A campanha de vacinação vai ser um cavalo de batalha política de primeira ordem. Certos governos e a própria Comissão Europeia serão acusados de não dar a prioridade necessária ao assunto e de incompetência. Estas bandeiras serão aproveitadas pelas oposições. E como são matérias muito sensíveis, questões de vida ou de morte, não deverá ser muito difícil mobilizar a opinião pública.
Veremos. Mas creio ser um assunto sobre o qual se terá muito para dizer. Para já, nota-se que a confusão já começou e que as campanhas de vacinação andam a passo de caracol, com uma ou duas excepções.
As semanas e os meses que temos pela frente podem ser um virar de página muito marcante. O panorama político poderá ser alterado muito substancialmente.
A diplomacia entra, a partir de hoje, numa nova era. Foi o dia em que Wikileaks deu a conhecer centenas de milhares de telegramas diplomáticos americanos. Um manancial de informação, bem como um tremor de terra, em muitas chancelarias.
Mas, há mais. Muito dos telegramas põem em causa o trabalho sério dos diplomatas genuínos. E criam problemas sem fim para os EUA e para alguns aliados.
Continuamos todos a viver as ondas de choque do terramoto do Haiti. Já passaram 48 horas e muitos dos nossos colegas continuam desaparecidos. Um ou outro caso, que fora dado como encontrado, revelou-se ser um engano, um erro de identificação, numa atmosfera de grande confusão. Ou seja, o que havia sido uma alegria para a família dessa pessoa, passou a ser um drama.
O Haiti precisa de água, comida e medicamentos, bem como de equipas médicas e de psicólogos. Para já, é preciso enterrar os mortos e tratar dos vivos. E garantir a ordem pública. Não há lugar para voluntários de boa vontade mas sem experiência. Estas situações exigem equipas altamente especializadas, bem preparadas e coordenadas.
Estes acontecimentos mostram que é fundamental fazer formação de voluntários em matéria de protecção civil. Existe muita gente, incluindo em Portugal, que estaria disposta a oferecer os seus préstimos em casos de crise como estas. Mas precisa de treino, de preparação. Sem contar, que, em caso de crise no nosso próprio país, essas pessoas estarão em condições de oferecer a primeira linha de resposta.
Trabalhei alguns anos como coordenador humanitário. O trabalho humanitário exige uma mobilização constante, pois nunca se sabe quando a crise bate à porta. É um trabalho duro, que exige nervos de aço e uma paciência de estatueta de madeira. Foi das funções que mais me custou a desempenhar. É que nestes casos, o sofrimento das pessoas é imediatamente visível, e a nossa impotência é, muitas vezes, ainda mais notória.