O ministro das finanças de um país cada dia mais irreal - fantasista, diriam alguns, tragicómico, retorquiriam outros - diz que anda por aí um submarino. Não se percebe bem para que serve, nas palavras do ministro, mas deve ter como missão secreta arruinar as contas públicas. Se assim é, então estamos de facto num país muito estranho, em que as finanças e a defesa parecem pertencer a governos opostos. E onde a incompetência dos que tratam das finanças navega nas águas submersas do nosso populismo. Só que o populismo é um mar de pouca visibilidade, com muitos perigos e pouca serenidade.
Creio que é altura de pôr os pés em terra. Estamos à beira do precipício, há já algum tempo. Em vez de se tentar contornar o buraco, anda-se à paulada, quando a terra nos está a fugir de debaixo dos pés. Os marinheiros do submarino serão certamente muito competentes para uma navegação escondida. Mas a marinhagem de terra está cada vez mais desnorteada. Dá provas, todos os dias, que não está à altura dos ventos que sopram. Incompetentes, diriam alguns. Incapazes, responderiam outros. Hesito entre uma opinião e a outra...
A crise económica portuguesa é muito grave. O país está cada vez mais endividado, as famílias mais pobres e o tecido produtivo continua à espera de modernização. A nossa capacidade de inovar é fraca. A preparação profissional, de muitos, é simplesmente insignificante. Mesma a produção de ideias é pouco criativa. Passamos as horas a copiar os outros. O acordo ortográfico é uma distracção sem sentido, que nos baralha ainda mais. A política, quando não anda a tratar de coisas periféricas, como o casamento entre duas cenouras, fixa as suas preocupações em protagonismos de gente que sente o tempo a fugir-lhes da vida.
Para quem tem vistas largas, tudo isto soa a miudinho. Não dá muito lugar à esperança. Mas, enfim, enquanto houver bacalhau e vinho tinto, o Domingo passa mais alegremente. O fundamental é, para quem está nas savanas das terras distantes, não ligar a RTP Internacional. Sobretudo se o Teixeira dos prantos estiver a falar das agências de rating e do orçamento fictício do Estado.
O senhor ministro, que não é nenhuma estrela, diz que seria preciso ler as estrelas para saber como responder 'a crise.
Com a cabeça nas nuvens, as mesmas nuvens que o não deixam ver os céus estrelados, não consegue entender que despropósitos desse tipo apenas contribuem para um agravamento da falta de confiança, que tão necessária e' para sair da crise.
A entrevista do Rodrigues dos Santos ao Santos das Finanças, hoje na RTP, foi surrealista. Uma espécie de pugilato no mundo da fantasia.
O Santos da TV, uma instituição falida que vive 'a custa dos impostos dos cidadãos, quando já devia ter sido declarada em falência financeira e substantiva, atirava-se 'as canelas do Santos "O pior Ministro das Finanças da Europa', com a fúria habitual do cão que morde a mão de quem lhe dá o osso. E o enjaulado cavalheiro das finanças lá ia repetindo que a crise anda mais depressa que os pobres ministros e e', por isso, difícil de prever.
O entrevistador em fúria contra o governante sem pedalada para a situação.
Estamos de facto cada vez mais patéticos.
Com Santos assim, nem uma nova aparição nos salva.
O insuspeito Financial Times, um dos melhores órgãos de comunicação social, ousou dizer, uns dias atrás, que o ministro das finanças de Portugal é o pior da zona euro.
Como o melhor é o senhor das finanças da Finlândia, e como estamos a chegar ao Natal, a solução seria a de enviar o nosso homem pouco-sorrisos fazer um estágio em Helsínquia e ao mesmo tempo ir pedir a bênção do Pai Natal. Talvez o PN -- não confundir com o PM -- lhe ponha um pouco de habilidade política no sapatinho.