Um dos meus primos viaja frequentemente, cada mês, entre Lisboa e Madrid, por razões profissionais. Aprendeu, com a experiência, que a única opção que funciona bem em termos de horários, pontualidade, serviço, rapidez de embarque e desembarque é a que a easyJet oferece. Ir com a TAP é um desastre: anulações, atrasos, aviões em mau estado, tripulação indiferente, etc.
Por isso percebeu bem o que aconteceu à minha filha que há dois ou três dias voou com a TAP para Zurich: meia-hora de espera na placa em Lisboa em frente do avião, que estava fechado e não tinha tripulação à vista, atraso na partida, as três pessoas da família dispersas na Business Class – tinham pagado essa tarifa –, número insuficiente de refeições sem carne, e uma tripulação arrogante, como é frequentemente o caso na TAP. Mais, uma das casas de banho não estava operacional, algo que a manutenção da TAP sabia desde a véspera, quando o avião fizera a viagem do Funchal para Lisboa.
Se esta é uma companhia de bandeira, como há por aí quem o repita, temos uma bandeira esfarrapada.
Sou dos que não vêem qualquer razão estratégica que justifique o financiamento público da TAP. Antes pelo contrário. A companhia aérea está inserida num mercado muito concorrencial e deve ser gerida de modo a poder competir comercialmente e a ganhar dinheiro. Tem aliás vários trunfos, nomeadamente no que respeita aos mercados africanos e brasileiro. A atribuição de subsídios provenientes do orçamento do Estado distorce a gestão racional da companhia e traduz-se numa carga fiscal adicional para os contribuintes portugueses. Nesta altura pré-eleitoral, um verdadeiro candidato reformista deveria pegar no assunto da TAP, sem receios, e propor um plano de desconexão.
Isto vem a propósito de uma cena que aconteceu hoje no aeroporto de Lisboa e que deve ocorrer praticamente todos os dias, ao que sei.
Uma centena de passageiros não puderam embarcar no último momento, já em frente da porta de embarque. A razão tinha que ver com a papelada exigida nalguns destinos, quanto à Covid. Tendo sido impedidos de viajar, não tinham outra hipótese senão dirigir-se ao balcão comercial da TAP. Aí só estavam disponíveis dois funcionários, um número absolutamente insuficiente para poder responder com a celeridade exigida à centena de casos individuais. Nestas circunstâncias, muitos dos passageiros tiveram que esperar na fila 3, 4 ou mais horas, até ser atendidos. A quase totalidade das pessoas era estrangeira e não conseguia nem entender nem manipular o sítio internet da TAP, de modo a tentar adquirir um bilhete ou voos alternativos. O sítio é complicado para quem não esteja habituado e, mais ainda, para quem não tenha conhecimento da língua portuguesa.
A certa altura os passageiros, cansados, stressados e furiosos por causa da espera começaram a gritar. Um verdadeiro pandemónio, em plena zona de trânsito do aeroporto. E pronto. Uma vez mais a imagem da TAP e de Portugal saíram mal na fotografia. Uma fotografia que é paga com o dinheiro de todos os portugueses.
Não conheço o plano de ajuda à TAP. Vejo, no entanto, que o sector da aviação é dos que conhecem um nível de competição mais elevado. Está, por outro lado, profundamente afetado pela crise da pandemia. Competição e pandemia são duas variáveis que são difíceis de projetar em direcção ao futuro, difíceis de prever. Qualquer investimento que venha a ser feito na TAP estará sempre cheio de incertezas. Eu não investiria dinheiro meu numa empresa de aviação, e muito menos numa empresa que tem uma cultura de funcionamento que não lhe tem permitido dar lucros desde há muito anos.
Também não me parece que no nosso caso, e com os poucos recursos que temos, se possa considerar a TAP uma empresa de interesse nacional estratégico. O tempo das empresas de bandeira já passou, para países como o nosso. Isso é válido no caso do Qatar ou dos Emirados, que têm dinheiro que sobra e uma grande necessidade de afirmação na cena internacional. Nós não estamos nessa situação. Não temos recursos para questões não-estratégicas e a nossa afirmação na cena internacional não passa pelas asas de uns aviões.
David Neeleman, o grande accionista privado da TAP, dá hoje uma grande entrevista ao Expresso. Entre outras coisas, fala dos atrasos sistemáticos que são a marca da casa TAP. Amigos meus, que viajam frequentemente com essa companhia aérea, queixam-se repetidamente dos atrasos dos voos.
Existem razões internas à TAP que provocam essa indisciplina em termos de respeito pelos horários. Não é apenas uma questão do funcionamento melhor ou pior do aeroporto de Lisboa. É um problema de cultura interna da companhia, que precisa de ser resolvido. Neeleman fala do assunto mas não acrescenta nenhuma solução que esteja em vista.
O Primeiro-Ministro de Portugal disse hoje em Bruxelas que a TAP volta para o controlo do Estado português, “com ou sem acordo”. Ou seja, à força, se for necessário.
Trata-se de uma mensagem clara. Para os esquerdistas da nossa terra, soará como música divina. Para os investidores, será mais um alerta.
No Brasil, a companhia aérea Azul funciona bem. É dinâmica, cumpre horários, tem uma excelente apresentação, cuida dos passageiros, sabe o que anda a fazer. Tive oportunidade de o confirmar, quando da minha última visita. Que seja o dono e gestor-mor dessa companhia, como hoje foi anunciado, quem ganha o concurso de privatização da TAP, em associação com um empresário português de sucesso, é uma notícia que não posso deixar passar despercebida.
Tinha uma viagem programada com a TAP para hoje à tarde. Porém, logo após o anúncio da longa greve de dez dias, pedi um voucher de reembolso e reservei o voo numa outra companhia.
Ainda tenho o regresso marcado para um voo da TAP, tendo em conta que essa etapa terá lugar já fora do período de greve. Depois, qualquer nova viagem com a transportadora nacional exigirá muita ponderação, muito cuidado na tomada de decisão. Não digo que deixarei de viajar com a TAP. Mas só o farei em reservas de última hora, quando haja um mínimo de certeza no que respeita à realização do voo e quando a diferença de preço e a conveniência de horário o justificarem.
Viajar com a TAP não é uma questão de patriotismo. É uma questão comercial e de pertinência dos horários. A ideia de companhias de bandeira já não existe. A TAP é uma companhia como qualquer outra. Deve ser medida por critérios de fiabilidade e de custos. Está inserida num sector extremamente competitivo, com margens de lucro cada vez mais apertadas. Por isso, tem que ter um comportamento que inspire confiança aos potenciais clientes. O que não é o caso com esta longa greve. E sem confiança não há futuro.
A decisão que os pilotos da TAP acabaram de tomar – dez dias de greve – é um erro de grandes proporções. Prejudica o futuro da companhia, que já está profundamente endividada, afasta potenciais investidores que ainda poderiam estar interessados na privatização da empresa, e tem um enorme impacto sobre o sector do turismo e do comércio a ele associado.
Espero que entretanto haja um regresso ao bom senso e que o anúncio de greve seja anulado.
A TAP é uma companhia de aviação. Não é, por muito que os velhos e novos senhores e senhoras da opinião retrógrada que se publica em Portugal pensem o contrário, nem um pilar da soberania nacional nem representa um sector estratégico indispensável para a projeção do nosso país no mundo. Aliás, se projecta alguma coisa, é uma imagem de falência, de indisciplina, de deixar andar e de arrogância. Enquanto companhia de aviação tem que saber competir num mercado que é altamente competitivo. Tem que ter rotas, serviços, eficiência e preços que a distingam das suas rivais mais directas. Tem, muito especialmente, que inspirar confiança aos potenciais utilizadores. E precisa de ter contas sadias.
A minha mala resolveu ficar mais uns dias em Amesterdão. Há mais de 48 horas que estou sem notícias dela. Para quem viaja com frequência, está a tornar-se claro que certos aeroportos estão a rebentar pelas costuras. Amesterdão é um deles. Demasiado movimento, ambição a mais em relação aos meios disponíveis, querer ser uma placa giratória a todo o custo, em concorrência com outros aeroportos da mesma parte da Europa. Quando algo não corre como está previsto, é uma carga de trabalhos até voltar a pôr a coisa nos carris.
Já há três semanas, na minha ida para os Bálticos, a mesma mala resolvera ficar 24 horas mais em Gatwick…Apesar de quase duas horas em trânsito, o pessoal de Londres achou que não dava…
Felizmente que a minha próxima grande viagem será de carro.