Um tiro para o ar, sem que caia uma estrela
Levantei-me muito cedo, depois de ter dormido cerca de três horas e meia, para viajar num velho Transall C-160 francês, se calhar o mesmo que utilizei há vinte cinco, quando viajava na África Central com o Presidente Kolingba, um avião que já nessa altura era velho, ruidoso e inconfortável, mesmo para um esquadrão de duros da Legião Francesa, fugidos da justiça.
Voltei ao fim do dia, na mesma banheira voadora, para descobrir que o meu editor na Visão não tinha feito o seguimento do meu texto com a atenção necessária. Em vez de sair na Revista impressa de hoje, como estava previsto, o texto, uma obra-prima, diria eu, com muita modéstia, depois da fartura do Transall, acabou por sair apenas no on-line. O on-line é para meia dúzia de intelectuais, cansados da vida, alguns deles.
O meu editor teve sorte. Para já, estamos numa quadra festiva. Mais. Depois de um dia fechado naquela máquina que até voa e de mais de cinco horas de desfiles de escolas, academias, madrassas (escolas de ensino do Corão, onde as crianças passam anos da sua vida a recitar, de cor, o livro santo) , sem falar das marchas das forças vivas, meias-mortas pelo calor intenso que se fazia sentir, em Sarh, para comemorar um dia em que um golpe de força se transformou em jornada de liberdade e de democracia, que energias me restavam para enfrentar o editor?
Sem contar que de Sarh a Paço de Arcos há muita duna que nos tapa o horizonte.
Como não lhe posso dar um tiro, que é a maneira local, aqui onde me encontro, de resolver as disputas, limito-me a convidar os leitores a ver o sítio na Visão. Nos comentários, até poderão acrescentar uma pitada de sal à minha raiva de hoje.
http://aeiou.visao.pt/ano-novo-em-sam-ouandja=f542770
Uma leitura calma, é o que vos desejo.