

Do outro lado do mundo, nos EUA, o ex-presidente Donald Trump falará daqui a pouco aos militantes do Partido Republicano. Espera-se todo um chorrilho de mentiras e de falsas acusações. Entretanto, o partido está mais louco do que nunca. Completamente dominado pelas fantasias de Trump, fez circular uma nova teoria conspirativa: durante a eleição de Novembro, os italianos enviaram drones que iam transformando cada voto por Trump num voto para Biden. É mais uma invenção extravagante, mas a verdade é que muitos eleitores republicanos acreditam nestas idiotices. O partido está num estado absolutamente lamentável. E Trump aproveita-se disso.

Mais ao sul, no martirizado Burkina Faso, aconteceu um novo extermínio de civis indefesos. A sua aldeia foi atacada por terroristas durante a noite passada. Ainda não se sabe exactamente quantas pessoas foram mortas, mas o número é superior a 135. Este ataque lembra-nos o drama que certas populações do Sahel estão a viver. Também nos diz que a insegurança continua a crescer. Com ela, vem mais miséria, deslocamentos de população, mais sofrimento.

Entretanto, decorreu a reunião dos ministros das finanças do G7. Houve acordo quanto à urgência de fazer pagar impostos às grandes corporações mundiais. É um passo em frente. Mas há que tornar a decisão efectiva. E isso irá demorar.

A confusão que se vive no Mali

Temos novamente uma situação política anómala no Mali, com a detenção pelos militares do Presidente e do Primeiro-Ministro. Ambos haviam decidido, durante o fim-de-semana, proceder a uma remodelação do governo que entrara em funções após o golpe de Estado de Agosto. Ambos os golpes, o de então e de agora, foram organizados pelo mesmo grupo de oficiais.

Esta situação acaba por ter um impacto sobre a presença de várias missões – ONU e UE – no país. Deixa várias questões no ar. Quem não consegue entender-se, ao nível da direcção política nacional, não está preparado para tirar proveito da ajuda internacional. E quem decide, em Bruxelas, Paris, Nova Iorque ou noutras capitais, tem que se interrogar se vale a pena ajudar quem anda perdido numa grande confusão política.

O Sahel está mais frágil e a França mais enterrada na areia

https://www.dn.pt/opiniao/novas-incertezas-aqui-ao-lado-no-grande-sahel-13600414.html

O link acima convida o leitor a ler a minha crónica de hoje no Diário de Notícias. 

Cito o último parágrafo desse texto. 

"São várias as questões que se levantam com o desaparecimento de Idriss Déby. O que motivou o Presidente Macron a deixá-lo sem o apoio habitual, quando em 2019 havia enviado caças para travar uma rebelião semelhante? Erro de cálculo? Quem está por detrás desta nova rebelião, conhecida como FACT (Frente para a Mudança e a Concórdia no Chade)? Que impacto terá a nova realidade no conflito na República Centro-Africana? Que esperar do G5 Sahel e da luta contra o terrorismo nesta parte de África? Cada uma destas interrogações esconde muitas incertezas e preocupações. O futuro da pobre população do Chade é delas a maior."

O Chade e a sua vizinhança

Foi anunciada hoje a morte do presidente do Chade, Idriss Déby, que havia sido ferido em combate durante o fim de semana, numa confrontação com uma coluna de rebeldes chadianos. A coluna é composta por um grande número de veículos – não há informação fidedigna sobre o número aproximado –, bem armados e com uma logística razoável. Esta rebelião levanta várias questões. A saída de cena de Déby ainda levanta muitas mais. E não são apenas questões internas. É toda a região do Sahel que poderá ser impactada.

O pó que vem de longe

Hoje uma parte de Portugal, o Sul pelo menos, teve a oportunidade de perceber os efeitos da desertificação que todos os anos avança em África. O céu esteve coberto de pó vindo do Saará. Já ontem havia acontecido o mesmo. Este fenómeno climático é cada vez mais extenso, atingindo agora partes da África Central e Ocidental que dantes ficavam de fora. E também se faz sentir na Europa, na Península Ibérica e na parte Meridional da França.

No Sahel, nesta altura do ano, em certos dias é impossível a um helicóptero aterrar. Não há visibilidade suficiente para isso. Aconteceu-me várias vezes. A única solução era voltar para trás.

Ainda sobre a política migratória da União Europeia

No meu texto de opinião de ontem, sobre a falta de coerência da política europeia de migrações, https://www.dn.pt/opiniao/a-europa-a-deriva-no-mar-das-migracoes--13473410.html, digo claramente que os países europeus não querem, de modo algum, passar novamente pela experiência que viveram em 2015, quando mais de um milhão de imigrantes e candidatos ao estatuto de refugiado chegaram em massa. Este é o grande receio europeu, no que diz respeito à imigração. Todas as medidas avulsas que vão sendo tomadas têm como objectivo evitar uma nova onda migratória. E cada país olha para a questão com base nas suas preocupações nacionais. Não há Europa, ou há muito pouco em comum, quando se trata de travar as migrações vindas de diversas partes do mundo. Por isso, a aposta continua a ser a de uma guarda costeira e fronteiriça forte bem como a ajuda às forças de polícia e militares nos países de origem dos migrantes e nos de trânsito. Aqui, a realidade é igualmente muito complexa. Os países fazem o jogo, como se estivessem a colaborar no controlo migratório, mas, na verdade, ficam satisfeitos quando vêem uma parte dos seus jovens sair à procura de um futuro melhor. As migrações são vistas por esses países como algo de positivo para as suas economias e para a estabilidade política. Assim se explica que, em geral, não colaborem com a União Europeia quando esta procura devolver aos países de origem os imigrantes que não são aceites, que não obtêm a legalização na Europa.

Uma cimeira para fingir que sim

O Primeiro-Ministro fez hoje uma intervenção, por videoconferência, na cimeira dos cinco países do Sahel que procuram, juntos, responder aos problemas do terrorismo e da violência na região. Falou porque Portugal ocupa a presidência rotativa da União Europeia. Foi uma comunicação breve, de pouco mais de sete minutos, diplomaticamente acertada. Foi uma oportunidade de pôr em evidência o interesse que Portugal tem pela região.

O problema é que estas cimeiras públicas não vão direitas aos problemas. Mesmo quando se faz referência às questões de contexto, que estão na base destas crises, a referência é feita de passagem, sem as interrogações que deveriam provocar um debate a sério. Cada discurso é apenas isso, um discurso, e depois cada um vai à sua vida e tudo continua na mesma. Ou seja, no caso do Sahel, muito mal, quer para os que sofrem os ataques quer ainda para os seis milhões de pessoas que foram empurradas para a pobreza e os dois milhões de deslocados, tudo por causa da insegurança, da falta de respeito pelos direitos humanos e pela indiferença que os líderes manifestam em relação aos cidadãos mais fracos.

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