Este é o link para o meu texto desta semana, hoje publicado no Diário de Notícias.
Trata-se de reflexão prospectiva sobre o futuro a curto prazo do regime talibã. Abordo a urgência humanitária, a situação económica e a questão do reconhecimento diplomático do novo regime.
"O reconhecimento do novo regime, incluindo a sua representação na ONU, vai depender da posição que cada membro do G20 vier a adoptar. Acontecimentos recentes mostram uma tendência para o estabelecimento de contactos pontuais, enquanto ao nível político se continuará a falar de valores, de direitos humanos, da inclusão nacional ou do combate ao terrorismo. E a mostrar muita desconfiança para com a governação talibã. Com o passar do tempo, se não surgir uma crise migratória extrema ou um atentado terrorista que afecte o mundo ocidental, o novo regime afegão, reconhecido ou não, poderá ser apenas mais um a engrossar a lista dos estados repressivos, falhados e esquecidos." Este parágrafo fecha o meu texto.
Participei hoje num longo debate, organizado pelo Clube de Lisboa, sobre as perspectivas a curto e médio prazo do Afeganistão. Existe um vídeo disponível.
O webinar mostrou a coragem das mulheres afegãs, representadas pela antiga deputada Shukria Barakzai. Continua em Cabul, falou a partir de lá e foi directa na sua critica do poder talibã.
A sua intervenção lembrou-nos que o Afeganistão de hoje é muito diferente, nas cidades pelo menos, do que existia há vinte anos. Muitos cidadãos, homens e mulheres, estão prontos para defender um país mais moderno, uma sociedade diferente da imaginada pelos talibãs. E nessa luta, as mulheres de Cabul desempenham um papel mais activo que os homens. São mais combativas.
O tuite vergonhoso do deputado do PS e a versão que se seguiu – foi tão má a emenda como o soneto – é uma das razões que me levam a escrever sobre a coragem das mulheres afegãs em vez de perder palavras com a maioria dos políticos portugueses. Essa coragem deixa muitos dos observadores totalmente surpresos. Os talibãs são uns selvagens armados até aos dentes. Ter a coragem de lhes dizer na cara que há direitos humanos que é preciso respeitar e que o Afeganistão de hoje não comparável ao que existia há 20 anos, merece a nossa admiração total.
Entretanto, o governo que foi anunciado em Cabul, e que por desleixo não incluiu o tal deputado entre os seus membros, anuncia uma governação retrógrada, feita de mulás e de gente que aprendeu a vida a praticar actos de terrorismo. É certamente uma péssima indicação do que está para vir.
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
Cito um parágrafo: "A agenda humanitária é uma boa porta de entrada para conversações mais amplas. É verdade que não se deve misturar o campo humanitário, que tem como objetivo único e primordial salvar vidas, com matérias políticas. A ajuda que atenua o sofrimento humano, impede o atrofiamento físico e mental das crianças e mantém vivas as pessoas é um dever da comunidade internacional, independentemente dos sistemas de governação e das escolhas ideológicas. Mas pode possibilitar a abertura de uma via de aproximação e de diálogo político."
A resolução sobre o Afeganistão, que foi tema do meu blog de ontem, foi aprovada por 13 dos 15 estados que compõem o Conselho de Segurança da ONU. A China e a Rússia abstiveram-se, apesar do texto ter sido trabalhado de modo a torná-lo menos imperativo e mais respeitador da nova autoridade que controla o Afeganistão.
No caso da China, ficou pouco claro qual foi a razão da abstenção. Quanto à Rússia, tratou-se, para já, de um favor feito à China, pois o representante russo disse que a abstenção se justificava por não haver no projecto de resolução uma qualquer referência ao Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, um grupo moribundo que a China acusa de levar a cabo acções terroristas na província uigur de Xinjiang. A verdade é que esse grupo está inactivo há já algum tempo.
A Rússia precisa da China. E a China olha para o Afeganistão com grande interesse. Ambos querem estabelecer boas relações com o poder talibã. Nessa competição, ganhará a China.
Neste dia em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução frouxa, para pedir aos talibãs que respeitem a promessa que fizeram de deixar sair do país quem tiver os documentos de viagem necessários, é preciso lembrar as realidades que a população está a viver.
Assassinatos sumários de membros das forças militares e de segurança, especialmente de mulheres com postos de responsabilidade no aparelho securitário que foi derrubado. Esses assassinatos estão a acontecer um pouco por toda a parte, sobretudo nos centros urbanos.
Repressão das mulheres e raparigas. Impedidas de ir trabalhar, de voltar às salas de aula. E os dirigentes confirmaram hoje à UNICEF que as raparigas só poderão frequentar o ensino primário.
Uma crise económica muito profunda. Não há dinheiro disponível, uma parte da economia não funciona e o país atravessa um período de seca muito grave, que provoca uma quebra significativa da produção alimentar. À crise económica seguir-se-á uma crise humanitária massiva.
Medo generalizado. As pessoas sabem o que significa uma governação talibã.
Ansiedade na região, que teme ver chegar um número impressionante de refugiados e um acréscimo do terrorismo, com grupos a operar a partir do Afeganistão.
Essas são as realidades. A resolução do Conselho de Segurança pouco mais é do que um tiro de pólvora seca. A França havia proposto uma resolução um pouco mais enérgica, embora fundamentalmente ligada às questões da evacuação e da ajuda humanitária, mas não conseguiu construir um consenso, que permitisse a sua aprovação. A atitude no Conselho é de esperar para ver. Ou seja, não agir quando o deveria fazer.
Anda por aí gente que, na sua ânsia de atacar os americanos e a NATO, até pintam os talibãs com umas tintas moderadas. E acrescentam que os ocidentais foram para o Afeganistão por causa das riquezas minerais do país, quando na realidade as poucas explorações mineiras que funcionam estão ligadas ao mercado chinês. E pagam aos talibãs para poderem continuar a operar.
Este é o link para o meu texto de hoje, no Diário de Notícias.
O texto centra-se em duas mensagens. A primeira, para sublinhar que a política internacional deve dar a primazia aos direitos e à dignidade das pessoas. A segunda, para defender que a nova situação no Afeganistão é um desafio regional e internacional muito importante. Por isso, exige um novo tipo de diplomacia, que procure sentar à mesma mesa o G7, a Rússia e a China.
Cito um parágrafo do texto que escrevi:
"O G7 deveria mostrar-se especialmente inquieto com o tipo de governação que os talibãs vão impor. A Rússia está consciente dos riscos para a estabilidade dos seus aliados na Ásia Central. A China está preocupada com a defesa dos seus interesses no Paquistão – os chineses não excluem um cenário em que terroristas paquistaneses e outros possam atuar, no futuro, a partir do Afeganistão e ameaçar o corredor económico que une a China ao porto de Gwadar, no Oceano Índico. Quer a China quer a Rússia teriam certamente muito interesse em participar nessa discussão com os países do G7. Assim se transformaria uma crise numa oportunidade de aproximação entre potências rivais. Ganhariam todos com esse tipo de diálogo, a começar pelos cidadãos do Afeganistão."
O atentado suicida junto a uma das entradas do aeroporto de Cabul mostra, uma vez mais, que para certos fanáticos não existem limites. A sua leitura extremista da religião, do inimigo e da política leva-os a praticar verdadeiras chacinas, como aconteceu esta tarde. É uma leitura incompreensível para quem acredita no valor da vida. Também é um comportamento muito difícil de combater, porque esses indivíduos estão dispostos a tudo, inclusive a sacrificar a sua própria vida.
Não é ainda claro que grupo levou a cabo este acto inumano. Terá sido uma facção ligada ao Estado Islâmico, que é profundamente inimigo não apenas dos ocidentais, mas também dos talibãs.
De qualquer modo, este crime abominável veio complicar ainda mais uma situação que já era altamente complicada. E dar uma indicação do que poderá ser o Afeganistão dos próximos tempos, em termos de lutas entre grupos rivais, de viveiro de extremismos e de perigos para o cidadão comum.
A reunião do G7 sobre o Afeganistão, presidida por Boris Johnson, foi um fracasso. Na realidade, foi um embate de todos contra Joe Biden, para pedir ao presidente americano o que este não pode fazer: manter uma presença militar no aeroporto de Cabul para além de 31 de agosto. A realidade mudou e quem manda são os talibãs. Precisam de mostrar firmeza perante as forças estrangeiras. Por isso, não irão aceitar uma extensão do destacamento militar ocidental no aeroporto.