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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Política com mel

Custa-me ver gente amiga politicamente fanática. Falo de amigos que andaram pelos bancos das universidades, fizeram boas carreiras profissionais, venceram, mais ou menos, na vida, mas que são excessivos e desvairados, quando se trata da política. Sobretudo quando se faz uma pontinha de crítica ao partido com o qual se identificam. Ficam fora de si. E fazem-me pensar que a política é algo de profundamente emotivo, que pouco tem que ver com a direcção mais correcta que deve ser dada à vida colectiva de um povo. Esses meus amigos lembram-me, então, que a política tem que ser ganha nos corações dos eleitores, não simplesmente nas suas mentes. Por isso, a narrativa tem que ter calor e alma, para poder ganhar o âmago de cada eleitor. Um discurso político meramente cerebral não leva muito longe. Fazer política e ganhar votos exigem uma grande proximidade e empatia com uma boa parte da população. A política é sobre o mel, não é sobre o vinagre.

 

Os repentes dos nossos intelectuais

Quem tiver a paciência de me ler, na edição de hoje da revista semanal Visão, saberá que escrevi sobre a recente Cimeira da CPLP. Também sobre algumas das suas actividades futuras, incluindo a realização de uma II Conferência Internacional sobre a Língua Portuguesa, em 2012.

 

Falo, igualmente, do papel de Angola, enquanto Estado a ocupar a presidência da Comunidade.

 

Não é fácil escrever de uma maneira fria sobre a CPLP. O leitor terá a oportunidade de o constatar, uma vez mais, neste número da Visão. Não apenas porque os nossos intelectuais são gente de sangue quente e de grandes paixões, sempre de sabre e caneta em punho, primariamente fixados num único ponto de ataque, mas também porque tudo o que trate das antigas colónias ainda levanta muitos sentimentos bravios.

 

O meu texto é, na minha opinião, sereno e objectivo. Está disponível no sítio:

 

http://aeiou.visao.pt/cplp-ou-vaca-sagrada=f567614

Boa viagem

Foi um dia de estrada. Oitocentos marcos, pela Franca abaixo. Paris, embora fosse Domingo, por isso, com menos transito, que muitas empresas estão fechadas, continua a ser um inferno de movimento, engarrafamentos, carros e motas aos milhares, e' impossível calcular quanto tempo vai demorar passar pela cidade das luzes e dos sonhos. Com o GPS aos comandos, sempre se vai por umas estradas por onde ninguém quer passar, o inferno do tráfego e' substituído pelos buracos feios dos bairros da periferia anónima, impessoal, cruel destruidora da alma das pessoas.

 

Já ao fim do dia, em La Rochelle, foi possível esquecer o pesadelo dos periféricos. O restaurante Les 4 sergents, recomendado por Michelin, ajuda a apagar os quilómetros. Na mesa ao lado, jantava um jovem, tudo muito bem comido e melhor regado, com os seus dois cães de estimação como companhia. Um no regaço, outro aos pés, os malandrecos portaram-se bem, mas gostaram imenso de ir provando as estrelas do chefe. A determinada altura, veio um prato de mexilhões, preparado com requinte, e um dos bichos ficou de olhar fixo, que os mariscos tinham bom cheiro e pareciam estar bem preparados. Tudo com excelentes maneiras, que nestas coisas recomendadas pelo Michelin, os Ingleses, os Franceses, eu por acaso, portam-se bem.

 

Não há crise, como diria o outro.

 

 

Morrer no exílio

José Saramago deixou-nos hoje. Sentimo-nos mais pobres. Foi um português que não teve medo de abrir novas frentes, ao desafiar constantemente a nossa maneira tradicional de pensar. Com ele, com as suas frases intermináveis e as suas alegorias, muitos de nós aprenderam a pensar sem barreiras. A deixar voar o olhar crítico sobre nós próprios. A saber que todas as interrogações são legítimas. 

 

Gente assim cabe dificilmente no Portugal que temos. Por isso, foi viver para a porta ao lado. É melhor para os nervos. E envia um sinal que poucos entendem, mas que deveria voltar à baila, neste momento da sua viagem definitiva para o espaço das memórias. A mensagem que continuamos a fechar os nossos horizontes, a viver agarrados à sotaina das ideias de outrora, num círculo de vistas estreitas, que acaba por excluir as mentes livres e criadoras.

 

Por isso, alguns continuam a morrer no exílio.

Crises e desafios

Depois de uma volta ao mundo dos conflitos, hoje foi altura de rever alguns dos traços mais salientes da economia internacional. No curto prazo, os elos fracos da cadeia, na UE -- a Espanha, em primeiro lugar, Portugal logo a seguir, por razões próprias e pelo efeito dominó da crise espanhola, da Grécia não vale a pena falar -- continuam a ser a preocupação mais premente. A prazo, temos os défices orçamentais de países importantes, uma nova crise do dólar, mais tarde ou mais cedo, e o impacto das crises sobre a estabilidade dos mercados e sobre os sistemas financeiros, os bancos, os fundos de pensão, as seguradoras, etc.

 

No caso da UE e dos EUA, a questão do modelo de desenvolvimento continua por resolver. Qual deverá ser o novo paradigma económico? Como também não há resposta para a questão da interacção entre o crescimento económico, as variáveis populacionais, o aumento do consumo per capita e os recursos naturais e ambientais. O problema do património ambiental é, aliás, um tema que tem que interpelar os filósofos, não apenas os cientistas e os economistas.

 

São toda uma série de variáveis que exigem que se faça uma reflexão estratégica muito aprofundada. Há aqui muito pano para mangas. Muitas interrogações sobre o futuro.

 

Entretanto, até deu para ver o desafio entre Portugal e a Costa do Marfim. Foi no aeroporto de Genebra. Eu viajava para um lado, que rumar para outros lados tem sido o meu destino, muitos portugueses viajavam para Lisboa. E o acaso fez bem as coisas. Primeiro, o instrumento de tortura, a televisão, encontrava-se ao lado da porta de embarque para Portugal. Muito cómodo. Segundo, os controladores aéreos franceses estavam, uma vez mais, em greve. Não querem mudanças, numa altura em que várias coisas são constantemente postas em causa. O que atrasou o voo e deu para ver a partida até ao fim. Só que uma das equipas andava no campo um pouco ao acaso das bolas e das artes de cada um. Não chega. Faltava uma linha orientadora. Um sentido, uma mobilização do grupo. Uma direcção clara. Uma vez mais pensei que o futebol e a política andam, de facto, de mãos dadas. Com uma liderança que ninguém entende e que alguns desafiam, a deixar recados que só fazem aumentar a confusão. A propor soluções que nada adiantam. Por isso, o resultado é que andamos todos muito empatados. 

Jardinagens

Enquanto limpava o meu jardim, esta manhã, tive uma percepção clara do que é uma erva daninha. Aparece isolada, ou em pequeno número, ganha raízes, com o tempo, e quando nos apercebemos, já ocupa uma boa parte do espaço. Chupa o solo, expulsa a grama, ocupa o terreno. Onde há dias havia coisa de jeito, hoje é só erva má, à nossa volta.

 

Os jardineiros têm que andar mais atentos. Ou arrancam a erva ruim, ou ficam com a horta completamente infestada.

Um ar pesado

 

Ontem, no aeroporto, vi-me frente a frente com um amigo de longa data. Foi um encontro fruto do acaso. Fiquei chocado. É um homem da minha geração, mas tem um ar cansado, triste e perdido no fundo de si próprio. De poucas falas, tenta sorrir e sai um esgar que me confunde. Toda a gente diz que teve sucesso, que a vida tem sido boa para com ele. O seu aspecto deixou-me na dúvida. Para mim, estava ali um homem a precisar de alguém que se ocupasse dele, um bicho do mato à procura de mãos suaves que lhe acariciem o pelo e tragam um pouco de tranquilidade.

 

A idade, e o sucesso, quando crescem juntos, à custa de muito esforço, têm um preço elevado. A certa altura, é tempo de fazer as contas à vida, comparar os ganhos e perdas, tirar o saldo e mudar de agulha.

 

Voltei para casa a pensar. E desejoso de me ver ao espelho.

Madeira precisa de uma onda de fundo

 

Tem que haver uma onda de fundo, de solidariedade nacional, para ajudar a Madeira. Os Portugueses têm que se mobilizar e mostrar que, nos momentos de grandes desafios, somos todos um só povo, uma nação unida pela dor e pela esperança.

 

Que a Madeira seja o estandarte do que há de melhor no coração do nosso País.

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