O Presidente da Síria, Bashar al-Assad, chegou hoje à China para uma visita de vários dias. Desde o início da guerra civil e dos massacres que tem levado a cabo desde 2011, esta é a primeira visita de al-Assad ao estrangeiro, com excepção de duas ou três deslocações rápidas à Rússia.
O significado político desta deslocação é muito importante. A China convidou um protegido de Vladimir Putin que é igualmente um criminoso de guerra, aos olhos do Ocidente. Ao fazê-lo quer mostrar a sua independência total perante o Ocidente. Isto, apesar de continuar a insistir na necessidade de reforçar as relações comerciais com a Europa e os Estados Unidos.
É um jogo de ambiguidades. Permite à China jogar em dois terrenos ao mesmo tempo e tirar o maior proveito possível dessa duplicidade. E confundir o adversário.
O nono pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia foi aprovado na sexta-feira. Inclui três grandes áreas: tudo o que possa estar relacionado com a indústria militar; alguns bancos que ainda estavam fora da lista; e cerca de 200 personalidades e instituições ligadas a ataques contra civis e ao rapto de crianças ucranianas.
As sanções são importantes como a expressão inequívoca de um desacordo político e pelo impacto económico que possam ter sobre a continuação do conflito. É, no entanto, fundamental que existam mecanismos que evitem a violação dessas sanções, como também é necessário que as medidas atinjam os sectores cruciais, que tenham um impacto decisivo sobre a máquina de guerra.
Na situação actual, temos indicações que vários países estão a aproveitar-se do regime de sanções imposto pela União Europeia para servirem de intermediários entre a Rússia e o resto do mundo. Este é um tema que terá de ser analisado com todo o cuidado. E que pede respostas fortes.
Em 2021, a Europa comprou à Rússia 155 mil milhões de metros cúbicos (billions of cubic metres, bcm) de gás, ou seja, uma boa parte da exportação total de gás desse país, que foi de 210 bcm.
Actualmente, a China compra 10 bcm de gás russo e só dentro de três ou quatro anos poderá comprar à volta de 38 bcm.
O gás que a Rússia não vende à Europa tem de ser queimado em solo russo. Algum poderá ser liquefeito e exportado enquanto GNL, mas será uma pequena quantidade. Os navios utilizados pela Rússia para exportar GNL são construídos na Coreia do Sul. Este país aplica actualmente sanções à Rússia. E a tecnologia para transformar o gás em GNL vem das grandes multinacionais ocidentais. Não está disponível na Rússia.
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Agora, interrompo a escrita até Setembro.
Cito de seguida umas linhas do texto.
"Não é apenas o autocrático Viktor Orbán que alega que as sanções têm um efeito boomerang e que acabam por prejudicar mais as economias da UE que a russa. Temos por aí gente boa que também vê a coisa assim. E alguns até se julgam mais espertos que os dirigentes europeus, que, entretanto, já aprovaram sete rondas de sanções contra o regime de Vladimir Putin."
Creio ser útil voltar a falar sobre as sanções que a União Europeia e o G7 estão a impor à Rússia. Esse é um debate que não está concluído, apesar da UE já ter aprovado sete rondas de sanções. Os cidadãos que estão de acordo com as sanções são a maioria. Mas os que as criticam merecem ser tratados com atenção. A opinião pública deve ter uma visão clara do que se pretende obter.
Link para o texto que hoje publico no Diário de Notícias.
"Como já várias vezes referi, as sanções têm fundamentalmente três objetivos. Expressar uma condenação política. Reduzir a capacidade financeira que sustenta a máquina de guerra. E desconectar a Federação Russa das economias mais desenvolvidas, para realçar que há uma conexão entre o respeito pela lei internacional e a participação nos mercados globais.
As sanções deverão fazer parte de uma futura negociação de normalização das relações. Mas só poderão ser levantadas quando o Kremlin deixar de ser visto pela Europa e pelos seus aliados como um regime imprevisível e ameaçador."
O Conselho Europeu aprovou o sexto pacote de sanções contra a Rússia. Apesar de não ser um pacote tão forte como o esperado, por razões que têm de ver com a situação na Hungria, foi uma decisão importante. Mas a notícia deveras significativa de hoje é outra. A UE e o Reino Unido decidiram proibir os navios que transportem petróleo russo de segurar a carga e o navio nas praças de seguros de Londres ou europeias. Ora a praça de Londres é de longe a mais importante em matéria de seguros marítimos. Ao ficar inacessível desfere um golpe muito profundo na capacidade russa de exportar petróleo e os seus derivados por via marítima. Esta é uma das sanções que mais atinge as receitas externas da Rússia.
Defendi hoje que as reservas em divisas do Banco Central da Rússia, que estão congeladas em vários países ocidentais, sejam, na altura apropriada, apreendidas, expropriadas e utilizadas para reconstruir a Ucrânia e pagar as indemnizações de guerra. Uma agressão como a que está agora a acontecer deve acarretar grandes custos para o país que a executa. É uma questão de responsabilização. Cabe ao país agressor pagar todas as reparações e os custos da agressão.
Certos líderes europeus querem fazer uma omelete russa sem partir ovos e sem que isso lhes traga grandes dificuldades económicas. Como será possível pensar assim? Como se pode acreditar que uma confrontação com um vizinho, mesmo sendo justa, se pode levar a cabo sem custos para o nosso lado?
O Chanceler austríaco, Karl Nehammer, que lidera um país neutral, que não é membro da NATO, foi hoje a Moscovo. As conversações com Vladimir Putin foram muito directas e sem ambiguidades. Foi importante que o tivesse feito, mesmo sem conseguir nada de novo. Serviu para mostrar que não há vontade de diálogo no Kremlin e para lembrar ao agressor que a agressão tem um custo elevado. Além disso, Nehammer repetiu, e bem, a posição da UE em relação a este conflito.