Neste dia do passamento de Boutros Boutros-Ghali, queria aqui deixar uma palavra de homenagem.
Boutros-Ghali foi Secretário-geral das Nações Unidas num período particularmente difícil. Durante o seu tempo, tivemos a primeira grande crise na Somália, o massacre no Ruanda e a violência generalizada nos Balcãs. Foram várias as ocasiões em que Boutros-Ghali entrou em choque com a Administração do Presidente Clinton, por causa de diferenças de apreciação sobre estas crises e a acção que seria necessária.
Como não poderia deixar de ser, os confrontos fizeram-no perder a hipótese de um segundo mandato à frente da ONU. Funcionou o direito de veto.
Servi Boutros-Ghali como seu representante na Gâmbia e depois na Tanzânia. No caso específico da Tanzânia, teve a coragem de me nomear para um país que até então só havia aceitado representantes residentes de origem africana. Boutros-Ghali era assim: um homem determinado.
Um dos consultores convidados para o exercício que está a decorrer em Stavanger é originário da Somália. Vive em Nairobi. Contou-me hoje que vai, de há ano para cá, com alguma frequência a Mogadíscio. Por razões familiares e também por ter adquirido uma quinta nos arredores da capital. A quinta é um investimento no domínio da pecuária. E uma boa indicação das mudanças que estão a ocorrer na capital da Somália. Pela primeira vez, depois de duas muito longas décadas, há uma luz de esperança no país. É verdade que a comunidade internacional tem dado um grande apoio à estabilização da Somália, incluindo no respeitante ao combate aos terroristas de Al-Shabaab e à pirataria. E é de esperar que continue o apoio. A normalização da situação nesse país terá um impacto de relevo na segurança dos seus cidadãos bem como na região, a começar pelo Quénia. E o Quénia bem precisa de voltar a crescer.
O Presidente dos EUA e o Primeiro-ministro do Reino Unido falaram, hoje, da relação privilegiada entre ambos os países. Classificaram-na de essencial.
Mencionaram as operações em que ambas as forças armadas cooperam, no Afeganistão, na Líbia e nos mares da Somália, contra a pirataria. Curiosamente, o Iraque não foi mencionado. Já saiu, a bem ou a mal, da lista das prioridades militares.
Referiram-se à cooperação diplomática e na área da inteligência e das informações de segurança. No combate ao terrorismo. O Sudão e o conflito israelo-palestiniano mereceram um lugar de destaque. O mesmo aconteceu com as transições democráticas no mundo árabe.
Não podiam deixar de discutir a situação económica. Nos seus países e de um modo mais lato. Da necessidade de criar empregos. De promover o investimento recíproco. De fazer avançar a investigação científica e tecnológica.
A Líbia foi o grande tema. A campanha militar da NATO arrasta-se. Tem custos elevados. E uma legitimidade tenue, que precisa de ser lembrada a cada passo. Sem contar no impasse político que é cada vez mais evidente.
A relação entre Washington e Londres pode ser, na verdade, essencial. Mas talvez se tenham esquecido que não é suficiente. Precisa de uma aliança mais ampla. Como também precisa de um ou dois casos de sucesso, para que se torne mais real e menos retórica.
Têm, alguns dos nossos analistas, escrito prosas intragáveis sobre o Iémen e o terrorismo. Aliás, o que se escreve em Portugal, sobre problemas internacionais é meramente académico, copiado de outros e de leitura a fazer perder a paciência.
O meu texto de hoje na revista Visão é simples, claro e dá uma perspectiva mais ampla do contexto regional em que se situa o Iémen.